Ex-prefeito de Belém critica mudanças nas áreas de educação e cultura
Por: Fabyo Cruz
02 de janeiro de 2025
BELÉM (PA) – Após finalizar o terceiro mandato à frente da Prefeitura de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol) se despediu da administração municipal expressando uma mensagem de luta e apreensão. Em entrevista exclusiva concedida à CENARIUM, o arquiteto, professor e político fez críticas às decisões apresentadas pela nova gestão do atual prefeito, Igor Normando (MDB), comentou sobre as conquistas de sua gestão e afirmou ter sofrido ataques da extrema direita: “Uma campanha intensa de destruição da minha imagem”.
Os recentes pronunciamentos de Igor Normando já despertaram reações negativas do ex-prefeito. Entre os mais controversos estão a fusão da Fundação Escola Bosque (Funbosque) com a Secretaria Municipal de Educação (Semec) e a intenção de privatizar o Palacete Pinho que, segundo Edmilson, são fundamentais para a educação e cultura da capital paraense.
“Extinguir a Funbosque é destruir uma experiência única na educação pública do País. Ela foi criada para levar educação ambiental e ensino de qualidade para as comunidades ribeirinhas e para a população mais vulnerável de Belém. Enxugar gastos não pode ser desculpa para acabar com algo tão essencial”, criticou o ex-prefeito.

Sobre o Palacete Pinho, a postura foi igualmente contundente. “Esse prédio histórico não é apenas um patrimônio material; ele representa a democratização do acesso à cultura. Transformamos o espaço na Escola Municipal de Artes, onde crianças e jovens das periferias tiveram a oportunidade de aprender música, teatro e cinema. Privatizá-lo é negar esse direito aos filhos dos pobres. É virar as costas para o futuro de Belém”, afirmou o psolista à reportagem.
Rodrigues também rebateu a justificativa de corte de despesas apresentada pela nova gestão. “Educação e cultura não são despesas, são investimentos fundamentais para combater a desigualdade. O que chamam de ‘enxugar a máquina pública’ é, na verdade, um retrocesso grave”, afirmou.
“A sociedade tem que estar atenta. Retrocessos como esses, na educação e na cultura, não podem ser normalizados. Conquistas que levamos anos para alcançar podem ser destruídas em pouco tempo. Resistir é o que nos mantém de pé e nos faz acreditar em um futuro melhor para todos”, concluiu.
Conquistas e adversidades
Apesar dos desafios, Edmilson Rodrigues fez questão de destacar os avanços conquistados durante seu mandato, especialmente em tempos de adversidades. Um dos programas mais celebrados foi o “Bora Belém”, uma iniciativa pioneira de renda básica.
“Criamos o único programa de renda básica implementado por uma prefeitura de capital no Brasil. Retiramos quase mil famílias da fome. Se você reunir todas essas pessoas, são dois ‘Mangueirões’ lotados. Isso é algo de que me orgulho profundamente”, afirmou Edmilson, em alusão ao tamanho do Estádio Olímpico do Pará, o Mangueirão.
O ex-prefeito também destacou a implementação do Banco do Povo, um programa de microcrédito com juros zero. “Empreendedores de Belém que não tinham acesso a financiamentos puderam crescer e gerar renda. Isso é inovação com justiça social”, disse.
Na educação, segundo ele, um marco foi o avanço na alfabetização. “Belém alcançou 97,8% de alfabetização. Estamos muito próximos de sermos um território livre do analfabetismo, algo que pouquíssimas cidades brasileiras alcançaram e pouco foi notificado pela mídia”, ressaltou.
A gestão 2021-2024 foi marcada pelo contexto adverso da pandemia de Covid-19 e pela ascensão de movimentos políticos conservadores. Edmilson relembrou os ataques que sofreu, principalmente nas redes sociais.
“Vivemos uma campanha intensa de destruição da minha imagem, mas o objetivo real era atingir o projeto de cidade que represento. Era uma tentativa de barrar políticas públicas que priorizassem os mais pobres. Mas, mesmo com todos os ataques, resistimos e entregamos resultados concretos para a população”, disse Edmilson Rodrigues.
Futuro político
Com o término do mandato, Edmilson planeja voltar à sala de aula, um espaço que define como sua essência. Embora não deseje assumir outro cargo público neste momento, ele não descarta um retorno à política no futuro. “Minha formação como arquiteto e professor é algo que levo com muito orgulho. Estou na universidade há 43 anos e leciono há 48. Continuarei lecionando na Ufra e na Seduc. Ensinar é uma forma de transformação social tão importante quanto a política”, destacou.

“Para mim, política não é cargo. Faço política desde a adolescência, a luta sempre esteve presente na minha vida. Agora, política não depende apenas de cargo eletivo. Já poderia me aposentar, mas decidi voltar à academia, essa é a minha vida. Quanto ao cargo eletivo, daqui a dois anos, posso ou não disputar cargos como deputado federal ou estadual. Isso vai depender da necessidade da esquerda. Só concorrerei se for uma vontade dos partidos de esquerda, caso meu nome seja necessário em um embate de projetos”, finalizou.