‘Presenciamos o genocídio’, diz associação Yanomami sobre descaso com povos indígenas

A Urihi Associação Yanomami afirma que falta ação efetiva do governo federal para preservar a Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima (Divulgação)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A falta de ação efetiva do governo federal está causando o genocídio dos indígenas do maior território demarcado do País, a Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima (RR), que sofre com a invasão do garimpo ilegal. A afirmação é da Urihi Associação Yanomami, que constantemente denuncia a atuação dos criminosos em suas redes sociais.

Na semana passada, fotos de crianças e adultos em situação de desnutrição severa chamaram novamente atenção para o drama vivido na região.

Além da falta de acompanhamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do corte de orçamento na Saúde Indígena, existe uma verdadeira crise humanitária em curso na TIY. Estamos presenciando genocídio dos povos protetores da floresta, sem nenhuma ação efetiva do governo federal“, denunciou o presidente da Associação, Júnior Hekurari, ao lançar campanha de arrecadação de dinheiro para a compra de medicamentos.

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Associação lança campanha para arrecadar dinheiro para a compra de medicamentos. (Reprodução/Instagram)

No último dia 3, a Urihi divulgou imagens de crianças e adultos extremamente magros e com as costelas aparentes na comunidade Kataroa, Região do Surucucu, município de Alto Alegre, ao Norte do Estado. A associação denunciou que as crianças também estão com doenças infecciosas.

O agravo da invasão garimpeira, doenças infecciosas, e a desassistência do Dsei [Distrito Sanitário Especial Indígena] aumentam a insegurança da população, resultando em níveis catastróficos de desnutrição“, disse a Urihi.

Leia também: Garimpo, narcotráfico e facções: líder Yanomami, Dário Kopenawa teme conflito direto nas aldeias 

A desnutrição severa aflige indígenas na Terra Indígena Yanomami pela falta de políticas públicas efetivas na proteção desses povos (Reprodução/Instagram)

Desnutrição

A desnutrição, assim como a malária, é uma das maiores questões de saúde pública no território Yanomami e está diretamente ligada à atividade garimpeira. A Hutukara Associação Yanomami (HAY) estima que há 20 mil garimpeiros explorando ilegalmente a maior reserva do País, que, com mais de 10 milhões de hectares, abrange os Estados do Amazonas e Roraima. São mais de 28,1 mil indígenas que vivem na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.

Relatório da HAY mostrou que o garimpo no território cresceu 46%, em 2021, e mais da metade dos Yanomami (56%) é diretamente impactada pelo atividade ilegal. Em entrevista ao Fantástico neste domingo, 11, Hekurari lembrou que o garimpo causa a destruição do habitat natural dos animais e contamina os rios. Isso gera a escassez de alimentos dos indígenas e até mesmo a infecção de doenças.

Eles [os indígenas] estão tomando água suja, água contaminada. Por isso, a população Yanomami está doente, as crianças desnutridas, com vermes, porque estão bebendo água com lama, gasolina, mercúrio. E também com o barulho dos motores, animais, as caças, se afastaram, e peixes, como o camarão, morreram da contaminação de gasolina“, explicou.

Destruição de unidades de saúde

De acordo com a Urihi Associação Yanomami, garimpeiros também destruíram a Unidade Básica de Saúde (UBS) na região do Homoxi como forma de retaliação contra a operação “Guardiões do Bioma“, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com apoio da Polícia Federal, que combate a extração ilegal de minérios e outros crimes ambientais no território.

A operação queimou maquinários, como escavadeiras e aeronaves, usados na atividade ilegal e identificou a abertura de uma estrada clandestina de 150 quilômetros de extensão dentro da terra indígena. A estrada facilita o acesso de escavadeiras na floresta amazônica.

Publicação da Urihi Associação Yanomami denunciou o ataque à unidade de saúde (Reprodução/Instagram)

“O Ibama, junto com a Polícia Federal, destruíram os helicópteros que estavam lá próximos da unidade básica de saúde Homoxi. Os garimpeiros ficaram com raiva porque queimaram helicóptero, queimaram maquinário, e queimaram a unidade básica de saúde“, disse Hekurari à REVISTA CENARIUM.

Desvio de medicamentos

Além da invasão do garimpo, também há suspeita de fraude no atendimento de saúde aos indígenas, segundo as investigações da “Operação “Yoasi”, deflagrada pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) no final de novembro. O esquema criminoso deixou, pelo menos, 10 mil crianças indígenas sem medicamentos, apontaram as investigações.

Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão em Boa Vista (RR). Entre os alvos estavam os dois ex-coordenadores do Dsei Yanomami Rômulo Pinheiro e Ramsés Almeida da Silva, a farmacêutica Cláudia Winch Ceolin, o assessor de Ramsés, Cândido José de Lira Barbosa, e o empresário Roger Henrique Pimentel, dono da empresa Balme Empreendimentos LTDA. Todos investigados por participação no esquema.

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