Especial Mamirauá – Punã, comunidade da Amazônia que é símbolo de resistência e resiliência

Com a graça interiorana de toda e qualquer região longe da cidade, a vila é símbolo de resistência, resiliência e planta sementes entre os mais novos. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
Fotos: Ricardo Oliveira – Da Revista Cenarium

PUNÃ (UARINI-AM) – Punã é uma pequena e doce comunidade do município de Uarini (distante 733 quilômetros da capital Manaus), no meio do Amazonas, cujo único acesso é por meio da água. Com a graça interiorana de toda e qualquer região longe da cidade, a vila é símbolo de resistência, resiliência e planta sementes entre os mais novos.

Comunidade pertence ao município de Uarini-AM (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Na pacata comunidade com cerca de 130 famílias e pouco mais de 900 pessoas, a fauna e a flora se encontram com as casas arquitetônicas de madeira que remotam a um passado distante e que atravessam o tempo. Um lugar paradisíaco que deixa qualquer amante da natureza agradecido, por conta da estonteante imensidão de verde que se mistura ao azul-marinho do céu, as nuvens e as águas do rio Solimões.

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Nessa quarta-feira, 30, a REVISTA CENARIUM viajou 512 quilômetros de Manaus, capital do Amazonas, até o município de Tefé. O trajeto até a comunidade, que fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, é feito de barco. Os moradores contam que, quando o rio está em época de vazante, o trajeto até a região ocorre ao longo de uma 1 hora e 40 minutos, mas, no período de cheia, as embarcações podem ‘perfurar’ a floresta, numa espécie de atalho para chegar até Punã, fazendo com que o caminho seja feito em pouco mais de uma hora.

Pesca é uma das principais rendas dos moradores (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

As boas-vindas aos visitantes ficam por conta do prédio histórico Casa Punã, construído durante o ciclo da borracha, no início do século XX, para ser usado como um centro comercial. O local de pouco mais de 100 anos estava abandonado, mas foi reformado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e pelos moradores de Punã, e entregue no início deste mês. Hoje, a instalação está sendo utilizada como espaço para resgate cultural e do saber tradicional regional, além de ser usado como ponto para elaboração de projetos que visam a geração de renda.

Na comunidade, cujo nome vem de origem indígena e é a definição de uma árvore da Amazônia da família Miristicáceas e suas espécies apresentam uma seiva colorida, a gratidão pela vida e pela oportunidade de viver na região perdura entre os moradores. Poucas são as pessoas que querem morar na cidade, algo que para o jovem José Renato de Lima Vieira, de 20 anos, nunca vai ocorrer.

“Prefiro a vida no interior. Aqui é o melhor lugar para se viver. Já passei por um bocado de cidade, mas aqui está minha família”, conta o jovem.

Jovem açaizeiro, José Renato, de 20 anos, tem um filho e vive do extrativismo (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Renato é pai de um menino de um ano e mora na casa própria com a mulher. A base econômica do rapaz surge do extrativismo do açaí e da pesca. Quando é tempo de colheita, ele apanha o fruto para venda e consumo próprio.

A colheita dos açaís é feita sob encomenda (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

“Apanho o açaí já sob encomenda na cidade. Transporto duas sacas [de açaí] no máximo. Quando a época é boa, o preço da saca pode chegar a R$ 200. Mas o açaí não dá para ser uma renda diária, porque ele só dá em algumas épocas do ano”, lembrou.

Ruan Vieira Lima, de 20 anos, que nasceu numa comunidade de Alvarães, conta que já morou em Manaus durante a infância e a adolescência, mas que encontrou em Punã a vida que almeja. O jovem vive da produção de farinha de mandioca e, quando quer beber açaí, ele mesmo colhe o fruto e toma o vinho. “Já morei na cidade, mas não tenho vontade de retornar. Gosto da vida aqui”, afirma.

Ruan já morou em Manaus, mas prefere viver em Punã (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Para Lorem Miguel Diamantino, de 20 anos, a comunidade representa o local onde ela e os demais moradores podem juntos buscar alternativas para o desenvolvimento. Ela conta que, apesar da comunidade estar afastada das “cidades grandes”, as oportunidades para as próximas gerações de moradores também estão na comunidade.

“Aqui aprendemos a cuidar da comunidade para deixar para os mais novos que estão nascendo. Sou punãense e, mesmo não crescendo na comunidade, aqui estão minhas raízes e vejo um futuro onde todos podem colher o que estamos plantando. Para isso, precisamos trabalhar e ser persistentes”, conclui Lorem.

Resgate

O líder comunitário Alcione Meireles Rodrigues, de 45 anos, é agricultor e produtor de farinha de mandioca. Ele mora na comunidade Nossa Senhora de Fátima, a meia hora de barco de Punã. Alvione conta que a mãe morou na comunidade por mais de 20 anos e, durante muito tempo, os moradores sonhavam em construir uma região que pudesse ser atrativa e que valorizasse a cultura local.

“Hoje, com o apoio do Instituto Mamirauá e da FAS, lutamos pelo resgate cultural. Somos uma comunidade ribeirinha que temos um potencial muita grande de produto, basta querermos avançar”, concluiu.

(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
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