EXCLUSIVO: brasileiro mostra como são os abrigos subterrâneos em Kiev, na Ucrânia

O roraimense da cidade de Mucajaí, Guilherme Souza, 18 descreveu, por meio de vídeo, o local que tem abrigado ele e outros brasileiros (Daniel Leal/AFP)

Nicole Gomes – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com três dias de guerra na Ucrânia, medo e desespero é o que descreve a sensação de brasileiros que estão em meio ao conflito, já considerado o maior ataque a um país desde a Segunda Guerra Mundial, há 80 anos.

O roraimense da cidade de Mucajaí, Guilherme Souza, 18, integra o time ucraniano FC Kolos e está há pouco mais de um mês na Ucrânia, em preparação para uma competição que seria no próximo dia 28. Mas, devido aos conflitos, o sonho de jogar no exterior está ameaçado.

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Com exclusividade à REVISTA CENARIUM, o jogador descreveu, por meio de vídeo, o local que tem abrigado ele e outros brasileiros. Segundo Guilherme, é um bunker (estrutura totalmente subterrânea, construída para resistir aos projéteis de guerra), no Klub Kolos Kovalivka, na cidade de Kiev, capital da Ucrânia, já que quartos não oferecem segurança necessária diante do atual cenário do país.

O brasileiro também desabafou sobre o cenário de guerra e a necessidade de sair da Ucrânia.

“Momento de desespero, medo de não voltar para casa, medo de não ver minha família nunca mais, medo de cortar a comunicação, que pode acontecer em questão de minutos ou horas. Vocês, no Brasil, já viram o que uma guerra pode fazer e eu estou vivendo algo que pensei que nunca viveria na minha vida. Então, é desespero, não é só medo. Eu só consigo dormir, não consigo descansar. Está muito difícil de lutar, a cada dia, e tudo o que nós queremos é sair do país”, contou Guilherme à REVISTA CENARIUM.

Guerra inesperada?

Assim como Guilherme, o cineasta e estudante brasileiro João Prado, 27, que vive em Berlim há 8 anos, se tornou próximo da cultura ucraniana por conta de seu melhor amigo Anton, que é natural de Kiev e acostumado a trabalhar como documentarista em zona de guerra.

“Anton estava em Kiev, trabalhando com sua família, há duas semanas, quando voltou para Berlim, recentemente. Contou que não via nenhuma possibilidade que essa invasão realmente acontecesse porque eles – ucranianos – estavam acostumados com esses ‘blefes’ da Rússia e não havia lógica, do ponto de vista estratégico e humanitário, entrar nesse conflito”, explicou o estudante.

João também esteve em protestos, na região central de Berlim, que pediam o fim da guerra e sanções mais severas da Alemanha frente à Rússia, na última quinta-feira, 24.

Retorno à Ucrânia

O pai e a irmã de Anton estão presos na Ucrânia, e enquanto todos lutam para sair do país, Anton decidiu voltar para ajudar sua família e outras pessoas, além de documentar tudo sobre a guerra.

“Eu definiria o clima como uma certa tristeza e sensação de choque. As pessoas não acreditam que isso está acontecendo, como acordar com uma sirene de bomba, sem saber o que fazer e para aonde ir. Os meus amigos que vivem aqui – Berlim – estão todos desesperados. É um dilema pensar como você vai ajudar as pessoas que você ama, e seu país, da melhor maneira, estando longe. Será que vale a pena voltar? Assim como Anton, que escolheu entrar novamente na Ucrânia?”, refletiu João Prado.

Refugiados na Alemanha

Em contrapartida, ainda na Alemanha, o designer Danylo Okulov, 26, tenta organizar e mobilizar uma rede de contatos para ajudar refugiados que atravessam a fronteira.

“O apoio e a vontade de ajudar, dos nossos amigos estrangeiros, me evitaram entrar em pânico, pelo menos por segundos. Rapidamente, eu e meus amigos começamos a procurar, da forma mais eficiente possível, como ajudar, mesmo que não tenhamos nada a ver com militares e o setor humanitário. Em poucas horas, ficou claro que Kiev é uma das senão o maior alvo da invasão”, explicou Danylo.

Diante da calamidade da guerra, a resistência a sair da zona de guerra ainda existe.

“O que é mais horrível disso é que as pessoas que presenciaram essas destruições, que passaram horas ou noites em abrigos, não querem ir a lugar nenhum, então, isso leva conversa, explicações e motivação para que eles se dirijam a algum lugar seguro. Isso é algo que ainda fazemos, que estamos tentando estabelecer. Passei o dia procurando pessoas, contactando aqueles que querem ajudar e tentando fazer com que meus familiares e amigos que estão lá saiam da zona de guerra e lugares ameaçadores”, completou o designer.

Bombardeios em jardins de infância

Outra pessoa próxima a João, que está enfrentando o conflito, é Angelique, de nacionalidade ucraniana e residente em Kiev. Angelique está com todos os familiares e amigos na cidade natal – parcialmente dominada pelos russos, mas não pretende deixar a região e pede ajuda governamental e apoio militar através de sua rede social.

“As pessoas estão morrendo aqui, os russos bombardeiam jardins de infância. Passamos noites sem dormir, em abrigos antiaéreos, e o resto do mundo parece não se importar. E isso é realmente assustador. Não tenho medo de estar em Kiev, porque é a minha cidade, e prefiro morrer defendendo-a do que viver sob a ditadura de Putin, sem liberdade”, desabafou Angelique.

Início da guerra

Os ataques começaram após Putin anunciar uma “operação militar especial” da Rússia no Leste da Ucrânia, por volta de 5h da manhã de quinta-feira, 24, às 23h de quarta-feira, 23, no Brasil.

Um dos motivos foi por reconhecer a independência das províncias ucranianas, além de discursos contra o governo, em Kiev, fator decisivo para que as nações entrassem em guerra.

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