Influenciadores da inclusão repudiam falas capacitistas de Lula

Ivan Baron e Marcos Mion repudiaram as falas capacitistas de Lula durante reunião com ministros. (Arte: Mateus Moura)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Influenciadores da inclusão utilizaram as redes sociais para repudiar falas consideradas capacitistas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante reunião com ministros, na terça-feira, 18, onde trataram sobre violência nas escolas. Ele se referiu a pessoas com deficiências intelectuais como “portadoras de problemas de parafusos” e ainda associou comportamentos violentos a Pessoas com Deficiência (PcD).

As falas foram consideradas preconceituosas e capacitistas pela comunidade por reforçar estereótipos ultrapassados e ainda confundir problemas de saúde mental com pessoas com deficiências intelectuais. “Temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de ‘parafuso’, pode uma hora acontecer uma desgraça“, disse Lula, ao citar dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação do governo federal e com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH), pedindo um posicionamento referente às falas de Lula, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.

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Ivan Baron (de branco) ao lado do presidente Lula, durante a posse em 1º de janeiro de 2023. (Reprodução)

O influencer Ivan Baron, conhecido por ser um dos representantes do povo brasileiro a subir a rampa presidencial ao lado de Lula no dia 1º de janeiro, em Brasília, foi um dos primeiros a se posicionar contra as falas consideradas “problemáticas” do chefe do Executivo.

“Um chefe de Executivo Nacional precisa se atentar a isso e por isso repudio a atitude, quanto à pessoa, todos sabem da minha enorme admiração por ele e estou sempre aberto ao diálogo”, escreve o influencer.

Baron, que luta pela causa anticapacitista, conta que entrou em contato com a equipe do governo federal, em particular com a primeira-dama Janja, pedindo retratação sobre as falas do presidente.

Já enviei a correção para a nossa primeira-dama Janja, que desde o início do mandato demonstra disponibilidade e cuidado com a comunicação do atual governo federal, principalmente quando se trata das minorias e grupos marginalizados. Além disso, a assessoria do presidente Lula já está ciente e tenho certeza que o mesmo não cometerá mais o erro“, confirmou.

Apesar de repudiar as falas, Baron destaca que, diferente dos últimos quatro anos, atualmente há a possibilidade de diálogo e correções. “Lembro muito bem do que o senhor disse durante a campanha: ‘Podem puxar a minha orelha, se precisarem, eu to aqui para aprender!’ e é exatamente isso que estou fazendo. Peço que reflita sobre a fala, ela foi capacitista e ofendeu milhares de pessoas com deficiência que, assim como eu, são marginalizadas e estereotipadas“, escreveu Baron, ao chefe do Executivo.

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O apresentador Marcos Mion, também conhecido pelo seu ativismo na pauta inclusiva, postou um vídeo nessa sexta-feira, 21, explicando os retrocessos nas falas de Lula. Ele é pai de Romeo Mion, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Primeiro que o termo usado há muitos anos é ‘deficiência intelectual’ e não deficiência mental, a gente precisa se policiar e aprender, é preciso se adequar”, declarou.

Marcos Mion e o filho Romeo, diagnosticado com autismo. (Reprodução)

Mion pontou, ainda, que os termos utilizados por Lula, além de pejorativos, causam danos à comunidade por reforçarem preconceitos antigos. “Isso não é só muito pejorativo como também incentiva que outras pessoas continuem usando esses termos, que eu já falei que precisam ficar de uma vez por todas no passado”, diz.

“A gente aqui luta pela conscientização e pela normatização de todas as condições, noite e dia, e imagina uma pessoa sem informação olhando para o filho com deficiência intelectual e perdendo todas as esperanças depois de ver o presidente afirmar que ele tem ‘parafuso desequilibrado’, por que continuar lutando?”, questionou o apresentador.

Veja o vídeo do apresentador Marcos Mion:

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