Em Brasília, organização indígena do Vale do Javari aguarda diálogo com Executivo para falar sobre problemas da Amazônia
23 de junho de 2022
Eliesio Marubo em depoimento na audiência pública conjunta das comissões de Direitos Humanos (CDH) no Senado Federal (Pedro França/Agência Senado)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
BRASÍLIA – “Tem muito as questões ideológicas. Certamente, se fosse evangélico ou indígena ligado ao agronegócio, já teria tido essa propositura”. A declaração dada pelo assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo, reflete, para a organização indígena, a postura do governo em reação às recentes mortes do servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips”.
“A gente não está fechado para o diálogo. Nós temos informações e estamos dispostos a conversar. Não tivemos, de forma alguma [interlocução], nem da Funai, nem de qualquer ministério, nem de ninguém ligado ao Poder Executivo, só do Judiciário e do Legislativo”, explicou.
O assessor jurídico da Univaja, Eliesio Marubo (Marcela Leiros/CENARIUM)
Na Câmara dos Deputados e no Senado, duas comissões externas foram instaladas para acompanhar as investigações sobre o que ocorreu no Vale do Javari. No domingo, 19, o procurador-geral da República, Augusto Aras, foi ao município de Tabatinga, próximo a Atalaia do Norte, onde se reuniu com membros da Polícia Federal (PF), Ministério Público do Amazonas (MP-AM), Secretaria de Segurança Pública (SSP) e da Univaja.
Criminalização
Marubo criticou ainda a política anti-indígena da Funai. O órgão, segundo ele, tentou criminalizar as ações de Bruno Araújo e Dom Phillips na terra indígena, além de atacar a Equipe de Vigilância da Univaja, criada para mapear e reunir dados sobre as invasões ao território que concentra o maior número de indígenas isolados do mundo.
“A Funai, desde o primeiro momento, tenta criminalizar as ações da EVU [Equipe de Vigilância da Univaja]. Diante da ausência da própria Funai, nós passamos a fazer o monitoramento da terra indígena: levantando informações, qualificando dados técnicos, fotos, filmagens, identificação de pessoas, quando entrou [na terra indígena], quando saiu, quantas toneladas levaram. Nós temos repassado isso para as autoridades. A Funai, nesse primeiro momento, realmente esteve perseguindo os trabalhos da EVU, tentando criminalizar as lideranças”, disse ele.
Uma das reivindicações dos servidores grevistas da Funai é que o presidente, delegado Marcelo Xavier, retire declarações que fez contra o indigenista Bruno Pereira. Xavier disse em nota que o indigenista não tinha autorização para entrar em terras indígenas. Logo após, foi constado que ele havia pedido autorização à Coordenação Regional da Funai e seguiu todos os protocolos do órgão.
“A política pública, na verdade, não existe porque o órgão que deveria atuar fortalecendo e protegendo [os indígenas] é justamente o órgão que trabalha no sentido contrário. Ainda não entendi a lógica desse governo, não entendi a lógica da Funai, ainda”, acrescentou.
“Fico à disposição para falar sobre os problemas da Amazônia e do Vale do Javari”, acrescentou, por fim, Eliesio Marubo.
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