Há cinco anos, CENARIUM publicou primeiras informações sobre ‘cocaína negra’ na Amazônia com exclusividade
Por: Ana Pastana
18 de novembro de 2025
MANAUS (AM) – Há cinco anos, a CENARIUM publicou com exclusividade as primeiras informações sobre a chamada “cocaína negra” na Amazônia, tema que voltou a ganhar relevância na última semana. Na época, o repórter Náferson Cruz obteve, meses depois da apreensão, o documento da Polícia Federal (PF) que confirmou tratar-se de entorpecente modificado para dificultar a fiscalização.

Leia mais: ‘Cocaína negra’ descoberta em operação na Amazônia continha cobre e metal misturada a droga
A substância havia sido identificada pela primeira vez no Amazonas em abril de 2020, quando a Polícia Civil do Estado (PC-AM) apreendeu cerca de 40 quilos do material em uma embarcação pesqueira que havia partido do município de São Paulo de Olivença, a 985 quilômetros de Manaus, na região do Alto Solimões.
A substância é uma variação inodora, compacta e de aparência escura, desenvolvida por narcotraficantes para burlar controles antinarcóticos e dificultar a identificação por cães farejadores. Na época, o então diretor do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), delegado Paulo Mavignier, explicou que traficantes utilizam substâncias químicas para alterar a coloração da droga, tornando-a negra.
“Os traficantes usam substâncias químicas que fazem com que a droga fique com a cor negra, neste caso, conforme o laudo preliminar da PF, há presença de cobre e mais dois metais que ainda não foram identificados. O cloreto foi utilizado para oxidar o metal e dar a coloração, logo depois, remove-se as substâncias convertendo o metal para cocaína”, explicou Mavignier na ocasião.
A autoridade policial disse à CENARIUM que, até aquele momento, não havia histórico de apreensão de “coca negra”. A droga de alto teor de pureza, segundo ele, foi encontrada pela primeira vez no dia 9 de abril de 2020, quando cerca de 40 quilos foram encontrados em meio a um carregamento com 630 quilos de entorpecentes apreendidos por policiais civis e militares do Comando de Operações Especiais (COE), além de agentes da Receita Federal.

Nova apreensão
Cinco anos após o primeiro registro do entorpecente manipulado no Estado, a substância voltou a aparecer, desta vez em uma mansão localizada em um bairro nobre de Manaus. Em 10 de outubro de 2025, uma operação de busca e apreensão deflagrada pelo Denarc encontrou cocaína negra escondida em móveis da residência situada no bairro Ponta Negra, na Zona Oeste da capital.
De acordo com a PC-AM, no local foram apreendidos 16 quilos de cocaína tradicional e 34 quilos de cocaína negra. Os entorpecentes confiscados, conforme as autoridades envolvidas na operação, resultaram em prejuízo estimado de R$ 19,5 milhões ao crime organizado.
Em coletiva de imprensa realizada em 5 de outubro deste ano, o delegado-geral da PC-AM, Bruno Fraga, destacou que o que mais chamou atenção na operação foi a apreensão da cocaína negra, pois o entorpecente passa por um processo químico de modificação para que se torne indetectável por cães farejadores e pelos reagentes de aferição preliminares.

“O valor aproximado de cada quilo desse tipo de cocaína está avaliado em torno de 100 mil dólares, um valor muito acima do normal. Essa droga seria exportada para o exterior dentro de quadros e de cadeiras que foram encontrados na residência, mas após um trabalho muito bem feito pela Polícia Civil foi possível descobrir todo o esquema de ocultação antes que o entorpecente deixasse o País”, mencionou o delegado.
Segundo o delegado Rodrigo Torres, do Denarc, as diligências foram realizadas após, aproximadamente, 30 dias de investigação a partir de uma denúncia sobre o imóvel estar sendo usado como ponto de guarda e distribuição de drogas. A partir da averiguação da informação, foi solicitado o mandado de busca e apreensão para a residência.

“No local, a equipe policial encontrou um homem e uma mulher, de 51 e 45 anos, responsáveis por guardarem o material. Inicialmente também encontramos os 16 quilos de cocaína ‘comum’, avaliados em aproximadamente R$ 1,2 milhão, bem como cadernos com anotações relacionadas ao tráfico de drogas, onde pudemos identificar que havia mais entorpecentes escondidos nos quadros e nas cadeiras”, explicou Torres.
Droga manipulada passa despercebida por fiscalização
Segundo as autoridades da Polícia Civil do Estado, a cocaína negra é manipulada para driblar qualquer tipo de fiscalização e apenas análises mais aprofundadas são capazes de detectar o entorpecente. “Ela é uma cocaína escura que consegue chegar no seu destino final justamente em razão dessa engenharia criminosa que torna ela um entorpecente de difícil detecção“, explicou Bruno Fraga em entrevista a uma emissora de televisão.

Rodrigo Torres, do Denarc, também explicou como funciona a manipulação da droga, quando fala sobre o caso da apreensão na mansão em Manaus. Conforme o delegado, “para ludibriar os trabalhos policiais, os criminosos colocam outras substâncias no entorpecente, incluindo carvão, depois eles desfazem o processo e volta a ser a cocaína”.