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‘Prefiro viver na comunidade’, diz Yanomami que buscou atendimento em Casa de Apoio Indígena
Assim como ela, mais de 700 indígenas estão na Casai, que registra superlotação (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
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05 de fevereiro de 2023
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
BOA VISTA – “Prefiro viver na comunidade do que na cidade”, resumiu Márcia Yanomami, que está em tratamento contra pneumonia e desnutrição na Casa de Apoio Indígena (Casai), na zona rural de Boa Vista. O local tem espaço para 300 indígenas, mas está operando acima da capacidade, com 400 pacientes a mais, devido à crise humanitária que assola os Yanomami.
“Estamos aqui há um mês na cidade, e só agora conseguimos atendimento no hospital de campanha para iniciar o tratamento”, relata Márcia. Questionada se prefere viver na cidade ou na comunidade Surucucu, onde mora, ela responde de forma bem objetiva. “Prefiro morar na comunidade do que na cidade, lá temos mais espaço e mais comida, aqui é pouca e temos liberdade”, declarou.
Na rodovia BR-174 (Manaus-Boa Vista), as mulheres indígenas que andam com filhos no colo ainda demonstram preocupação. Há relatos de atropelamento e, para evitar acidentes, um radar de velocidade foi colocado na entrada do ramal que dá acesso ao Casai.
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Os Yanomami costumam circular pela via em grandes grupos à procura de comida. A reportagem flagrou, em diferentes horas do dia, dezenas de indígenas Yanomami e de outras etnias andando a pé pela BR-174.
(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Novo abrigo
Por conta da grande demanda de indígenas na cidade, nessa sexta-feira, 3, o governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), anunciou a instalação de um abrigo para o acolhimento dos Yanomami. A estrutura deve ser inaugurada nos próximos 30 dias, com gestão compartilhada com o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y). O atendimento no local será desenvolvido por meio de parceria entre órgãos do Estado e a União.
“Estive em reunião com os ministros e reafirmo o compromisso com Roraima e com o Brasil. Estamos disponibilizando a estrutura da administração pública do Estado em apoio ao governo federal para unirmos forças e sanar a grave crise enfrentada pela população Yanomami. Será um trabalho feito em conjunto e de forma coordenada”, declarou o governador após se reunir com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em Brasília.
O abrigo será instalado em um local de propriedade do governo do Estado, a cerca de 200 metros da Casai Yanomami, onde também foi instalado um Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira (FAB). O edifício principal terá cerca de 500 metros quadrados e um bloco anexo, que funcionará como centro de administração, enfermaria e coleta de exames.
Crise humanitária
Os indígenas Yanomami enfrentam, atualmente, uma crise humanitária sem precedentes por conta da invasão do garimpo ilegal. Estima-se que 20 mil garimpeiros atuam na maior reserva indígena do Brasil, com mais de 9,6 milhões de hectares de floresta. Os Yanomami estão vendo o seu território sendo destruído, e crianças e bebês são os que mais sofrem com os impactos da atividade na região.
O Ministério dos Povos Indígenas informou que 570 Yanomami, entre 2019 e 2022, morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, por conta do impacto das atividades de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.
Medidas severas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que prevê medidas de enfrentamento da emergência em saúde pública e combate ao garimpo ilegal no território Yanomami. Entre as ações previstas a serem adotadas por órgãos da administração federal, está a criação de uma Zona de Identificação de Defesa Aérea (Zida) sobre o espaço aéreo do território – medida que será executada enquanto vigorar a situação de emergência em Saúde Pública de Importância Nacional.
Em discursos recentes, Lula já havia antecipado a decisão de adotar medidas severas de proteção ao território indígena e de combate ao garimpo ilegal em território Yanomami.
“Resolvemos tomar a decisão de parar com essa brincadeira. Não terá mais garimpo e não terá mais sobrevoo, nem abastecimento de combustíveis”, afirmou o presidente durante evento no Palácio do Planalto.
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