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Extrativistas denunciam tortura policial em conflito de terras no sul do Amazonas
Extrativista foi torturado e recebeu um golpe de faca no ombro, em área de conflito de terras no sul do Amazonas (Composição de Paulo Dutra/Revista Cenarium)
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03 de março de 2024
Ricardo Chaves – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Extrativistas da Comunidade Marielle Franco, localizada em Lábrea, no sul do Amazonas, e próximo a Boca do Acre, na divisa com o Estado do Acre, denunciam tortura policial e tentativa de assassinato por policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Acre. Os trabalhadores rurais foram agredidos e expulsos a tiros enquanto coletavam castanhas. Três pessoas estão desaparecidas.
A REVISTA CENARIUM teve acesso a uma série de áudios atribuídos ao líder comunitário Paulo Araújo, que relata que os moradores foram mantidos em uma espécie de cativeiro enquanto eram atacados. Os agressores teriam gravado vídeos e imagens da tortura.
“Nossos companheiros foram abordados por pessoas se dizendo policiais militares do Bope. Eles foram mantidos como reféns e apanharam de joelho. Foi feita uma live mostrando o que estava sendo feito. Suspeitamos que as imagens foram enviadas ao fazendeiro”, relatou a liderança.
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Relatos dos comunitários afirmam que os homens apareceram vestidos de preto e se identificaram como membros do Bope do Acre. Eles teriam capturado alguns trabalhadores para espancar e torturar. Um deles foi esfaqueado e corre risco de morte.
Vídeos obtidos pelareportagemmostram o momento que um desses trabalhadores, identificado como Nalcione, corre para não ser alvejado com tiros. Assista abaixo.
Outro vídeo mostra o trabalhador agredido após chegar à comunidade para ser socorrido. Nas imagens, o extrativista aparece ensanguentado e com um corte profundo no ombro. Ao ser questionado sobre o ocorrido, ele responde: “Foi uma furada (…) eu estava de costas, estava de joelhos”, diz.
Imagens também mostram o extrativista abalado e tremendo no momento em que é conduzido, em um carro particular, a unidade de saúde para buscar atendimento médico.
Comunitários levantam suspeitas
A suspeita dos moradores é de que os agressores tenham atuado a mando dos proprietários da Fazenda Palotina. A CENARIUM mostrou, em dezembro do ano passado, que os donos do local, identificados como Sidney Sanches Zamora e Sidney Sanches Zamora Filho, ordenaram que as pessoas se retirassem do local, sob alegação de serem donos das terras. À época, a reportagem buscou contato mas não obteve retorno.
A Fazenda Palotina é cenário de conflito de terras que existe há anos na região. A área em disputa é reivindicada por moradores da Comunidade Marielle Franco, que alegam que a terra é da União, e pelo fazendeiro Sidney Zamora.
Denúncia formalizada
Após o ataque, os comunitários formalizaram uma nova denúncia junto ao Ministério Público Federal do Acre (MPF-AC), Polícia Federal (PF) e ao Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra). Com as ameaças registradas ano passado, o diretor de Assuntos Agrários da autarquia, João Pedro, disse que acionaria a Justiça.
“Quero repudiar e condenar esse ato. Nós vamos acionar a Justiça sobre isso. Eu quero repelir esse tipo de atitude de quem se diz proprietário da área. O Brasil tem leis. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento. O Incra estuda aquela área e vai arrecadar as terras e destinar a quem tem perfil para se enquadrar nas políticas públicas de reforma agrária”, afirmou à reportagem em dezembro.
Apuração dos relatos
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), que atua na região noroeste da Amazônia, oficializou denúncia à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e demais orgãos policiais nacionais e regionais. O advogado Afonso das Chagas solicitou a apuração do relato dos ocupantes do assentamento, para providências cabíveis, e também para que a Polícia Federal possa ter uma atuação continuada na região.
A CENARIUM formalizou pedido de posicionamento junto à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e aguarda resposta. Até fechamento da reportagem, a Polícia Militar do Acre (PM-AC) não emitiu nota a respeito da suposta atuação de servidores da corporação na ação contra os comunitários.
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