Funai diz que visita de senador aos Yanomami ocorreu sem permissão dos indígenas
25 de fevereiro de 2023
Chico Rodrigues durante sessão no Senado (Divulgação/Senado)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
BOA VISTA (RR) – A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) afirmou em nota nessa sexta-feira, 24, que a visita do senador e presidente da Comissão Temporária Externa do Senado Federal, Chico Rodrigues (PSB-RR), à Terra Indígena (TI) Yanomami ocorreu sem a permissão dos indígenas. A manifestação do órgão ocorreu quatro dias depois de parlamentares e associações indígenas do Estado contestarem a ida do senador ao território demarcado.
De acordo com a Funai, uma Portaria Conjunta assinada pela instituição junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) estabeleceu os procedimentos de acesso à TI Yanomami durante o período de vigência da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, declarada em decorrência da desassistência aos indígenas da região.
A Funai, presidida pela advogada indígena Joenia Wapichana, elencou ainda que o ingresso ao território é coordenado a partir das ações prioritárias definidas no Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami). O objetivo é garantir o resguardo e respeito aos povos indígenas durante o enfrentamento da crise sanitária da Covid-19.
“Nesse sentido, a fundação recebeu com preocupação a notícia de ida intempestiva de senadores à terra indígena, sem comunicação prévia, sem notícias sobre a programação, em desacordo com a Portaria Conjunta nº 01/2023, e principalmente, sem a anuência dos Yanomami“, finaliza a nota.
O senador Chico Rodrigues visitou o polo de saúde em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami. (Júnior Hekurari Yanomami/ Divulgação)
Visita ao território
Chico Rodrigues foi à região em um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) e desceu no pelotão do Exército acompanhado de um general. Na localidade, onde indígenas doentes são atendidos, ele visitou o posto de Surucucu.
A vice-presidente da Comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou em entrevista à GloboNews, na quarta-feira, 22, que o senador Chico Rodrigues agiu de “má-fé” ao visitar o território indígena.
Gama disse que a comissão criada pelo senador federal para acompanhar a crise Yanomami é conduzida de forma “obscura”, além de não ter o aval dos demais membros do grupo de trabalho e não apresentar nenhum plano de atividades prévias.
Mãe e bebê Yanomami são atendidos em hospital de campanha, em Roraima. (Divulgação)
Cobrança de explicações
O Ministério Público Federal (MPF) em Roraima oficiou a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-Yanomami) e o senador Chico Rodrigues (PSB-RR), na condição de presidente da Comissão Temporária Externa, sobre informações acerca da visita realizada no Terra Indígena Yanomami, na última segunda-feira, dia 20.
De acordo com o MPF, a medida visa identificar os objetivos e atividades da referida Comissão Temporária Externa na Terra Indígena Yanomami, na perspectiva da defesa dos povos que habitam a TI Yanomami. Foi concedido prazo de dez dias para a resposta.
Crise Humanitária
O avanço do garimpo ilegal na Terra Yanomami provocou uma crise humanitária, sanitária e de saúde no território. Mais de 20 mil garimpeiros invadiram a terra indígena e chegaram a regiões antes intocadas, como Auaris, quase na fronteira com a Venezuela.
Além das ações de emergência em saúde, o Governo Lula deu início à “Operação Libertação“, para combater o garimpo ilegal no território Yanomami. A operação está prevista para durar de seis meses a um ano.
Dinheiro na Cueca
Chico Rodrigues foi destaque no noticiário, em outubro de 2020, após ser flagrado com R$ 33 mil escondidos na cueca ao ser alvo da Polícia Federal (PF). Com o senador, os policiais também apreenderam uma pedra, que suspeitavam ser uma pepita de ouro. A operação apurou desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia da Covid-19.
Senador Chico Rodrigues (DEM-RR) foi flagrado com dinheiro na cueca. (Reprodução/Congresso em Foco)
Procurado pela reportagem da REVISTA CENARIUM, Chico Rodrigues não se pronunciou sobre as declarações da senadora e nem sobre o Ministério Público Federal de Roraima ter cobrado explicações.
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