Especialistas comentam como alinhamento ideológico tem pautado as relações sociais


22 de julho de 2020
Especialistas comentam como alinhamento ideológico tem pautado as relações sociais
Desde as eleições de 2014 muitas pessoas têm cortado relações com amigos e familiares por questões políticas.(Juca Varella/Agência Brasil)

Carolina Givoni – Da Revista Cenarium

MANAUS – O espaço utilizado nas redes sociais ampliou a participação popular nos processos decisórios dentro dos três poderes da República, possibilitando o debate aberto sobre conceitos e maior alinhamento ideológico entre os vários espectros políticos. Por conta da inclusão digital, agora três em cada quatro brasileiros acessam a internet, equivalente a 134 milhões de pessoas, segundo informações da pesquisa TIC Domicílios 2019.

Desde as eleições de 2014 e do Impeachment da presidente Dilma Roussef (PT) em 2016, muitas pessoas têm cortado relações com amigos e familiares por questões políticas. É o caso de Clara Vinente, 28, executiva de vendas.

“Percebemos que as pessoas têm ficado cada vez mais intolerantes e adotado discursos de ódio, como se fossem opiniões. Ninguém precisa defender cegamente um líder de Estado. Deixei de seguir amigos, parentes e conhecidos que concordam com absurdos ditos pelo presidente. Humanidade e empatia sempre devem estar presentes em qualquer debate”, explica.

Para o administrador de empresa Marcos Paulo, 39, o presidente tem sofrido boicotes, e precisar ser apoiado pela população que o elegeu.

“Ninguém vai admitir novamente um petista no poder. O Bolsonaro é diferente, um pouco polêmico, mas é um cara que preza pelos valores tradicionais. Ele precisa de apoio, pois é diariamente tripudiado. Ele ainda tem mais dois anos de mandato, vamos avalia-lo por completo. Eu acredito que muitas pessoas distorcem o que ele fala, para justamente criar manobras para ataques pessoas, e ele à altura responde”, defende.

Polarização

Segundo o cientista social e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil, desde 1964, não se via uma polarização tão grande.

“Naquela época, o acirramento das posições diluiu o PSD, centro, e acabamos no golpe militar. Durante uns 40 anos, vivemos sob um certo ‘consenso democrático’, cuja maior prova é a constituição de 1988 e seu projeto cidadão de bem- estar social. Desde 2018, ou até antes, em 2016, vimos o centro se diluir no impedimento de Dilma, na posse de temer e no crescimento de Bolsonaro”, pondera.

Gil ainda afirma que os extremos devem manter a distinção de valores e ideias que tomaram o centro das redes sociais, levando a polarização para temáticas variados.

“A radicalização não diminuiu desde então, atingindo todas as áreas da sociedade e do cotidiano. Pelo nível dos debates políticos, que incluem acusações policiais e ofensas pessoais, não vejo que em curto prazo esse clima de animosidade diminuirá”, conclui.

Esquerda x Direita

Para compreender melhor os conceitos de esquerda e direita significam, o jornal Estado de São Paulo conversou com os cientistas políticos Claudio Couto, professor e coordenador do Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo; e Leonardo Avritzer, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Claudio Couto diz que essas distinções remontam à época Revolução Francesa. “Na assembleia Nacional, os que defendiam as mudanças e o fim das desigualdades entre nobres e plebeus sentavam à esquerda do presidente da Assembleia, e os que defendiam a manutenção das coisas como estavam e, consequentemente, a monarquia e a ordem estabelecida – que era de desigualdade entre estamentos – sentavam à direita. Daí surgiu essa terminologia, com a esquerda significando a defesa da igualdade e das ações necessárias para buscá-la, e a direita se opondo a isso”, detalha.

Couto ainda explica que a noção de esquerda e direita varia historicamente. “Certas origens, que se opunham liberais a conservadores ou reacionários; depois passou a opor socialistas a liberais e conservadores; depois, comunistas, socialistas e socialdemocratas a liberais, conservadores e fascistas, e assim por diante. Quem é de centro se situa a meio caminho entre essas posições, podendo também ser de centro-direita ou centro-esquerda, assim como há os de extrema-direita ou extrema-esquerda, ou os simplesmente de direita e esquerda”, compara.

Leonardo Avritzer declara que na política, pode se dizer que a esquerda está mais preocupada com alguns valores morais, especialmente ligados à proteção social, e tem menos problemas com um papel ativo do Estado do que a direita. “A direita, por outro lado, é mais conservadora em questões morais como, por exemplo, pena de morte, redução da maioridade penal. Estas questões são pautas da direita. Ao mesmo tempo, ela tem uma preocupação maior com o tipo de papel que o Estado pode ter na política”.

Quando cita o centro, Leonard dia que na verdade, é necessário pesquisar as nuances de cada temática para definir o referencial de cada pessoa. “Quando fazemos pesquisas, o que a gente tenta é perguntar para uma série de pessoas como elas se identificam e classifica numa tabela de um a dez. Quem fica no meio dessa classificação é de centro. Uma pessoa que a princípio é a favor da proteção social, mas menos a favor de um papel ativo do Estado, por exemplo”, finaliza.

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