Geóloga analisa impactos do Projeto de Lei que flexibiliza regras de licenciamento ambiental
17 de maio de 2021
O evento digital vai debater como desmatamento, queimadas, poluição das águas e outros temas têm impactado a saúde de populações tradicionais da Amazônia (Reprodução/Internet)
Com informações do Unisinos
MANAUS – Se o Projeto de Lei – PL 3.729, de 2004, aprovado pela Câmara dos Deputados na madrugada da última quinta-feira, 12-05-2021, que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental, for aprovado no Senado, a nova legislação contribuirá de forma irreversível para a aceleração dos efeitos nocivos da ação humana no meio ambiente.
Segundo a geóloga Thulla Christina Esteves, desde os anos 1950, com o aumento expressivo da população mundial, está em curso uma série de atividades que geraram e geram “efeitos irreversíveis” no meio ambiente, como as “alterações nos fluxos biogeoquímicos do nitrogênio e do fósforo e a perda da biodiversidade”. Entre as modificações no meio ambiente em decorrência da intervenção humana, Thulla estuda especificamente os tecnógenos, que são “modificações antrópicas dos meios geológico e geomorfológico”.
Esses tecnógenos, explicam, podem ser de dois tipos: construídos ou induzidos. Entre os primeiros, estão “as barragens, os aterros, as escavações, as modificações físicas e químicas de grandes extensões de solo para cultivo, dentre outras intervenções” e, entre os gerados de forma indireta, destacam-se “as erosões aceleradas pelo processo de desmatamento”.
Segundo ela, “estas modificações da superfície sempre existiram, desde o aparecimento dos seres humanos no planeta”, mas, em decorrência dos “avanços técnicos e científicos, em grande parte ligados ao modo de produção capitalista, estas modificações sofreram uma aceleração e começaram a se replicar por todo o planeta”. Por isso, pontua, “pesquisadores do campo das geociências sentiram a necessidade de propor um novo tempo geológico, o Quinário ou Tecnógeno (termos propostos por Ter-Stepanian em 1988): o tempo dos seres humanos como agentes geológicos”.
Geóloga Thulla Christina Esteves (Arquivo pessoal)
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, Thulla explica os efeitos sociais que a ação humana desordenada e predatória tem provocado no meio ambiente. À luz da conjuntura brasileira, ela destaca os riscos da mineração e do agronegócio para os povos tradicionais. “A mineração produz tecnógenos diretos associados aos processos de escavação (áreas de lavra – retirada do minério) e de deposição de rejeitos, estes últimos se associam aos maiores riscos – riscos já demonstrados pelas tragédias (crimes) de Mariana e Brumadinho no estado de Minas Gerais. No Pará, a barragem de rejeitos da Imerys Rio Capim, no município de Barcarena, vem causando impactos socioambientais significativos há mais de uma década”, exemplifica.
A pesquisadora é autora da tese “Amazônia do Antropoceno: uma proposta socioambiental para a classificação dos tecnógenos – reflexões sobre o risco e a injustiça ambiental” (2020), tendo por objetivo central a proposição de uma metodologia de classificação para os tecnógenos, que estabelece uma relação entre estes e o risco socioambiental.
Thulla Christina Esteves é graduada em Geologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestra em Geotecnia pela Universidade de São Paulo – EESC/USP e doutora em Ciências – Área de Concentração: Geografia Humana, pelo Programa Interinstitucional (Dinter) entre a USP – Universidade de São Paulo, no âmbito do Programa de Geografia Humana da FFLCH, e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa. De 2014 a abril de 2021 foi pesquisadora e docente na Faculdade de Engenharia Civil do Instituto de Geociências e Engenharias da Unifesspa. Atualmente é servidora no Instituto de Ciências e Tecnologias das Águas – ICTA da Universidade Federal do Oeste do Pará – Ufopa.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.