Lixo marinho pode afetar manguezais no interior do Pará


Por: Fabyo Cruz

04 de outubro de 2024
Lixo marinho pode afetar manguezais no interior do Pará
Moradores de comunidades costeiras retiram lixo dos rios (Divulgação)

BELÉM (PA) – A crescente poluição marinha, impulsionada pelo descarte inadequado de resíduos nas águas costeiras, tem se tornado um dos maiores desafios socioambientais na região amazônica, que abriga a maior faixa contínua de manguezais do planeta. Na cidade de Bragança, no Nordeste do Pará, essa problemática é particularmente evidente.

Comumente encontrados na região, resíduos como cordas, redes e outros equipamentos de pesca descartados são materiais que dão nome à chamada “pesca fantasma”. Esses objetos abandonados no mar por barcos pesqueiros afetam gravemente a fauna local, atingindo caranguejos nos manguezais e peixes, além de tartarugas e outros animais nos estuários e mar.

Em 2024, dez mutirões de limpeza foram realizados pelo projeto Mangues da Amazônia em diferentes municípios do Pará, contando com a participação de 741 voluntários. A iniciativa, realizado pelo Instituto Peabiru e Associação Sarambuí, com apoio do Laboratório de Ecologia de Manguezal (Lama), da Universidade Federal do Pará (UFPA), tem como objetivo reduzir o impacto dos resíduos nos ecossistemas costeiros, recolhendo toneladas de lixo que comprometem a saúde ambiental da região.

Lixo marinho recolhido na cidade de Bragança, no Pará, pelo Projeto Mangues da Amazônia (Divulgação)

Além dos detritos deixados pela ‘pesca fantasma’, uma grande quantidade de plástico e outros materiais descartados nas cidades são carregados pelos rios até o litoral. As correntes oceânicas também contribuem, trazendo lixo de outras partes do mundo para a costa amazônica. Este cenário coloca em risco a rica biodiversidade da região, exigindo uma resposta rápida e coordenada.

Para o coordenador do projeto Mangues da Amazônia e do Lama, da UFPA, em Bragança, no nordeste paraense, Marcus Fernandes, o engajamento das comunidades costeiras é fundamental para combater esse problema. “Com a sensibilização ambiental, há uma maior percepção pública para a necessidade de mudar atitudes em relação ao lixo, prevenindo riscos à fauna e flora, aos meios de sustento e à saúde das pessoas”, explica Fernandes.

Voluntários do projeto retiram resíduos dos manguezais em ação conjunta de limpeza em Bragança (Reprodução/Arquivo/San Marcelo)

Ainda bem conservada, a costa atlântica do Pará é vitrine de soluções que conciliam uso sustentável da biodiversidade, geração de renda e mitigação climática. Neste ano, em seu segundo ciclo de atividades, o projeto expandiu a abrangência para quatro municípios paraenses – Bragança, Tracuateua, Augusto Corrêa e Viseu. “O reconhecimento desse trabalho chega em momento oportuno para dar visibilidade aos manguezais, normalmente esquecidos nas agendas”, pondera o gestor dos Mangues da Amazônia, John Gomes.

As ações ambientais, sociais e culturais beneficiam direta e indiretamente cerca de 15 mil pessoas na região, com estratégia de maior aproximação com a sociedade. “A etapa atual é de validação científica das ações como frentes transformadoras, de modo a consolidar e replicar o modelo de atuação”, afirma Gomes.

Mobilizações

As iniciativas de conservação, que vão desde a realização de mutirões até campanhas de conscientização, são passos importantes para preservar os manguezais e garantir uma melhor qualidade de vida para as comunidades locais. A luta contra o lixo marinho, contudo, exige esforços contínuos e o envolvimento de todos os setores da sociedade, a fim de proteger um dos ecossistemas mais preciosos do planeta.

No aspecto ambiental, o trabalho dá continuidade à recuperação de manguezais em áreas degradadas, totalizando 16 hectares até o momento, com uso de tecnologias inovadoras. Além do mapeamento participativo dos locais para plantio de mudas, com apoio das comunidades extrativistas, o trabalho monitora o retorno dos caranguejos às áreas já restauradas no passado. Amostras de árvores são coletadas em diferentes áreas de pesquisa dos manguezais para o estudo de variabilidade genética, indicando onde estão as sementes que podem apresentar maior resiliência e sucesso no reflorestamento.

Leia mais: Mudanças climáticas ameaçam mangues amazônicos
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona

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