Jornada revela devastação causada por queimadas em terra indígena do Pará


24 de setembro de 2020
Jornada revela devastação causada por queimadas em terra indígena do Pará
Na rota da expedição, fogo, destruição e morte da fauna e da flora, na terra indígena Alto Rio Guamá (Reprodução/João Paulo Guimarães)

Por Angelo Madson Tupinambá*

PARÁ – Desde 1º de setembro, um incêndio florestal consome as matas da Terra Indígena Alto Rio Guamá (Tiarg), na altura da Aldeia Cajueiro, região localizada no sudeste do Pará. A origem ainda é investigada pela Polícia Federal (PF), mas provavelmente teria sido provocado por invasores, em busca da madeira de alto valor comercial ou da extração ilegal de Açaí dentro da terra indígena. A Tiarg foi criada pelo decreto n.º 307 de 21 de março de 1945, como reserva indígena.

De dia ou a noite, os incêndios na terra indígena Alto Rio Guamá, consomem a vida no maior bioma florestal do mundo (Reprodução/João Paulo Guimarães)

No entanto, os indígenas foram alvos de muitas perseguições, abusos e explorações, da segunda metade do séc. XIX até meados do séc. XX, consequência da política indigenista civilizatória e de ações do Governo que visava a “Integração Nacional da Amazônia” (Kahwage; Marinho 2011).

Mesmo sendo criada em 1945, a demarcação da Tiarg começou apenas em 1972 até 1976, em decorrência de inúmeros conflitos e invasões de território. Quando a Demarcação foi concluída, muitos colonos estavam morando na área, assim como haviam fazendas instaladas e até estradas como a que liga a Fazenda Irmãos Coragem de Mejer Kabacznick ao município Nova Esperança do Piriá, que tem 70% de seu território dividindo a terra indígena. Além da estrada que liga a rodovia BR-316 ao município de Garrafão do Norte.

Invasão

Em 1970, com aval da Funai, a Companhia Agropecuária do Pará invadiu 11 mil hectares da reserva e facilitou a ação de novos invasores na terra indígena. Essas invasões, ao norte e ao leste, formaram ao longo do tempo vilas e povoados, restando apenas os limites ao sul, onde passa o Rio Gurupi. Ao Norte, foi invadida por posseiros e a Leste por fazendeiros como Mejer Kabacznick, que roubou mais de 9 mil hectares da reserva.

Inimiga declarada da floresta, a motosserra é o instrumento mais usado para derrubar uma paisagem milenar (Reprodução/João Paulo Guimarães)

A formação de povoados, pastos e abertura de estradas facilitou a entrada de madeireiros, garimpeiros e até traficantes de drogas, com plantações de maconha dentro na área. Todas essas atividades colaboram para o desmatamento da terra indígena. Isso foi determinante para divisão dos Tembé em dois grupos: de aldeias do norte e do sul, Aldeias do Gurupi e Aldeias do Guamá.

A presença de invasores impactou as relações socioeconômicas e culturais, a territorialidade foi violada e a própria circulação de indígenas tornou-se difícil e perigosa. Essa divisão prejudica a unidade cultural entre os povos. A proximidade com município de Capitão Poço influenciou a cultura nas Aldeias do Rio Guamá. Enquanto no Gurupi a cultura é preservada, no Guamá as festas tradicionais e a prática de rituais se perderam, bem como a pintura corporal e o domínio da língua, praticamente nulo entre eles. Mas isso vem mudando graças à luta pela retomada de identidade!

Nesse momento, a terra indígena é alvo de invasões, de posseiros, fazendeiros e pequenos agricultores, que desmatam a floresta para estabelecer pastagens, culminando com a perda da cobertura florestal. Por isso, devemos apoiar e incentivar o trabalho dos Guardiões da Floresta, que são indígenas organizados para vigiar e proteger essa área historicamente cobiçada.

Informes Atualizados do Incêndio Florestal na Tiarg

Na manhã de ontem, quarta-feira 23, o Exército teve que se retirar da área de operações, mas o Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama) está no local, juntamente com 1º Grupamento de Proteção Ambiental de Paragominas (1° GPA- | Cbmpa), que com a força e organização dos Guardiões da Floresta do Povo Tembé Tenetehara dão o combate ao incêndio.

Impiedoso com a fauna e a flora, o fogo consome mais que vida, ele destrói a esperança dos verdadeiros guardiões da floresta: os índios e caboclos (Reprodução/João Paulo Guimarães)

Ontem, também, surgiu um novo foco de incêndio dentro da mata, mas, segundo informações do Cacique Reginaldo da Aldeia Cajueiro, a situação está se estabilizando e o fogo está prestes a ser controlado finalmente.

(*) Correspondente do Coletivo Idade Mídia para a REVISTA CENARIUM

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