Líder extrativista que denunciou tortura no sul do AM tem prisão convertida em domiciliar

O líder da Comunidade Marielle Franco, Paulo Sérgio Araújo (Composição de Lucas Alves/Revista Cenarium)
Da Revista Cenarium*

MANAUS (AM) – Preso desde o dia 5 de março após denunciar tortura e tentativa de homicídio contra agricultores e extrativistas na Comunidade Marielle Franco, no sul do Amazonas, o líder comunitário Paulo Sérgio Araújo teve a prisão preventiva convertida em domiciliar pelo juiz federal Rodrigo Mello na última quinta-feira, 25.

A sentença veio após quase dois meses de pressão dos movimentos sociais, da atuação de defensores vinculados aos movimentos sociais e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), além da Defensoria Pública de Lábrea. De acordo com o juiz, o líder comunitário terá circulação restrita ao ambiente familiar, como medida alternativa de cumprimento de pena por 90 dias.

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A defesa do ambientalista, assim como a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), em suas manifestações, declaram que Paulo não oferece perigo para a sociedade, não possui antecedentes criminais, tem profissão definida e residência fixa, além de conviver com comorbidades de saúde como diabetes e hipertensão, precisando de assistência constante de saúde também com o filho autista.

Extrativistas e agricultores da comunidade Marielle Franco, localizada no sul do Amazonas (Reprodução/Redes Sociais)

“A defesa continuará atuando, tanto com pedidos de habeas corpus já impetrados nos Tribunais, quando da revogação imediata do mandado de prisão”, afirma Afonso M. das Chagas, professor da Universidade Federal de Rondônia e assessor jurídico da CPT.

De acordo com a CPT, a luta da comunidade é por uma maior agilidade no caso, a fim de que os membros da localidade sejam ouvidos e sejam encaminhadas investigações sobre os conflitos e episódios de tortura sofridos pelos trabalhadores e trabalhadoras rurais por parte dos fazendeiros da Fazenda Palotina.

“Eles continuam sem responder perante a Justiça sobre as situações de grilagem, ameaça e violência ocorridas desde o ano de 2015, quando as famílias chegaram para ocupar a área de 20 mil hectares, reconhecida pelo Incra como propriedade da União. Atualmente, as 206 famílias reivindicam o uso da terra como assentamento”, diz a CPT.

Amacro

A violência tem crescido na região da tríplice divisa dos Estados do Amazonas, Acre e Rondônia (chamada de Amacro ou Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira). Segundo dados do relatório Conflitos no Campo Brasil 2023, ao todo, foram registrados 200 conflitos na região, que abrange 32 municípios. No caso dos assassinatos, das 31 mortes no país, oito foram nesta região, sendo cinco vítimas sem terra e três posseiros. Cinco das mortes foram causadas por grileiros.

Leia mais: Pecuaristas ameaçam moradores da Comunidade Marielle Franco no sul do Amazonas
(*) Com informações da CPT

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