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‘É visão de mundo e modelo de desenvolvimento’, diz Marina Silva sobre agenda ambiental no Brasil
Marina Silva, futura ministra do Meio Ambiente (Getty Images/BBC)
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31 de dezembro de 2022
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – Eleita deputada federal por São Paulo, após anos fora do parlamento, Marina Silva (Rede) será a nova ministra do Meio Ambiente no governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista à REVISTA CENARIUM, Marina destaca os principais pontos sobre a importância de uma agenda “verde” de propostas e de como esta deve ser compreendida. A seguir, leia algumas das declarações de Marina sobre a pauta que destaca o agronegócio, seus riscos e consequências para o Brasil, identificação de potências econômicas, visão de mundo e modelo de desenvolvimento que podem tornar o Brasil próspero e conectado às cadeias produtivas globais.
Na leitura de Marina, a disputa, principalmente, entre bancadas na Câmara Federal e no Senado, vai muito além do embate entre ruralistas e ambientalistas e se dará em um terreno mais amplo, sem esquecer o compromisso com o resgate atualizado da agenda socioambiental, classificada por ela como “perdida”, atualmente. Questionada decomo ela vê a configuração das bancadas no Congresso Nacional, dividido em relação às propostas que impactam na Amazônia, ela explica:
“Primeiro, para a gente entender a importância dessa agenda verde e como lutar por ela em um contexto de muito tensionamento, como o aumento da bancada ruralista pelo viés reacionário e conservador da base “bolsonarista” que se elegeu aí, com rios de dinheiro do “centrão”, é fundamental a gente compreender um pouco do contexto do que está acontecendo na Região Amazônica, com tudo aquilo que o então governo produziu numa agenda de imenso risco ambiental para a Amazônia, mas que não é só para a Amazônia, é para o mundo inteiro, porque a destruição da Amazônia é um ponto de inflexão na destruiçã, até mesmo no equilíbrio do planeta, uma vez que esse bioma é fundamental para o equilíbrio climático da Terra.
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Cisão de forças
A nova composição do Congresso Nacional, com deputados federais e senadores formando uma bancada mais conservadora, ascende o alerta quanto à votação de propostas relacionadas aos direitos indígenas, meio ambiente, comunidades tradicionais e questões de impacto para a Amazônia. Para a defensora das pautas ambientais, o enfrentamento dessa agenda não é apenas olhar para uma disputa entre parlamentares, mas para uma disputa de modelo de desenvolvimento.
“Considerando que a Amazônia é um grande vetor de emissão de CO2, em função do desmatamento, e que outros fatores, como contaminação da bacia dos recursos hídricos, com uso de mercúrio, em função do garimpo ilegal, que tem aumentado de forma assustadora, assassinato de ambientalistas, indígenas e ativistas, de um modo geral, tudo isso que está acontecendo no contexto das mudanças climáticas em que essa agenda assume papel estratégico para o equilíbrio do mundo e nas relações políticas, comerciais e de relações internacionais e cooperações no mundo, o enfrentamento dessa agenda não é apenas olhar para uma disputa entre parlamentares, é uma disputa de modelo de desenvolvimento, de perspectiva de continuidade da humanidade, aqui na Terra, ou da inviabilização dessa continuidade“.
‘Consequências para o Brasil’
A futura ministra atenta, ainda, que o Brasil não é uma ilha e não tem como se isolar dos riscos que estão acontecendo no mundo inteiro em relação à questão do risco climático, à perda de biodiversidade, dos esforços que estão sendo feitos para resolver o problema e das sanções que já estão sendo aplicadas para quem não quer se enquadrar nas regras e nos acordos que foram pactuados no âmbito dessas convenções.
(…) Esses prejuízos já são muito grandes. A gente não finalizou as negociações do acordo Mercosul com a União Europeia. A gente terá muita dificuldade de entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil já teve contratos que foram cancelados, de interesse comercial para a agricultura brasileira. Já temos perdas de investimentos, por um medo muito grande de investir no Brasil, caso se aprofunde esse cenário de desmonte de toda e qualquer política do meio ambiente e de qualquer problema de enfrentamento de mudança climática“, salienta Marina que complementa:
“Então, na minha leitura, a disputa ali no Congresso se dará nesse terreno mais amplo, em que o Brasil deve ser parte dos esforços e que, se não for parte dos esforços, além de se prejudicar com o aumento da temperatura, em que nós seremos os mais prejudicados porque somos um País vulnerável ao risco climático, ainda seremos prejudicados política, econômica e comercialmente. Então, digo que esse contexto é importante levar em conta.” conclui.
Visão atrasada
Marina destaca, ainda, a visão considerada por ela, “atrasada”, pela bancada ruralista, em favorecer o agronegócio na perspectiva deles, causando inúmeros prejuízos econômicos e comerciais. “Tem uma parte, inclusive, do agronegócio, que já está se distanciando dessa visão atrasada, que só cria prejuízo econômico, social e ambiental. Tem gente que não entendeu o que está acontecendo (…) e esses que não se atentarem nisso vão estar prejudicando os interesses daqueles que eles mesmos dizem que querem defender“, pontua.
Articulação da agenda
Silva ressalta que o País não ficará refém da agenda antiambiental. “É uma disputa em termos de visão de mundo, modelo de desenvolvimento, do que torna o Brasil próspero e conectado às cadeias produtivas globais, o que vai gerar ou não valor aos nossos produtos, o que vai ou não preservar as bases naturais do nosso desenvolvimento, que são, em última instância, aquilo que nos torna uma potência agrícola, pois, sem floresta e sem água, jamais seremos a potência que somos. A luta, agora, é trabalharmos tudo isso”, finaliza.
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