Associação repudia senadores de Roraima em comissão de crise Yanomami

Da esquerda à direita: Chico Rodrigues, Mecias de Jesus e Hiram Gonçalves. (Arte: Mateus Moura)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Hutukara Associação Yanomami (HAY), entidade que representa os indígenas Yanomami de Roraima, criticou a participação de três senadores de Roraima na comissão externa do Senado que vai acompanhar a crise humanitária e sanitária dos Yanomami no Estado. A associação acusa Chico Rodrigues (PSB), Hiran Gonçalves (PP) e Mecias de Jesus (Republicanos) de serem declaradamente a favor do garimpo.

Rodrigues foi eleito presidente da comissão. As outras duas vagas foram ocupadas pelos senadores Mecias de Jesus e Hiran Gonçalves, e outros dois nomes foram indicados entre os integrantes da Comissão de Direitos Humanos (CDH), Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama (PSD-MA). No documento, a Hutukara cita que os senadores nunca apoiaram a causa indígena e ainda atuaram a favor do garimpo.

Há anos a Hutukara vem denunciando a invasão do garimpo na Terra Indígena Yanomami e suas consequências com a devastação e contaminação do meio ambiente, doenças como malária e desnutrição, violências como estupros e aliciamento, levando muitas mortes aos nossos parentes, enquanto esses senadores nunca apoiaram as causa dos povos indígenas em Roraima e ainda estimularam a invasão do garimpo em nossas terras”, consta em um trecho da nota.

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A REVISTA CENARIUM entrou em contato com os parlamentares, via assessoria de comunicação, solicitando posicionamentos. A assessoria de comunicação do senador Mecias de Jesus disse que ele não vai se pronunciar. A reportagem aguarda resposta de Chico Rodrigues e Hiran Gonçalves.

Confira a nota de repúdio na íntegra:

Prisão

A nota de repúdio da Hutukura Associação Yanomami ainda esclarece os motivos do posicionamento. Chico Rodrigues foi destaque no noticiário, em outubro de 2020, após ser flagrado com R$ 33 mil escondidos na cueca ao ser alvo da Polícia Federal (PF). Com o senador, os policiais também apreenderam uma pedra que suspeitavam ser uma pepita de ouro. A operação apurou desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia da Covid-19.

Leia também: ‘A água está doente’, indígenas Yanomami dizem que garimpo ilegal contamina rios

Na semana passada, Rodrigues chamou, em entrevista à Globo News, os indígenas Yanomami de primitivos ao afirmar que são “a última etnia do planeta no século 21 que ainda é primitiva, totalmente primitiva”. “Como autoridade, ao nos chamar de primitivos, só demonstra seu preconceito, racismo e discriminação. Um senador que dá mau exemplo nem deveria estar no poder”, diz a associação Yanomami.

Já Mecias de Jesus foi denunciado, em 2019, pela Voare, única empresa que presta viagens aéreas para a terra indígena, por cobrança de propina, achaque e fraude em licitação. De Jesus também foi nomeado, no Governo de Jair Bolsonaro, para cuidar da Terra Yanomami, fazendo indicações para a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei).

“Foram indicações negativas para os Yanomami e Ye’kuana, irresponsáveis e criminosas, com fala de medicamentos e atendimentos médicos”, diz, ainda, a nota.

Por fim, Hiran Gonçalves, conforme lembra a Hutukara, é grande aliado do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), que sancionou, em 2021, lei que autorizava o garimpo no Estado com o uso de mercúrio e ainda sancionou outra lei que proibia a destruição dos bens de garimpo apreendidos em terras indígenas.

“Não queremos esses políticos sujos acompanhando as atividades humanitárias e nem de desintrusão do garimpo ilegal no nosso território, que é um território sagrado para o nosso povo”, finalizou.

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