Indígenas denunciam descaso após criança Kanamari morrer de pneumonia no Vale do Javari


07 de abril de 2023
Indígenas denunciam descaso após criança Kanamari morrer de pneumonia no Vale do Javari
Famílias indígenas esperam por atendimento no porto de Atalaia do Norte (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma criança indígena da etnia Kanamari morreu, na quarta-feira, 5, após contrair pneumonia. A criança acompanhava os pais, que saíram da aldeia São Luís, no Médio Javari, com destino a Atalaia do Norte, distante 1.136,73 de Manaus, para buscar atendimento de programas sociais.

Conforme o cacique Koráh Kanamari, a permanência de indígenas no porto de Atalaia é resultado da demora na assistência de programas sociais. “A perda dessa criança ocorreu por causa da demora do atendimento das instituições como Caixa Econômica/Lotérica e CRAS [Centro de Referência da Assistência Social], afirmou.

A espera pelos serviços de assistência social pode demorar de dias a meses e as famílias ficam abrigadas em barcos ou estruturas flutuantes sem proteção no porto de Atalaia do Norte. Conforme apurou a reportagem, a maior parte dos indígenas no porto dependem de doações para se manter.

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Abrigo flutuante é utilizado por indígenas que aguardam por atendimento de assistência social. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Assistência Social

A reportagem da REVISTA CENARIUM esteve no Vale do Javari entre os dias 26 e 28 de fevereiro e notou que todos os dias, no porto de Atalaia do Norte, famílias indígenas chegam em barcos cercados por palha e lona, na esperança de conseguir sacar os auxílios federais e estaduais, único meio de sobrevivência de alguns deles.

O trajeto feito pelos líderes, principalmente homens, tem como destino Tabatinga, distante 54 quilômetros de Atalaia. Para chegar ao local é necessário pegar a estrada de Atalaia até Benjamin Constant, com duração aproximada de 30 minutos de carro, e de Benjamin Constant para Tabatinga de barco, com o mesmo tempo de duração, com o custo de R$ 30 a R$ 40 por pessoa.

Os indígenas relatam que durante a viagem da aldeia à cidade é necessário fazer paradas para conseguir alimento, já que agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não permitem o transporte de alimentos da terra indígena para Atalaia do Norte.

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Barcos com cobertura de lona e palha servem de casas temporárias no porto de Atalaia do Norte (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Pneumonia, malária e desnutrição

Entre os anos de 2018 e 2022, 25 crianças entre 0 e 9 anos morreram com pneumonia, malária, ou desnutrição no Vale do Javari. Os dados foram obtidas pela reportagem da REVISTA CENARIUM por meio da Lei de Acesso à Informação.

A maior parte dos óbitos aconteceu em 2018, quando três crianças morreram por desnutrição proteico-calórica, duas por malária e três por pneumonia bacteriana. Em 2019, uma criança morreu por desnutrição proteico-calórica, duas por malária e seis com pneumonia. Já em 2022, uma criança morreu por desnutrição e outras duas por pneumonia.

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