Histórias que se cruzam: o poder transformador da adoção


Por: Marcela Leiros

25 de maio de 2025
Histórias que se cruzam: o poder transformador da adoção
Linair e o filho Aquiles, de dois anos (Ricardo Oliveira/Cenarium)

MANAUS (AM) – “É esse, não tinha como ser outro. A gente esperou muito tempo por ele”. A declaração resume o sentimento de Linair Lima Bizantino Serra e do esposo, Disley Silva Serra, ao conhecerem o filho, Aquiles Bizantino Serra, quando ele tinha 5 meses de idade. Hoje com 2 anos, o pequeno tornou-se a alegria de quem esperou por longos quatro anos, até o dia da ligação da Conselho Tutelar. Neste domingo, 25, Dia Nacional da Adoção, a CENARIUM conta histórias de caminhos que se cruzaram e famílias que se transformaram.

A ligação chega assim num dia comum. Foi um dia comum, como outro qualquer. Eu estava no sofá de casa e eu congelei. Foi uma ligação que eu perdi a voz. Eu, como professora hoje, perdi a voz total. Não tinha nem o que responder. Eu fiquei tão emocionada que eu não tinha o que responder“, contou Linair com filho no colo.

Linair, Aquiles e Disley; família se transformou com a chegada do pequeno, aos 5 meses (Reprodução/Arquivo pessoal)

Hoje, a gente vê que foi uma espera válida. Uma espera que não poderia ter sido diferente. Porque o Aquiles foi um presente pra nós. Foi uma criança super esperada, super aguardada“, completou ela.

“Foi uma criança super esperada”, conta a mãe Linair (Ricardo Oliveira/Cenarium)

A escolha do casal pela adoção foi feita após dez anos de casados, diante da dificuldade de uma gestão natural e os preços muito elevados de um tratamento de fertilidade. Mas não foi uma decisão tão difícil. Isso porque a adoção já faz parte da história da família de Linair, como é o caso do avô do pequeno Aquiles, Henrique Gomes Bizantino.

Como a minha família, por parte de pai, já tinha toda essa cultura da adoção — eu tenho primos, tios, inclusive o meu pai também foi adotado — então, para mim, era tranquilo. Aí eu precisava também da aprovação do pai dele [Disley]. Tivemos essa conversa, ele super aceitou. Disse que, para ele, seria viável a adoção. E aí nós começamos a procurar nos informar sobre isso“, completou a professora.

Aquiles e o avô, Henrique Gomes Bizantino (Ricardo Oliveira/Cenarium)

Entre o start do processo até a chegada de Aquiles foram quatro anos. Apesar da demora e da parte burocrática, Linair é firme ao declarar: é um processo válido e necessário para toda a família, inclusivo aos amigos.

Analisando todo o processo, a gente viu que é um processo super válido para a gente se preparar, preparar a família, preparar os amigos para a chegada de uma criança que não vai ter só pai e mãe. Ele vai ter tios, primos, amigos que vão conviver com ele. Hoje, nós vemos que foi um tempo necessário para a gente realmente aceitar, acolher a adoção, não só no nosso coração, mas no coração de todo mundo“, concluiu ela.

Aquiles e Linair (Ricardo Oliveira/Cenarium)
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Na mesma família, a jornalista Maria Eduarda Furtado, de 20 anos, também conheceu a mãe, Eliane Bizantino Américo de Assis, com 5 meses. Natural de Tucuruí, no Pará, ela chegou em Manaus (AM) em um barco e foi amor à primeira vista.

Quando ela chegou, a primeira impressão foi assim, emocionante. Quando eu vi a Eduarda no colo dela [da mãe biológica], eu não esperei ela nem descer do barco. Eu já peguei ela pela lateral do barco e fiquei com ela até hoje“, contou Eliane à CENARIUM.

Maria Eduarda e a mãe, Eliane Bizantino Américo de Assis (Reprodução/Arquivo pessoal)

Após conhecer a filha, foram 12 anos até regularizar os documentos da adoção. E Eliane e o marido, Pedro Nonato Alves, faziam questão de serem os pais de Eduarda de “papel passado”.

A gente ainda não estava satisfeito porque nós queríamos realmente ser pais. A paternidade, a maternidade, mesmo que não tivesse sido gerada de mim, mas que nós queríamos que o sobrenome dela fosse o nosso sobrenome. E graças a Deus nós conseguimos educar a Eduarda, sempre orientar pelos melhores caminhos que ela pudesse estar trilhando“, completou.

Para Maria Eduarda, nunca houve espaço para não se sentir especial, diante do amor e carinho dos pais e familiares, como a avó e os tios.

Como eu fui adotada muito nova, eu acho que nunca tive espaço pra não me sentir pertencente. Óbvio que tem familiares que não me consideram, mas aí também é só não considerar de volta. Mas é muito especial a troca que eu tenho com os meus tios. Que eu tive com a minha avó. Eu era muito bonequinha dela. A gente sempre andava combinando. Ela fazia de tudo por mim. Eu nunca tive espaço pra não me sentir especial“, compartilhou ela.

Maria Eduarda e a avó (Reprodução/Arquivo pessoal)

Apesar deste sentimento, foi preciso trabalhar, durante anos, com o sentimento de não pertencer, biologicamente, à família adotiva e de ter sido “excluída“, como ela mesma fala, pela família biológica. Hoje, ela diz ter entendido que foi escolhida por uma família que a amava e deixa um recado para quem deseja adotar e para as crianças e adolescentes que forem adotados.

Eu acho que para os pais que estão adotando é [preciso], independente de tudo, ter muita certeza do que está fazendo. Porque essas crianças, não só crianças, mas a pessoa que vai ser adotada, ela passou por muitas situações de vulnerabilidade. Então, você passar por todo um processo de adoção é muito doloroso. Principalmente para quem adota e para quem é adotado. Então, para quem for adotar, para ter certeza do que está fazendo, é um processo demorado“, disse.

Maria Eduarda e o pai, Pedro Nonato Alves (Reprodução/Arquivo pessoal)

Para quem é adotado, procurar sempre o psicólogo, sempre se sentir incluído nas coisas. Porque é muito fácil a gente se sentir excluído, a gente se sentir à parte. É muito fácil também a gente ficar triste e sentir, ‘Ai meu Deus, eu não sou dessa família’. Mas que essa família foi escolhida para gente e que ela no ama independente de tudo“, concluiu.

Dia Nacional da Adoção

O Dia Nacional da Adoção começou a ser celebrado no Brasil a partir de 1996, durante o Primeiro Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção de Crianças. Desde 2022, foi instituída também a Semana Nacional da Adoção, com a finalidade de refletir, agilizar e promover campanhas de conscientização sobre o tema.

Dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, divulgados em 2024, apontam que há mais de 46 mil pretendentes cadastrados em todo o País e quase 3,8 mil crianças e adolescentes esperando por um lar. No entanto, existe um desequilíbrio entre pessoas que querem adotar e as crianças e jovens que sonham em ser adotados.

Como adotar

O processo de adoção é gratuito e deve ser iniciado na Vara de Infância e Juventude mais próxima de sua residência. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.

Nas comarcas em que o novo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento tenha sido implementado, é possível realizar um pré-cadastro com a qualificação completa, dados familiares e perfil da criança ou do adolescente desejado.

Para saber todas as exigências legais para constituir uma família adotiva é possível conferir os passos necessários no site do Conselho Nacional de Justiça, neste link.

Revisado por Gustavo Gilona

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