Em Rondônia, MP pede inconstitucionalidade de decreto que libera garimpo no Rio Madeira


21 de janeiro de 2022
Em Rondônia, MP pede inconstitucionalidade de decreto que libera garimpo no Rio Madeira
Balsas foram destruídas nessa quarta-feira, 12 (Governo de Rondônia/Reprodução)

Iury Lima — Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) — Para impedir que cenas como as que correram o mundo inteiro no fim de novembro, escancarando a corrida pelo ouro no Rio Madeira, na região do Amazonas, se repitam em Rondônia, o Ministério Público Estadual (MP-RO) entrou na Justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra o Decreto nº 25.780/2021, que libera o garimpo no mesmo afluente, o mais importante para o território rondoniense. 

A ADI foi aberta nessa quinta-feira, 20, pois no entendimento do Ministério Público “o decreto, que autoriza o garimpo no trecho compreendido pela Cachoeira de Santo Antônio e a divisa interestadual com o Amazonas, extrapola a competência regulamentar”, visto que apenas a União poderia legislar a respeito, sendo o Madeira, um rio federal.

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Pepita de ouro extraída do Rio Madeira, em Porto Velho (Reprodução/Rondônia Manchete)

O decreto de Marcos Rocha

De autoria do governador do Estado Coronel Marcos Rocha (PSL), o decreto foi publicado em janeiro de 2021 e completa um ano em vigor no próximo dia 29. O documento autoriza o licenciamento ambiental da atividade por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam-RO), o mesmo órgão que até então realizava fiscalizações e apreensões de balsas de garimpeiros sobre o Madeira

Segundo o governo, regulamentar a mineração se trata de uma “necessidade”. O Executivo diz ainda que a Sedam irá emitir certidão ambiental de regularidade para as dragas e balsas “autorizadas a operar na área que for objeto da licença”.

Para o governo no comando de Marcos Rocha, regularizar o garimpo “é uma necessidade” (Carolina Antunes/PR/Reprodução)

Os deputados estaduais Eyder Brasil (PSL), Jair Montes (PTC), Neidson Barros (PMN) e Alex Redano (Republicanos), este último, o presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO), participaram da construção do decreto. 

Além disso, Alex Redano, à frente da casa de leis do Estado, é um importante aliado de Marcos Rocha nas pautas que vão na contramão da preservação ambiental na terceira Unidade Federativa que mais degrada a Amazônia. Em audiência pública, no dia 8 de dezembro, o político defendeu a mineração, ouviu as demandas de sindicatos de garimpeiros e propôs regulamentar a profissão

“Nós devemos estender o tapete vermelho para quem produz (…) e temos que dar condições para as pessoas trabalharem. Então, a ideia da audiência, realmente, é trazer uma segurança jurídica aos garimpeiros”, disse.

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Presidente da Assembleia Legislativa, Alex Redano é importante aliado de Marcos Rocha nos retrocessos ambientais (ALE-RO/Reprodução)

O que diz o Ministério Público

Para autorizar a garimpagem na região de Porto Velho, Marcos Rocha revogou a legislação que barrava a prática, protocolada em junho de 1991, pelo então governador Osvaldo Piana: o Decreto de n° 5.197. Segundo o MP-RO, “a referida autorização foi feita sem qualquer estudo dos impactos ao meio ambiente e à saúde pública causados pela atividade do garimpo”.

“A ADI, assinada pelo procurador-geral de Justiça Ivanildo de Oliveira, detalha que, passados quase 20 anos da edição do decreto que proibia a extração de minério ou garimpagem no determinado segmento do Rio, em 29 de janeiro de 2021, o chefe do Poder Executivo regulamentou o licenciamento ambiental da atividade de lavra de ouro em corpo hídrico no Estado, autorizando a extração do mineral em rio interestadual, bem como a utilização de substâncias químicas no exercício da atividade”, disse o Ministério Público de Rondônia à CENARIUM, em nota.

O órgão também reafirma que “o Rio Madeira é interestadual e navegável, sendo, portanto, um bem da União, não podendo, por isso, o Estado de Rondônia dispor sobre o tema”. “Diante desses e outros fundamentos, o MP-RO requereu a concessão de medida cautelar, solicitando a suspensão dos dispositivos questionados até o final do julgamento”, finalizou o documento.

Governo não se posiciona

Como de costume, novamente o Governo de Rondônia se absteve dos questionamentos feitos pela reportagem da REVISTA CENARIUM e não se manifestou até o fechamento desta matéria.

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