Lessa recebeu ajuda de Bolsonaro em 2009 com atendimento médico


05 de julho de 2024
Lessa recebeu ajuda de Bolsonaro em 2009 com atendimento médico
Ex-presidente Jair Bolsonaro ao lado de Ronnie Lessa (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
Da Cenarium*

MANAUS (AM) – Relatório médico de Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), mostra que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o responsável por indicá-lo para atendimento na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) em 2009, quando o ex-policial militar foi alvo de um atentado.

O documento integra os autos da investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre a morte da vereadora e seu motorista Anderson Gomes. Em depoimento dado em 2019, Lessa confirmou que foi indicado por Bolsonaro para o atendimento, mas disse que obteve o apoio por meio de um outro policial, cujo nome não soube indicar.

O prontuário é um documento da época do atendimento que confirma as declarações do ex-PM em entrevista à revista Veja, em 2022, na qual apontou Bolsonaro como meio para obtenção do atendimento. Na ocasião, ele afirmou que não tinha proximidade com o ex-presidente e que nem sequer agradeceu pelo encaminhamento. A reportagem da Folha de São Paulo tentou contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PT), por meio do seu assessor, Fabio Wajngarten, mas não obteve retorno. Ele também não atendeu às ligações.

Ronnie Lessa ao ser preso em 2019 (Reprodução)

Lessa foi atendido na ABBR após sofrer um atentado a bomba, em outubro de 2009. Ele perdeu parte da perna esquerda e iniciou tratamento em dezembro do mesmo ano. Na ocasião, Bolsonaro era deputado federal. A explosão foi apontada como indício da participação de Lessa como segurança do bicheiro Rogério Andrade, vítima de atentado semelhante no ano seguinte. O ex-PM, porém, nega que tivesse relação com o contraventor à época.

Lessa foi preso em março de 2019 sob acusação de matar Marielle. Ele foi detido onde vivia, no Condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro também tem residência e viveu desde ao menos 2008 até 2018, quando foi eleito presidente. A possível relação entre os dois passou a ser alvo de interesse da polícia em outubro de 2019, após a apreensão da planilha de controle de entrada e saída de visitantes do condomínio.

A tabela mostrava que o ex-PM Élcio Queiroz, outro réu confesso na participação do homicídio, foi autorizado a entrar no local no dia do crime por uma pessoa da casa de Bolsonaro. Segundo as investigações, ele e Lessa partiram dali para matar Marielle. Em depoimento, um porteiro do condomínio afirmou que a liberação foi feita pelo próprio ex-presidente.

Investigação posterior mostrou que o porteiro errou ao indicar a casa de Bolsonaro como a responsável pela liberação da entrada de Élcio. Em novo depoimento, ele disse que se equivocou por nervosismo ao falar aos policiais sobre o suposto envolvimento do ex-presidente. O inquérito mostra que a possível relação entre Lessa e Bolsonaro continuou sendo investigada mesmo após o esclarecimento da confusão.

Em dezembro de 2019, o delegado Daniel Rosa, que havia assumido o caso em março daquele ano, chegou a pedir busca e apreensão na ABBR para obter os documentos originais – a entidade havia enviado cópias dos prontuários. A medida acabou não sendo decretada.

Lessa durante depoimento à polícia no inquérito que investigava o assassinato de Marielle (Reprodução)

A médica responsável pelo atendimento também foi ouvida. Ela afirmou que não se lembrava de Lessa, mas disse que a menção ao então deputado no documento se deveu a uma informação dada pelo ex-PM em seu primeiro atendimento. Ela afirmou à polícia que Lessa não concluiu o tratamento na ABBR. O ex-PM também disse o mesmo em depoimento e na entrevista à revista Veja.

Bolsonaro era patrono da ABBR. Quando soube o que aconteceu, interferiu. Ele gosta de ajudar a polícia porque é quem o botou no poder. Podia ser qualquer outro policial“, disse ele à revista.

Uma das linhas de investigação da polícia no caso Marielle na época era a possível participação de Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, no homicídio. O motivo seria uma briga entre o vereador e um assessor da vereadora nos corredores da Câmara. A hipótese foi descartada após diligências. Testemunhas afirmaram que, apesar de a discussão ter sido ríspida, Carlos e Marielle não se desentenderam diretamente.

Em março deste ano, a Polícia Federal prendeu o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão e o deputado Chiquinho Brazão (sem partido), sob acusação de serem os mandantes do crime. Eles são réus em ação penal no STF (Supremo Tribunal Federal). Lessa e Queiroz firmaram acordo de delação premiada e confessaram a participação no homicídio.

Leia mais: STF homologa delação de Ronnie Lessa no ‘Caso Marielle’
(*) Com informações de Folhapress

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