Fim do parcelamento sem juros prejudica famílias, alertam economistas

Imagem de uma máquina de cartão de crédito (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Jefferson Ramos – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – A Federação do Comércio do Amazonas (Fecomércio) e a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) demonstraram preocupação com o possível fim do parcelamento sem juros no cartão de crédito. A medida é considerada pelo Banco Central (BC) para diminuir o endividamento e os juros do rotativo do cartão de crédito.

O parcelamento sem juros é responsável por 40% do consumo das famílias no País. Esse consumo é um dos principais motores da economia, que também impacta na produção da indústria. Atualmente, quem atrasa a fatura do cartão cai no rotativo, com juros de 450% ao ano. A ideia do BC é extingui-lo e colocar o consumidor diretamente no parcelamento de 8% ao mês.

O presidente da Fecomércio, empresário Aderson Frota, afirmou que a federação não é contra os bancos cobrarem o custo financeiro, mas que o consumidor não pode ser submetido a taxa de juros de 450% ao ano quando não consegue pagar toda a fatura do cartão.

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“Não dá para jogar em cima do consumidor juros tão pesados de 450%. Um juro exacerbado aumenta uma dívida de R$ 10 mil para R$ 45 mil. Como que pode? Não tem ninguém com capacidade de absolver um juro tão pesado como esse praticado. É esse exagero do crédito rotativo que não podemos aceitar”, protestou.

O presidente da Fieam, empresário Antônio Silva, disse que o fim do parcelamento sem juros impacta a atividade produtiva. Ele ainda alertou que sem uma base consumidora sólida a indústria é afetada.

Segundo ele, com o atua nível de endividamento das famílias próximo a 80%, uma eventual medida como essa vai reprimir “substancialmente a parcela consumidora do País”.

“Para um momento no qual a taxa de juros ainda se encontra elevada e a inflação não está plenamente controlada, apresentando variações ao longo dos meses, vejo com preocupação esse movimento, que pode trazer repercussões negativas para a economia”, avaliou.

Consumidor

A economista Denise Kassama reconhece que a medida até pode diminuir a inadimplência, mas vai prejudicar o consumidor. Conforme a especialista, uma saída para evitar o fim do parcelamento sem juros é buscar mecanismos para facilitar a negociação das dívidas nos moldes do programa “Desenrola” do governo federal.

Ela lembra que as pessoas recorrem ao parcelamento sem juros do cartão para fazer compras, por exemplo, de geladeira ou televisão, que não conseguiriam sem essa modalidade por não terem o valor à vista.

A economista Denise Kassama (Reprodução/Acervo Pessoal)

“Ninguém se endivida porque quer. Se entra no saldo negativo por uma questão de necessidade e de ocasião. Ao invés de facilitar o pagamento, querem simplesmente eliminar, não resolver o problema. Como que o brasileiro vai conseguir comprar geladeira, fogão ou até pagar o rancho do mês”, analisou.

O economista Mourão Júnior avalia que a questão é chegar a um meio-termo para as vendas do comércio em geral e pequenos empreendedores. Ele considera que a modalidade gera muito endividamento.

“De um lado, os lojistas querem o consumo, mas de outro, o Banco Central quer uma forma que não gere endividamento. O Amazonas é o primeiro colocado no nível de endividamento da Região Norte. O parcelamento sem juros tem uma alta probabilidade de endividamento”, opinou.

O economista Mourão Júnior (Reprodução/Acervo Pessoal)
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Editado por Pricila de Assis
Revisado por Adriana Gonzaga
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