Em RR, mais de 40 crianças Yanomami estão internadas; oito delas na Unidade de Terapia Intensiva

Criança Yanomami internada em hospital de Roraima (Edmar Barros/AP)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

BOA VISTA – A Prefeitura Municipal de Boa Vista informou nesta terça-feira, 31, que mais 54 indígenas estão internados no Hospital Infantil da capital. Desses, 44 são crianças Yanomami e oito estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). As principais causas dessas internações são: doença diarreica aguda, gastroenterocolite aguda, desnutrição, desnutrição grave, pneumonia, acidente ofídico e malária.

A crise humanitária indígena que afeta os Yanomami levou, somente em 2022, a 703 internações de indígenas no Hospital da Criança de Boa Vista. Desses, 58 foram por desnutrição. Uma enfermaria foi preparada para receber os indígenas da etnia Yanomami, na tentativa de respeitar a cultura e a tradição dos indígenas, inclusive, com leitos-rede para crianças e acompanhantes.

De acordo com o pediatra Eugênio Patrício, responsável pelo acompanhamento das crianças que chegam à unidade em busca de atendimento, a maioria das crianças Yanomami estão com desnutrição grave e precisam de alguns cuidados maiores, inclusive, cuidados na Unidade de Terapia Intensiva.

PUBLICIDADE

Assim como outras crianças, principalmente, as com infecções graves como pneumonia e, no caso do paciente desnutrido grave, a maioria que está chegando, aqui, é da etnia Yanomami. Isso piora mais ainda, pois a desnutrição leva a um processo de deficiência imunitária e o organismo não consegue combater infecções que deveriam ser simples, mas no caso deles, se torna complexa e faz com que precise de terapia intensiva”, explicou o médico.

Um intérprete também auxilia na comunicação entre os profissionais, pacientes e acompanhantes. A alimentação é diferenciada, de acordo com o hospital, conforme a preferência de cada etnia. A equipe nutricional adequa o cardápio do paciente, com alimentos como macaxeira, peixe com farinha e frutas regionais. No hospital de campanha montado em Boa Vista, em três dias, 150 pessoas receberam atendimento médico.

Inquérito

O Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR) quer analisar também como as ações e omissões de gestores e políticos podem ter contribuído para a situação atual das comunidades que vivem na Terra Indígena Yanomami (TIY). Os agentes públicos foram alvo de representações feitas por partidos políticos e entidades da sociedade civil encaminhadas à unidade de Roraima.

Com base em procedimentos já em curso, o MPF entende que já há um vasto acervo de evidências para a imediata responsabilização do Estado brasileiro. “Tal acervo revela um panorama claro de generalizada desassistência à saúde, sistemático descumprimento de ordens judiciais para repressão a invasores do território indígena e reiteradas ações de agentes estatais aptas a estimular violações à vida e à saúde do povo Yanomami”, descreve o documento que determina a instauração do inquérito civil.

Repúdio

Uma declaração do governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas) foi amplamente reprovada por pastorais e movimentos sociais de Roraima, que divulgaram uma nota onde repudiam o “posicionamento na fala desumana e leviana” do governador sobre o povo Yanomami, ao alegar que não existe desnutrição e que “…eles têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho”. (Veja a íntegra da nota)

“Os comentários são racistas, preconceituosos e desumanos, além de uma falta de respeito e sensibilidade, neste momento em que várias vítimas Yanomami estão morrendo por malária, desnutrição aguda, entre outras doenças que poderiam ter sido evitadas”, aponta um trecho do documento.

Vergonha

Em entrevista à BandNews TV, nesta terça-feira, 31, o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que vai a Roraima na próxima quarta-feira, 8, acompanhado de comandantes de todas as Forças.

Ministro José Múcio Monteiro anuncia que vai a Roraima na próxima semana (Pedro Ladeira/Folhapress)

“Eu estou indo lá para Roraima, para Surucucu, com todos os comandantes das Forças, Exército, Marinha e Aeronáutica. Também convidamos o superintendente da Polícia Federal, tem que ter um esforço concentrado para que todas as instituições, órgãos, para que nós possamos sanar aquele problema. Aquilo é uma vergonha, é uma tristeza”, afirmou Múcio.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.