‘Influenciador da capivara’ no Amazonas divulga bet e desativa comentários
Por: Jadson Lima
27 de maio de 2025
MANAUS (AM) – Após o caso da capivara Filó no Amazonas, que ganhou projeção nacional, o influenciador Agenor Tupinambá tornou-se um dos divulgadores da casa de apostas on-line Blaze, investigada por fraude. Hoje, dois anos após protagonizar um embate contra o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para ficar com Filó, ele vive em uma fazenda no interior do Estado e trabalha como criador de conteúdo.
Impulsionado nas redes sociais por mostrar a rotina ribeirinha e criar como “pet” a capivara, Tupinambá travou uma batalha com o instituto por causa da domesticação do animal silvestre. Na época, ele ganhou o apoio de figuras como a deputada estadual Joana Darc (União Brasil). Atualmente, o influenciador acumula mais de 1,7 milhão de seguidores em apenas uma rede social.
Em 29 de julho de 2023, o influenciador amazonense Agenor Tupinambá divulgou, pela primeira vez em seu perfil nas redes sociais, uma casa de apostas on-line. A publicação trazia informações sobre como garantir bônus e dezenas de rodadas grátis aos seguidores que acessassem um link disponível na legenda de uma foto em que ele aparecia segurando um aparelho celular com a logo da plataforma.

Em consulta ao perfil de Tupinambá, a CENARIUM contabilizou, até o dia 16 de maio deste ano, pelo menos dez propagandas da mesma casa de apostas. Todas as publicações tiveram os comentários desativados. Os posts recentes também mostram uma mudança de perfil do influenciador. Ele afirma que a plataforma traz “diversão de verdade” e pede que os seguidores joguem com responsabilidade.
As divulgações reiteradas apontam que o influenciador possui contrato vigente com a plataforma. “Diversão de verdade é só na Blaze, que joga junto com você. Jogue com responsabilidade. Lembrando que é para maiores de 18 anos e que a Blaze está 100% legalizada no Brasil”, menciona Tupinambá na última publicação, que está fixada em seu perfil. Veja:

Apesar de legalizada, a casa de apostas on-line já teve funcionários convocados para prestar depoimento como testemunhas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. O colegiado formado por senadores investiga a possível associação do setor de apostas on-line com organizações criminosas e práticas ilícitas, além de apurar o papel dos influenciadores digitais na popularização de plataformas de apostas.
A reportagem entrou em contato com o influenciador, por meio das redes sociais, para pedir esclarecimentos sobre a divulgação da plataforma. Ele também foi questionado sobre o valor do possível contrato assinado com a casa de apostas, mas até o momento não houve retorno.
Investigada por fraude
Em 11 de novembro de 2024, os integrantes da CPI das Bets votaram e aprovaram a convocação de um dos funcionários do setor de comunicação da empresa que Tupinambá divulga nas redes sociais, por meio de um requerimento do senador Izalci Lucas (PL-DF). Miguel Duarte, consultor sênior de Marketing da Blaze, foi chamado ao Congresso Nacional na condição de testemunha.
“A convocação de representantes da plataforma Blaze é fundamental para a CPI, dado que a empresa está sob investigação por fraudes, incluindo a não realização do pagamento de prêmios aos apostadores. A Blaze também foi envolvida em várias polêmicas, sendo acusada de promover práticas que facilitam a manipulação de resultados e a lavagem de dinheiro”, disse o parlamentar Izalci Lucas na justificativa.

De acordo com o senador, a plataforma de apostas “tem enfrentado investigações e acusações de estelionato no Brasil e a Justiça bloqueou mais de R$ 100 milhões da empresa. Ela não possui representantes legais no Brasil”. Até o momento, o convocado não foi ouvido.
Processo arquivado
A investigação contra a plataforma, por autoridades brasileiras, foi motivada após apostadores denunciarem que prêmios mais altos disponibilizados na casa de apostas não eram pagos. O caso foi conduzido pela Polícia Civil de São Paulo (PC-SP). A justiça estadual chegou a bloquear mais de R$ 100 milhões da empresa e retirou a plataforma do ar.
Meses depois, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu o arquivamento da investigação, argumentando que a Lei 14.790/23, sancionada em dezembro de 2023, instituiu normas gerais para os jogos de azar denominados apostas de cota fixa.
A instituição apontou que as investigações não encontraram quaisquer “elementos de prova” dos crimes de estelionato e pichardismo, o que, segundo a instituição, não havia “justa causa para embasar a continuidade da investigação criminal”.