Duas medidas para o mesmo peso

A expressão dois pesos e duas medidas, apesar de popular, é incorreta. Não podemos ter duas medidas para um peso. Isso sim, conduz à injustiça.
No dia 02 de junho passado, vimos uma tragédia em Pernambuco. A primeira dama do município de Tamandaré, em Pernambuco, mesmo em meio à pandemia fez com que sua empregada fosse trabalhar. A empregada, por não ter com quem deixar seu filho, levou a criança de cinco anos para o trabalho.

Ao cumprir a ordem de sair para passear com os cachorros de sua patroa, deixou seu filho de cinco anos ao cuidados desta, a patroa. O resultado já sabemos, e não vou me alongar nele. A criança morreu por negligência da patroa.

No dia 12 seguinte, aqui mesmo em Manaus, vivemos outra tragédia. Uma mãe de três filhos saiu pra entregar marmitas que vende pra conseguir sobreviver. Enquanto estava fora, um incêndio aconteceu e um dos filhos da vendedora morreu.

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No Recife, a primeira dama mandou sua empregada cuidar de seus cachorros, negligenciou uma criança, a criança morreu e arbitrou-se uma fiança de R$ 20.000,00. Hoje ela está em casa com sua família.

Em Manaus, a vendedora teve cumprida contra si uma ordem de prisão em flagrante por abandono de incapaz, foi presa, mas hoje (ao menos) responde em liberdade.

É aqui que chego às duas medidas diferentes pro mesmo peso.
Em ambos os casos há indícios de negligência que devem ser apurados. Em ambos os casos houve uma criança morta.

Agora, apenas uma das duas teve sua imagem preservada. Apenas uma das duas teve uma fiança arbitrada em seu favor. Apenas uma das duas recebeu uma ordem de prisão.

Uma das duas é rica. A outra é pobre. Adivinhem quem foi presa. Pois é.

Não estou dizendo neste artigo que eu gostaria que as duas fossem presas ou que as duas fossem inocentadas. Nem entro nesse mérito. Deixo aos advogados, juízes e promotores do caso. O que digo aqui é que o tratamento dado a uma “sebastiana” nem de longe de compara ao tratamento dado a uma “margareth”.

Uma agiu pra, sei lá, ver-se em paz, pois criança “é chata”. A outra saiu pra entregar marmitas.

Pode ser utópico, mas sim, eu sonho com o dia em que a justiça será realmente cega. Que as benesses legais de que desfrutam os moradores de luxuosos condomínios, sejam também asseguradas, pois devidas, a quem mora numa palafita. E que o rigor empregado numa viela sem asfalto, seja o mesmo empregado após a cancela de uma guarita.

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