Extrativistas denunciam bloqueio de acesso a áreas tradicionais no Sul do AM
Por: Marcela Leiros
13 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – Extrativistas e moradores da região onde está localizada a Comunidade Marielle Franco, em Lábrea (AM), denunciam a instalação de porteiras e guaritas que impedem a livre circulação em ramais da localidade, prejudicando o acesso a áreas tradicionalmente utilizadas para atividades de subsistência, como a pesca e a caça. Uma delas é localizada no ramal do Km 86 da BR-317, rodovia que liga Rio Branco, no Acre, a Boca do Acre, no Sul do Amazonas.
De acordo com os relatos, a prática se assemelha ao que já ocorre no ramal da Palotina, que dá acesso à Fazenda Palotina, dos fazendeiros Sidney Sanches Zamora e Sidney Sanches Zamora Filho. Agora, outros proprietários estariam adotando estratégias semelhantes em outros ramais, como afirma Paulo Araújo, liderança local da comunidade Marielle Franco.
“Não é só mais os Zamora, eles estão se juntando, os fazendeiros, pra ficar intimidando as famílias. Nesse vídeo é assentamento, já assentado há anos. O fazendeiro comprou toda a área a redor, fechou o ramal e botou segurança lá, sendo que esse ramal dá acesso à nossa comunidade, dá acesso a outras comunidade“, declarou.
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Vídeo enviado à CENARIUM mostra uma placa da empresa Grupo Michels no ramal onde os comunitários afirmam serem impedidos de transitar livremente. A empresa dedica-se ao cultivo e comercialização de grãos, como soja e milho. Segundo informações repassadas à reportagem, o grupo adquiriu uma fazenda no local e fechou o ramal, que não é de propriedade particular, com uso de segurança privada.
“Esse ramal dá acesso ao igarapé, para as pessoas irem pescar no rio, mas só anda quem eles querem, porque eles grilam a terra pra trás, da União, tampam o ramal no meio, é deles de um e de outro, e só passa lá quem eles querem. Eles colocam uma empresa de segurança pra impedir a ida e vinda de qualquer pessoa que não for compatível com eles lá“, afirma o homem que grava o vídeo, que preferiu não se identificar.
Em outro vídeo, um grupo de homens tentam passar pela porteira, mas é impedido. Um dos homens afirma que dentro do espaço delimitado está seu local de trabalho.
Veja o vídeo:
A comunidade já encaminhou denúncias à Polícia Federal e ao Ministério Público, pedindo providências urgentes. Os moradores afirmam que a restrição de acesso prejudica diretamente a sobrevivência das famílias, que dependem da terra, da caça e da pesca para viver, e exigem o cumprimento de seus direitos constitucionais.
Comunidade Marielle Franco
A Comunidade Marielle Franco ocupa uma área de aproximadamente 50 mil hectares. Deste total, 200 famílias ocupam 20 mil hectares, na região que fica localizada no sul de Lábrea com acesso pelo Ramal do Garrafa, no KM 93 da BR 317, Sentido Boca do Acre a Rio Branco. Os pecuaristas Sidney Sanches Zamora e Sidney Sanches Zamora Filho dizem ser proprietários da área.
A relação dos comunitários com os fazendeiroso tem sido marcada por conflitos, como residências incendiadas e ações truculentas de policiais do Amazonas e do Acre. A CENARIUM mostrou, em 2024, que o Ministério Público Federal (MPF) e a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) investigavam denúncias de agressões a moradores do assentamento.
Em 2024, o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária no Amazonas arrecadou uma área de 28,4 mil hectares da Gleba Novo Natal para transformar a Comunidade Marielle Franco em um assentamento. A portaria foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de fevereiro.

