Direita extremista ganha força no Congresso em meio ao futuro incerto sobre democracia no País

A ex-ministra Damares Alves (Jorge William)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com a eleição de nomes ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a direita extremista no Brasil terminou as votações desse domingo, 2, ganhando força e ascendendo sua representatividade no Congresso Nacional. Incentivados por um discurso em defesa da “mudança”, da “família tradicional”, do autoritário e que pouco aceita os pensamentos adversos, essa ideologia política é vista por especialistas como um risco à democracia, que sempre se opôs à maioria no Legislativo.

“É um discurso que coloca em risco a democracia, os direitos tão duramente conquistados ao longo da história. Infelizmente, somos um País em que não há educação política, as pessoas não conseguem visualizar como as decisões políticas afetam o seu dia a dia e da comunidade. E é claro que essa deseducação não surge do nada, ela é fruto de um projeto de poder de uma elite que lucra cada vez mais enquanto, para as massas, o abismo social só aumenta”, analisou a advogada e ativista Luciana Santos.

Desde as eleições de 2018, a direita brasileira vem fincando raízes e conquistando cada vez mais eleitorado, liderada por seu chefe máximo: Jair Bolsonaro. Para se ter uma ideia, somente o partido do presidente, o PL, elegeu 99 deputados federais para a Câmara, conquistando a maior bancada em 24 anos — em 1998, o antigo PFL (que virou Democratas e, agora, União Brasil), teve 106 parlamentares eleitos no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

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Além disso, quatro ex-ministros do governo bolsonarista foram eleitos ao Senado, são eles: Marcos Pontes (PL-SP), Damares Alves (Republicanos-DF), Tereza Cristina (PP-MS) e Sergio Moro (União Brasil-PR), mesmo que este último tenha saído do Planalto brigado com o presidente. Ambos os agora senadores seguem a linha de direita e conservadora.

Nas disputas deste ano, apesar de Bolsonaro terminar o primeiro turno em desvantagem, com 43,20% dos votos contra 48,43% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o cenário indica que o atual mandatário continua influente nos Estados e um forte cabo eleitoral.

Para a advogada Luciana Santos, há uma política de morte (necropolítica) crescendo no País e o novo cenário construído com o crescimento da extrema-direita demonstra um retrocesso. “É o retorno do Brasil ao mapa da fome, o desemprego, as altas taxas de violência contra grupos em vulnerabilidade. Se você é mulher, LGBTQIA+, negro ou indígena no Brasil, você é assassinado apenas por existir. Há uma política de morte (necropolítica) crescendo no País.

“Não é a toa que os olhos da comunidade internacional estão atentos às eleições no Brasil e muitos foram os posicionamentos de preocupação com a democracia. E esse é outro ponto, o País perdeu um protagonismo que possuía nas relações internacionais e isso é muito ruim em vários aspectos, impactando, por exemplo, na economia. Por fim, esse cenário é um alerta para o campo progressista se voltar às bases, investir em educação política e educação para as diversidades (racial, gênero, religiosa)”, comentou.

Sempre se opôs

Para o sociólogo e analista político Luiz Antônio, é preciso olhar a realidade política brasileira sempre em perspectiva. O especialista destaca que a esquerda brasileira nunca foi grande o suficiente no Congresso, por outro lado, a extrema-direita sempre se opôs aos adversários, mesmo que ainda não tivesse essa denominação há alguns anos.

O sociólogo lembra que a bancada conservadora de extrema-direita tem um discurso poderoso e tem uso das fake news como ferramenta política. “Assim como em 2016, como em 2018, as fake news imperam no processo eleitoral. E quando falamos de fake news, é preciso deixar claro que elas não são apenas mentiras, mas mentiras contadas com a finalidade de causar dano ao outro e primeiro causado é sobre a democracia”, pontuou.

Em meio ao crescimento da direita extremista no País, o sociólogo Luiz Antônio alerta para uma necessidade de mudança de projetos políticos e sociais da esquerda brasileira.

“A esquerda brasileira, como a esquerda no mundo inteiro, precisa reconstruir seu projeto social e político, que é um projeto que está se esgotando. Que não consegue falar com aquela classe média assalariada do interior paulista, por exemplo, que não é fascista e neopentecostal, mas que ela não é ouvida e os programas no campo da esquerda não os alcança”, concluiu.

Direita no poder

Com uma ideologia ultraconservadora, a direita extremista ou extrema-direita costuma adotar uma postura rígida, com posicionamentos radicais para determinados temas e ligados ao pensamento nacionalismo. No Brasil, ela é apoiada por Bolsonaro, e vem obtendo números altos nas urnas.

Com 99,99% das apuradas até a manhã desta segunda-feira, 3, foram eleitos 273 deputados federais de partidos de centro-direita ou centrão, segundo o Poder 360. Somente o PL conquistou 99 cadeiras na Câmara. O União Brasil chega ao fim das eleições com 59 parlamentares eleitos.

Por outro lado, a federação esquerdista PT/PCdoB/PV obteve a segunda maior quantidade de cadeiras, elegendo 79 nomes. Outros partidos da base do presidente Bolsonaro, como o Partido Progressista (PP) e o Republicanos, tiveram 47 e 42 deputados federais eleitos. O PSD também fez 42 cadeiras.

Entre os governadores eleitos no primeiro turno, oito dos 14 nomes são bolsonaristas, como o do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), o do Paraná, Ratinho Jr. (PSD) e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Outros nomes apoiadores de Bolsonaro eleitos ao governo são: Wanderlei Barbosa (Republicanos), de Tocantins; Gladson Cameli (PP), do Acre; Antônio Denarium (Republicanos), de Roraima; e Mauro Mendes (União), do Mato Grosso.

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