Manaus recebe maior encontro de extrativismo da borracha do Norte do País
11 de março de 2023
Extração de látex (Reprodução/Christian Braga/WWF-Brasil)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Capital do Amazonas, Manaus recebeu nesta semana um evento que marcou a retomada da cultura da borracha na Amazônia. O “1º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha” reuniu seringueiros de sete associações dos municípios de Pauini, Canutama, Eirunepé, Manicoré e Itacoatiara, assim como extrativistas de Apuí, Boca do Acre, Tefé e Santarém, esse no Pará.
Considerado o maior encontro de extrativistas da borracha nativa na região amazônica, o evento aconteceu entre os dias 7 e 9 de março, na Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, localizada na Avenida André Araújo, 2.230, bairro Petrópolis, Zona Sul de Manaus. À REVISTA CENARIUM, o secretário-geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquato, comentou sobre o resgate da cultura da exploração sustentável da borracha.
“Foi um momento de emoção, primeiro, porque sou filho e neto de extrativistas da região do Rio Juruá. Esse momento traz uma reflexão muito grande porque toda a revolução social vem do povo e para o povo e sempre com o imaginário de uma sociedade mais justa e um mundo melhor. CNS iniciou com o foco de proteger a floresta mas, proteger os extrativistas também e há décadas estamos na luta para revitalizar a cadeia da borracha“, recordou.
O encontro em Manaus reuniu extrativistas e seu representantes e instituições junto a fundações e órgãos governamentais do Estado e de municípios (Reprodução/Christian Braga_WWF/Brasil)
Ao final do evento, o CNS divulgou, em parceria com seringueiros do Amazonas, um manifesto com reivindicações e proposições. O documento, assinado por 37 representantes de entidades ligados a cadeia produtiva da borracha no Estado do Amazonas, reforça a importância dos esforços, mas, aponta gargalos para o crescimento do setor, como a ausência de políticas públicas, dificuldades de acesso ao mercado e assistência técnica.
Ainda segundo Dione, é preciso uma mudança de paradigmas para redescobrir brasileiros que são essenciais para o futuro ambiental do País.
“Nós temos que mostrar que as populações extrativistas do Brasil e seringueiros não são entraves para o desenvolvimento do Brasil, pelo contrário, nós somos riqueza, cultura e tradição. E isso precisa ser valorizado. Nós precisamos dar continuidade a essa luta e visibilidade a esses povos”, desabafou. “Saio desse encontro com a certeza que vamos revitalizar a cadeia extrativista da borracha na Amazônia e isso vai garantir a floresta em pé“.
As populações extrativistas lutam há décadas para que produtos como a borracha, voltem a compor a balança comercial do Brasil (Reprodução/Christian Braga_WWF/Brasil)
Balanço
Reunidos sobre o slogan do projeto “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica”, os extrativistas fizeram um balanço da produção a partir da proposta de retomar esse importante insumo amazônico. Em 2022, foram 60 toneladas de borracha comercializada. Uma safra que rendeu mais de R$ 700 mil em transações para um universo de aproximadamente 250 famílias de seringueiros. O projeto nasceu de uma parceria da Fundação Michelin e a Rede WWF.
A representante da fundação e especialista em desenvolvimento sustentável, Bruna Mesquita, falou sobre a importância de projetos que promovam o desenvolvimento econômico guiado pela sustentabilidade. Para fortalecer as sete associações, a iniciativa viabilizou uma porcentagem por quilo de borracha produzida para cada associação, que nessa safra chegou a mais de R$ 100 mil.
“São iniciativas como esta, ambientalmente responsáveis, socialmente equilibradas e financeiramente viáveis que colaboram e nos guiam em direção a um futuro cada dia mais sustentável”, afirmou.
O látex, como é conhecido o leite da seringueira, gera um dos produtos mais utilizados na indústria moderna e foi o responsável pela riqueza de Manaus e Belém no século XX (Reprodução/Christian Braga_WWF/Brasil)
Participação
O 1º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha contou com a presença de representantes dos governos municipais, do Governo do Estado do Amazonas e de instituições que atuam na iniciativa, como Memorial Chico Mendes, Conselho Nacional das Populações Extrativista (CNS), Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Michelin Brasil e Singapura e do WWF-Brasil e WWF-França.
A safra da borracha em 2022 fez girar mais de R$7.000,00 mil em negócios para 250 famílias extrativistas do Estado do Amazonas (Reprodução/Christian Braga_WWF/Brasil)
A extração do látex é feita no segundo semestre do ano, na temporada seca. Já a safra da castanha, ao contrário, ocorre no período chuvoso. O processo de produção envolve atividades com baixo impacto ambiental, utilizando pequenas aberturas de trilha na mata.
A renda desses produtos, somada a outros produtos da sociobiodiversidade em uma mesma área (castanha-do-brasil, pescados, óleos de copaíba entre outros) fornece renda para milhares de famílias que vivem em Reservas Extrativistas (Resex) e demais áreas protegidas de uso direto, além de territórios indígenas e ribeirinhos.
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