‘Falta de respeito’: em Manaus, enfermeiros voltam a protestar contra suspensão de piso salarial pelo STF
21 de setembro de 2022
(Bruno Pacheco/Cenarium)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Um grupo de enfermeiros e técnicos de Enfermagem voltou a protestar, em Manaus, após o Supremo Tribunal Federal (STF) manter a decisão do ministro Luís Roberto Barroso de suspender a lei sancionada pelo presidente Bolsonaro (PL), que criou o piso salarial da classe. Esta é a segunda manifestação em duas semanas da categoria, que realiza um ato nacional.
O ato se concentrou às 7h, em frente ao Hospital Geral Unimed Manaus, na Avenida Constantino Nery, no bairro São Geraldo, na zona Centro-Sul da cidade. Cerca de 500 profissionais da Saúde participaram da manifestação, que prosseguiu a pé pela Avenida Boulevard Álvaro Maia, passou pelo Hospital Santa Júlia e Hospital Universitário Getúlio Vargas, e chegou por volta das 10h na Avenida Mário Ypiranga, no bairro Adrianópolis, onde se encerrou em frente ao Hospital e Pronto-Socorro (HPS) 28 de Agosto.
“É uma tremenda falta de respeito com a nossa classe, pois quando estávamos no pico da pandemia, que ainda não acabou, éramos os heróis. As autoridades falam que não têm dinheiro, mas eles têm sim. Por que aumentam o salário deles três vezes em menos de um ano e o da enfermagem, que está há mais de 20 anos lutando pelo nosso piso, não tem esse dinheiro? Por que não merecemos, se nós cuidamos da vida, do nascer ao morrer?”, lamentou Rosa Mendes, acadêmica e técnica de enfermagem.
Profissionais da Saúde protestam contra suspensão de piso salarial (Arquivo Pessoal)
Manifestação
O protesto faz parte de uma mobilização nacional e ocorre após a suspensão do piso da categoria. Na última quinta-feira, 15, o STF decidiu manter, por 7 a 4, em julgamento no plenário virtual, a suspensão da lei que criou o piso salarial dos profissionais da saúde até os impactos da medida na qualidade dos serviços de saúde e no orçamento de municípios e Estados sejam analisados.
A maioria dos magistrados concordou com a decisão de 4 de setembro do ministro Barroso. A pedido de entidades do setor que indicaram risco de demissão em massa e de sobrecarga na rede, Luís Roberto Barroso entendeu haver risco concreto de piora na prestação do serviço de saúde, principalmente em unidades ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Indignação
A medida pegou de surpresa enfermeiros e técnicos de enfermagem, que foram às ruas na quarta-feira, 7, contra a decisão do ministro. O ato ocorreu em meio aos desfiles militares de 7 de setembro, em frente ao Sambódromo, na zona Centro-Oeste de Manaus. Nesta quarta-feira, 21, os profissionais da Saúde voltaram a protestar.
“É uma indignação para a Enfermagem. Hoje, um técnico de enfermagem está ganhando um salário mínimo, trabalhando feito ‘escravo’ e se não fizer o seu serviço, é ameaçado com demissão. Ou seja, temos que viver endividado, porque um salário mínimo é quase impossível de viver com essa inflação alta”, pontuou a técnica de enfermagem Rosa Mendes.
Segundo o texto do projeto, aprovado pela Câmara e pelo Senado, o piso nacional de enfermeiros dos setores públicos e privado seria reajustado em R$ 4.750, para técnicos de enfermagem em R$ 3.325, para auxiliares de enfermagem em R$ 2.375 e para parteiras em R$ 2.375.
Para o ministro Barroso, que suspendeu a lei no dia 4 de setembro a pedido de entidades do setor que indicaram risco de demissão em massa e de sobrecarga na rede, há risco concreto de piora na prestação do serviço de Saúde, principalmente em unidades ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Profissionais de saúde são contra a decisão do Supremo.
“Essa mudança representaria muita coisa. Poderíamos, por exemplo, ter um emprego apenas. Hoje, precisamos ter três empregos ou dois para poder nos manter com nossa família e ter tempo para ela, algo que, praticamente, não conseguimos ter por conta da grande quantidade de horas que passamos trabalhando dentro dos hospitais. São várias noites saindo de casa, deixando de cuidar dos nossos filhos para cuidar do próximo e não termos esse reconhecimento”, lamentou Rosa Mendes.
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