‘Espero quebrar paradigmas’, diz primeiro indígena doutor em Antropologia pela Ufam
08 de fevereiro de 2021
À REVISTA CENARIUM, o recém-doutor falou sobre o sonho realizado e a busca pela quebra de conceitos (Arquivo Pessoal/Reprodução)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Em entrevista à REVISTA CENARIUM nesta segunda-feira, 8, João Paulo Lima Barreto ou João Paulo Tukano, como é conhecido pela etnia, contou detalhes sobre a defesa do doutorado em Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). A apresentação ocorreu na quinta-feira, 4, de forma online por conta da pandemia da Covid-19.
“Sempre foi meu sonho, essa vontade de lutar, batalhar e promover discussões. Nossa luta é mostrar que temos um modelo diferente de conhecimento, sobre a mesma realidade, que não é pior e nem melhor, mas é outro modelo, outra epistemologia. Para isso, estamos trazendo os conceitos indígenas para o debate nas instituições”, disse.
Segundo João, os indígenas foram colocados como aprendizes do “homem branco”, envoltos a um imaginário de desconhecimento. “O que poucas pessoas sabem é que muitas coisas foram desenvolvidas com base no nosso conhecimento. A chave de leitura dos nossos hábitos sempre esteve ligada à religião, como espírito, sagrado, fé, reza, benzimentos e magia”, salientou.
Defesa
A bancada do doutorado do indígena foi composta pelos professores da Ufam Gilton Mendes dos Santos, Carlos Machado Dias Júnior e Deise Lucy Oliveira Montardo, além do professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Geraldo Luciano Andrello, e a professora da Universidad Nacional Mayor San Marcos (Lima/Peru), Luisa Elvira Belaund.
João Paulo Tukano junto à bancada de docentes durante defesa do doutorado (Reprodução)
“Espero quebrar paradigmas. O nosso conhecimento é diferente da ciência. A religião é um modelo de conhecimento ocidental [escrita]. E nós indígenas temos o nosso próprio modelo de conhecimento [oralidade], o qual chamam de não ciência. No entanto, temos outra lógica, de que existem vários modelos de conhecimento para falar sobre a mesma realidade”, reforçou João.
Natural da comunidade São Domingos, no Alto Rio Negro (a cerca de mil quilômetros de Manaus), João Paulo é da etnia Yepamahsã (Tukano) e tem formação em Filosofia e mestrado em Antropologia. Segundo ele, o trabalho de doutorado é fruto de nove anos de pesquisas na pós-graduação e defende um conceito adotado pelos indígenas diferente ao modelo de concepção de conhecimento científico.
Corpo e mente
Segundo João Paulo, o corpo é o ponto de partida, reflexão do pensamento e a filosofia “rio-negrina” que, de acordo ele, vê o corpo humano de forma dinâmica, em transformação. O indígena liga ainda os fenômenos naturais aos ataques dos seres “waimahsã”, dos animais e alimentos ao desequilíbrio do corpo.
“Trago a forma com que os indígenas do Alto Rio Negro entendem o corpo e o porquê é importante entendermos o corpo para construirmos uma vida de qualidade e de equilíbrio. Na medida que eu consigo entender o que eu sou, posso construir uma relação com o meu entorno”, diz João Paulo.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.