‘Governador inimigo’: indígenas protestam contra Antonio Denarium em Roraima
13 de março de 2023
Em alguns momentos, os indígenas presentes no evento ecoaram coros de 'governador inimigo' (Alexsandro Paiva/REVISTA CENARIUM)
Bianca Diniz – Da Revista Cenarium
BOA VISTA (RR) – Durante a 52ª Assembleia dos Povos Indígenas de Roraima, realizada nesta segunda-feira, 13, lideranças indígenas levantaram a voz contra a atual gestão do governador do Estado, Antonio Denarium, que não participou da assembleia por solicitação das lideranças. O evento, que reuniu lideranças locais e ministros do governo federal, contou também com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da primeira-dama, Janja da Silva. Essa foi a segunda vez que Lula retornou ao Estado, somente neste ano.
Em alguns momentos, os indígenas presentes no evento ecoaram coros de “governador inimigo”. “Não adianta o governador aparecer, agora, porque nunca se preocupou com os indígenas”, afirmou o coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista. Segundo ele, Denarium não era bem-vindo ao evento, porque era um inimigo e não aliado dos povos indígenas.
O evento teve como pauta principal as discussões sobre a proteção das terras tradicionais (Alexsandro Paiva/REVISTA CENARIUM)
O presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Davi Kopenawa, celebrou a ida do presidente Lula e fez um apelo urgente em relação à presença de garimpeiros na Terra Yanomami (TY). No evento, reforçou o discurso de Lula de que é necessário retirar todos os garimpeiros das terras indígenas. “Garimpeiros estão escondidos na Venezuela. […] Tem que tirar todos os garimpeiros”, afirmou Kopenawa.
“No dia 9 de março, 20 barcos desceram o Rio Parimiu, pararam e quebraram a barreira da comunidade. Precisamos colocar cabos de aços mais fortes para evitar. […] “Garimpeiros são pragas“, afirma.
Polêmicas do governador
O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), é alvo de investigação por falas discriminatórias contra o povo Yanomami, durante uma entrevista à Folha de S.Paulo, em 29 de janeiro. Denarium menosprezou a cultura e o modo de vida do povo indígena Yanomami quando disse que “eles [indígenas] têm que se aculturar, não podem mais ficar no meio da mata, parecendo bicho“. A fala foi avaliada como conduta ilícita passível de responsabilização civil e criminal, conforme o Ministério Público Federal (MPF).
Segundo o procurador da República Alisson Marugal, as falas de Denarium encaixam no crime do art. 20 da Lei N° 7.716/1989. “Verificam-se indícios de manifestação discriminatória baseada na etnia, apta a tipificar, em tese, o crime do artigo 20 da Lei N° 7.716/1989”.
Após a repercussão da matéria publicada pela REVISTA CENARIUM, o jornalista e vereador Bruno Perez (MDB), da Câmara de Vereadores de Boa Vista (RR), protocolou pedido de impeachment do governador.
De acordo com Bruno Perez, a publicação da CENARIUM integrou uma lista de 50 links que foram usados como base pelo parlamentar. “Pegamos as matérias mais embasadas e a matéria da CENARIUM deu base, sim, como prova, para denunciar a omissão de um governo que falhou. A matéria foi muito importante“, reconheceu o vereador que destacou a “omissão” e as falas recentes de Denarium.
Outra polêmica é sobre a irmã e o sobrinho do governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), que foram alvos de uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada no dia 10 de fevereiro. A operação, que recebeu o nome de BAL, tem como objetivo desarticular uma organização criminosa que coordenaria um esquema de lavagem de dinheiro, fruto do comércio de ouro ilícito.
Lula e ministros
Em seu discurso, Lula demonstrou preocupação com a falta de ajuda do governo estadual para financiar a produção local dos povos indígenas de Roraima. Ele também criticou o uso inadequado de recursos financeiros que poderiam ser destinados para combater a crise Yanomami que afeta o Estado, ressaltando a importância de investimentos para melhorar a situação dos povos indígenas, e garantiu que irá lutar por todas as demandas.
As lideranças indígenas reforçaram o discurso, destacando a importância de se ter aliados comprometidos com as questões indígenas.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, destacou a importância de se construir novas políticas adequadas que atendam às distintas realidades dos povos indígenas em todo o Brasil. Ela enfatizou que os ministérios devem trabalhar juntos para combater a calamidade enfrentada pelo povo Yanomami, retirando os garimpeiros que lá se encontram.
Sonia também cobrou a intensificação das ações do governo de Roraima para garantir a proteção dos povos Yanomami e de todos os outros povos em situação de vulnerabilidade.
A nova presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), a indígena roraimense Joênia Wapichana, agradeceu a oportunidade de assumir um órgão que, no passado, teve o papel oposto de acabar com os povos indígenas. Ela reconheceu que tem o desafio de tirar a instituição do “buraco fundo” de desmonte e sucateamento, mas destacou que a reconstrução está começando graças ao presidente Lula e, regionalmente, às portas abertas com as novas nomeações, como de Marizete de Souza Macuxi, coordenadora regional da Funai em Roraima.
Realizado no Lago do Caracaranã, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Normandia, Roraima, o evento teve como pauta principal as discussões sobre a proteção das terras tradicionais, gestão dos recursos naturais e a agenda do movimento indígena para o ano de 2023. A assembleia é realizada pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e, neste ano, acontece entre os dias 11 e 14 de março.
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