‘Lote de vacina desprezada por Bolsonaro evitaria mais 80 mil mortes’, diz pesquisador

O Brasil atingiu nessa quarta-feira, 26, a marca de 454.623 óbitos em decorrência da Covid-19 (Divulgação/Instituto Butantan)

Com informações da Folhapress

BRASÍLIA – O Brasil teria evitado pelo menos 80.300 mortes até maio deste ano se o Governo Jair Bolsonaro tivesse fechado em outubro de 2020 um contrato com o Instituto Butantan para a compra de 100 milhões de doses da Coronavac, que seriam entregues até este mês. É o que aponta cálculo feito pelo professor Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

A conta foi baseada no depoimento de Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, à CPI da Pandemia e considera que o Ministério da Saúde poderia ter recebido 49 milhões de doses a mais do que os 51 milhões previstos para serem entregues até o final de maio. O estudo faz estimativa de 81.500 óbitos a menos com margem de erro que varia de 80.300 a 82.700. O Brasil atingiu nessa quarta-feira, 26, a marca de 454.623 óbitos em decorrência da Covid-19.

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À CPI da Pandemia nessa quinta-feira, 27, Dimas Covas afirmou que a oferta de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, que é produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, não foi fechada em outubro por entraves políticos e burocráticos.

De acordo com Covas, após o fracasso da negociação naquela época, nova proposta foi feita ao Ministério da Saúde em dezembro, mas não era mais possível entregar a totalidade das doses até maio, mas sim por volta de agosto.

Por fim, o primeiro contrato assinado com o governo foi fechado em dezembro e previu a entrega de 46 milhões de unidades da Coronavac até abril deste ano. O segundo foi assinado em fevereiro prevendo a entrega de mais 54 milhões.

Segundo declaração de Covas, pelo acordo acertado pelo governo federal com o instituto paulista, 51 milhões de doses da Coronovac terminarão de ser entregues até o final de maio. Logo, o Brasil poderia ter garantido mais 49 milhões de doses nesse período não fossem os impasses.

Se tivesse recebido esse volume a mais teria evitado, além das cerca de 81.500 mortes, por volta de 174.642 internações em UTIs (unidades de terapia intensiva), segundo cálculo de Hallal.

Em outro cenário, caso o governo federal tivesse aceitado a oferta da Pfizer em agosto do ano passado, cerca de 14 mil mortes teriam sido evitadas ​com intervalo de confiança entre 5.000 e 25 mil óbitos.

Segundo depoimento à CPI do gerente-geral da farmacêutica na América Latina, Carlos Murillo, 4,5 milhões seriam entregues no País de dezembro a março pela oferta feita ao Brasil no meio do ano passado. O acordo atual com a Pfizer prevê 100 milhões de doses até o final deste ano. Ou seja, segundo estimativa de Hallal, 95.500 mortes teriam deixado de ocorrer caso o Brasil tivesse fechado os acordos com a Pfizer e com o Butantan mais cedo.

Para o cálculo, o pesquisador usou os seguintes parâmetros: um terço da população com anticorpos, letalidade do coronavírus de 1% e eficácia da vacina de 50% no caso da Coronavac e 94% para a Pfizer. Com base no índice da população com anticorpos e na letalidade da doença, chega-se a um total de mortes esperado caso o País tivesse recebido as doses previstas. Deste número descontam-se os óbitos que poderiam ter sido evitados com base na eficácia da vacina e chega-se ao resultado.

Nessa quinta-feira, 27, o diretor do Butantan afirmou que as negociações para a compra da Coronavac evoluíram ao longo do mês de outubro. O contrato inicial acordado previa a aquisição de 100 milhões de doses pelo Ministério da Saúde. No entanto, sem nenhuma explicação, esse contrato foi retirado e o governo afirmou que compraria 46 milhões. Foi nesse momento que o presidente Bolsonaro afirmou a apoiadores, sendo gravado, que não iria comprar a vacina chinesa.

“Infelizmente, essas conversações não prosseguiram, porque houve, sim, aí, uma manifestação do presidente da República, naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato, incorporada, não haveria o progresso desse processo”, afirmou Covas à comissão no Senado.

“Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou? Nós já tínhamos as doses, estavam disponíveis. E eu, muitas vezes, declarei de público que o Brasil poderia ser o primeiro País do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tínhamos que enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato, como do ponto de vista também regulatório.”

A Coronavac começou a ser aplicada em 17 de janeiro, no mesmo dia em que a Anvisa deu autorização para o uso emergencial da vacina.

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