Indígenas denunciam descaso após criança Kanamari morrer de pneumonia no Vale do Javari

Famílias indígenas esperam por atendimento no porto de Atalaia do Norte (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma criança indígena da etnia Kanamari morreu, na quarta-feira, 5, após contrair pneumonia. A criança acompanhava os pais, que saíram da aldeia São Luís, no Médio Javari, com destino a Atalaia do Norte, distante 1.136,73 de Manaus, para buscar atendimento de programas sociais.

Conforme o cacique Koráh Kanamari, a permanência de indígenas no porto de Atalaia é resultado da demora na assistência de programas sociais. “A perda dessa criança ocorreu por causa da demora do atendimento das instituições como Caixa Econômica/Lotérica e CRAS [Centro de Referência da Assistência Social], afirmou.

A espera pelos serviços de assistência social pode demorar de dias a meses e as famílias ficam abrigadas em barcos ou estruturas flutuantes sem proteção no porto de Atalaia do Norte. Conforme apurou a reportagem, a maior parte dos indígenas no porto dependem de doações para se manter.

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Abrigo flutuante é utilizado por indígenas que aguardam por atendimento de assistência social. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Assistência Social

A reportagem da REVISTA CENARIUM esteve no Vale do Javari entre os dias 26 e 28 de fevereiro e notou que todos os dias, no porto de Atalaia do Norte, famílias indígenas chegam em barcos cercados por palha e lona, na esperança de conseguir sacar os auxílios federais e estaduais, único meio de sobrevivência de alguns deles.

O trajeto feito pelos líderes, principalmente homens, tem como destino Tabatinga, distante 54 quilômetros de Atalaia. Para chegar ao local é necessário pegar a estrada de Atalaia até Benjamin Constant, com duração aproximada de 30 minutos de carro, e de Benjamin Constant para Tabatinga de barco, com o mesmo tempo de duração, com o custo de R$ 30 a R$ 40 por pessoa.

Os indígenas relatam que durante a viagem da aldeia à cidade é necessário fazer paradas para conseguir alimento, já que agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) não permitem o transporte de alimentos da terra indígena para Atalaia do Norte.

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Barcos com cobertura de lona e palha servem de casas temporárias no porto de Atalaia do Norte (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Pneumonia, malária e desnutrição

Entre os anos de 2018 e 2022, 25 crianças entre 0 e 9 anos morreram com pneumonia, malária, ou desnutrição no Vale do Javari. Os dados foram obtidas pela reportagem da REVISTA CENARIUM por meio da Lei de Acesso à Informação.

A maior parte dos óbitos aconteceu em 2018, quando três crianças morreram por desnutrição proteico-calórica, duas por malária e três por pneumonia bacteriana. Em 2019, uma criança morreu por desnutrição proteico-calórica, duas por malária e seis com pneumonia. Já em 2022, uma criança morreu por desnutrição e outras duas por pneumonia.

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