Estados fora da Amazônia participam de exploração ilegal de recursos naturais; São Paulo está no topo da lista
26 de julho de 2022
Cerca de 70% da população brasileira vive no bioma e quase 80% da economia do País se concentra por lá (Lilo Clareto/ISA)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – O aumento no ecossistema criminal dentro da Amazônia possui agentes fomentadores em outras regiões do País, segundo a pesquisa “Territórios e Caminhos do Crime Ambiental na Amazônia Brasileira: da floresta às demais cidades do País”, publicada no último dia 20, pelo Instituto Igarapé.
O estudo revela a dinâmica contemporânea das ilegalidades dentro da Bacia Amazônica, tendo como principais pilares a extração de madeira, grilagem de terras públicas, desmatamento ilegal, agropecuária e a mineração ilegal, que resultam em transações diretas com o crime organizado, tráfico, crimes violentos, financeiros, tributários e crimes administrativos.
De acordo com o texto, São Paulo é a cidade com maior ocorrência de envolvimento em crimes na Amazônia. Foram 36 territórios catalogados pela pesquisa, envolvidos em práticas ilícitas, seguidos por Paraná com 14 territórios e Goiás com 10 territórios. No exterior, as operações tiveram mais desdobramentos na Guiana Francesa e Venezuela (cinco cada), Suriname (quatro), Colômbia (duas), Paraguai e Bolívia (uma cada).
O aumento no ecossistema criminal dentro da Amazônia possui agentes fomentadores em outras regiões do País (Reprodução/Instituto Igarapé)
Desmatamento
O desmatamento na Amazônia tem sido pauta, nos últimos anos, principalmente, porque em 2009 o País fez acordo internacional na Conferência de Copenhague, no qual prometeu reduzir 80% o desmatamento. Entretanto, na data limite do acordo, em 2020, o Brasil havia desmatado quase o triplo. A meta era cerca de 3 mil km², e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentou perda de 11 mil km² naquele ano.
A pesquisa do Instituto Igarapé aponta que a Amazônia está se aproximando do ponto irreversível de desmatamento, e a situação só tem piorado nos últimos três anos. De acordo com dados do Global Forest Watch, o Brasil é o País onde mais se perdeu floresta tropical primária, em 2021, totalizando uma área de 1,5 milhão de hectares de floresta perdidos. Mais de 40% da perda de floresta primária tropical de todo o mundo, em 2020, ocorreu no Brasil.
Área desmatada dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes (ONG SOS Amazônia)
De acordo com o levantamento, o descontrole florestal da Amazônia acontece em paralelo com o desmantelamento dos instrumentos de proteção ambiental durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O atual presidente do Brasil já foi denunciado inúmeras vezes por diversas frentes indigenistas e de proteção por genocídio, crimes contra a humanidade, extermínio, perseguição e negligência contra povos indígenas.
O enfraquecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai), com a perda de efetivo e a presença do presidente Marcelo Xavier à frente do órgão, só tem corroborado com o desmatamento. Xavier é acusado pelos indígenas de fazer política anti-indigenista, isso porque desde o começo de 2022, o presidente da fundação teve apenas dois encontros com indígenas.
As atividades econômicas ilegais praticadas na Amazônia são uma das grandes responsáveis pelo atual nível de desmatamento e degradação da floresta. O estudo se baseou em mais de 300 operações da Polícia Federal, onde identificou 846 territórios envolvidos com crimes ambientais amazônicos.
A atividade ilegal é exercida em 262 cidades diferentes, na Amazônia Legal e fora dela. Segundo o estudo, 75% das cidades com ocorrências de práticas ilegais ficam dentro da Amazônia Legal, enquanto 25% estão fora dela, sendo 22% dentro do Brasil e 3% em cidades no exterior, em países fronteiriços.
Helicóptero patrulha pista utilizada pelos garimpeiros durante operação do Ibama contra a mineração ilegal de ouro em terras indígenas (Bruno Kelly/Reuters)
Das 302 operações realizadas entre 2016 e 2021, 19% (56) delas tiveram desdobramentos fora da Amazônia Legal, tendo acontecido em 24 dos 27 Estados brasileiros, com exceção apenas de Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
O Pará encabeça a lista dos Estados, dentro da Amazônia Legal, com mais territórios e operações contra práticas ilícitas. Foram 161 territórios em 46 municípios e 83 operações da PF. Rondônia aparece logo atrás com 122 territórios, em 29 municípios, e o Amapá em seguida com 101 territórios em 10 municípios.
Ecossistema dos crimes ambientais
Dentre as economias ilícitas realizadas dentro do bioma Amazônico, a extração ilegal de madeira e a mineração ilegal se destacam. Nos dados divulgados pelo estudo, foram 117 operações da PF contra extração de madeira e 138 operações contra mineração ilegal. Enquanto que as outras atividades possuem menos de 100 registros durante o período.
Madeira
A pesquisa apontou para além da extração, crimes de falsificação de documentações necessárias para autorização de exploração (como a Autorização de Exploração Florestal – AUTEF para a madeira) ou, então, nos documentos de autorização, certificação e documentos fiscais nas fases de transporte e comercialização (como o Documento de Origem Florestal – DOF ou a Autorização de Exploração – AUTEX).
Dos territórios mapeados com ocorrências de extração de madeira e atividades relacionadas ao manejo ilegal, foram mapeados 366 localidades, sendo 193 (53%) delas locais principais do crime ambiental e 173 (47%) territórios adicionais relacionados de alguma forma à atividade ilícita.
Dos territórios mapeados, 318 (87%) deles estão dentro da Amazônia Legal, enquanto que 48 (13%) estão fora. São 23 Estados brasileiros e 166 municípios conectados a esta economia ilícita. Dentro da Amazônia Legal, os Estados de Rondônia e do Maranhão se destacam nesse subsistema. Já São Paulo e Paraná são os Estados fora da região com mais ligação aos crimes.
Mineração
A exploração mineral, não apenas de ouro, como de manganês, cassiterita e diamante, registrou 138 operações da PF, num total de 363 territórios mapeados. Em 2016, o número era de 13 territórios, que ao longo dos anos foi se multiplicando, chegando a 126 apenas no ano de 2021.
Conforme o relatório, esse número crescente é explicado pela atuação da PF nos casos de mineração ilegal, isso porque a estratégia adotada, atualmente, busca não só punir quem extrai, mas também quem compra.
Dos territórios identificados, 125 cidades localizadas em 20 Estados brasileiros possuem relação com a atividade ilícita. Sendo Alto Alegre (RR), Ourilândia do Norte, Itaituba e Jacareacanga (PA), as cidades de destaque da ação dentro da Amazônia Legal. Aqui, São Paulo aparece novamente na lista.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.