‘Indústria da degradação’, diz especialista sobre queda de multas ambientais na Amazônia


19 de julho de 2021
‘Indústria da degradação’, diz especialista sobre queda de multas ambientais na Amazônia
Em contrapartida, o desmatamento segue com a maior taxa em 12 anos (Reprodução/ Internet)
Priscilla Peixoto – Da Cenarium

MANAUS – Após divulgação do levantamento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ambientalista Carlos Durigan afirmou nesta segunda-feira, 19, que a redução de multas por crimes ambientais entre 2019 e 2020 fazem parte do “desmonte” promovido pelo governo federal, sob comando de Jair Bolsonaro. Nos Estados da Amazônia Legal, a queda das multas chega a 93% se comparado aos anos de 2014 a 2018.

De acordo com Durigan, um dos principais fatores baseados no estudo do Centro de Sensoriamento Remoto e do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da UFMA é a mudança na regras internas do Ministério do Meio Ambiente (MMA). “O termo indústria da multa, utilizado pelo presidente ao se referir aos órgãos de gestão e proteção ambiental, é o sinal verde que esta gestão dá a crimes ambientais de toda ordem”, disse inicialmente.

Carlos explica que a queda de multas pagas, não significa uma redução no desmatamento na Amazônia, mas o aumento da burocracia e dificuldade dos trabalhos realizados pelos profissionais da fiscalização. “Vai além do discurso que desmerece o trabalho das instituições, existe uma desestruturação dos mecanismos de controle de atividades impactantes no País. Inaugurou assim a Indústria da Degradação”, avalia o ambientalista.

Dados e desmatamento

De acordo com dados da UFMG, entre 2014 a 2018, eram 688 como média anual de multas pagas no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama). Já em 2019 e 2020, teve uma média de 44 multas pagas. Vale ressaltar que o desmatamento segue com a maior taxa em 12 anos.

A CENARIUM publicou uma matéria apontando um crescimento no desmatamento na Amazônia de 17% no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2020. Foram mais de três mil km2 desmatados em 2021. Mais de 1.602 km2, somente em junho, o que torna o maior número de desmatamento nesse período desde 2016, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Estado do Pará, por exemplo, já perdeu mais de 430 km2 de floresta, o que aponta 41% de todo o desmatamento na região somente no mês de junho. Pelo terceiro ano consecutivo, o ritmo de desmatamento na Amazônia vem aumentando e pode indicar uma perda de mais de 10 mil km2.

Processos

Informações obtidas pelos responsáveis pela pesquisa da UFMG, via Lei de Acesso à Informação (LAI) dão conta de que o número de processos ligados a infrações à temática julgados em 1º e 2º instância reduziu. De 5,3 mil processos anuais de 2014 a 2018 para a quantia de 113 julgamentos ano passado e apenas 17 em 2020.

Em entrevista para o site Terra, a especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima,  Suely Araújo, o número de multas ambientais pagas é historicamente baixo. “Boa parte dos autuados prefere usar todos os recursos antes de admitir a infração – mas agora o cenário “piorou muito”, declara Suely que também já foi presidente do Ibama na gestão Michel Temer (2016-2018).

Gestão negativa

Ainda na avaliação do ambientalista Durigan, a pesquisa realizada pelos cientistas da UFMG traz um panorama negativo que está nos bastidores do cenário de degradação socioambiental que vivemos atualmente. Ele explica que, historicamente, a distância existente entre a aplicação de uma penalidade ambiental até a execução, sempre foi grande e atribulada, e era comum infratores recorrerem e se esquivarem em processos de anos, antes de arcarem com seus crimes.

“Desta forma, o Governo Bolsonaro além, de desqualificar e desrespeitar o trabalho de instituições de Estado e ainda desestruturá-las, fragilizando-as no cumprimento de sua missão constitucional de atuar na proteção do patrimônio natural brasileiro, atua do lado do crime ambiental, promovendo a degradação ambiental e incentivando a ampliação da prática de atividades de grande impacto em todos os biomas brasileiros”, finaliza Durigan, lamentando a atual perspectiva.

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