‘Massacre dos coalas’: empresas e proprietário de terra são acusados de crueldade animal na Austrália

Segundo Fundação Australiana dos Coalas, o país tem apenas 43 mil exemplares destes marsupiais em liberdade. (Pixabay)
Com informações do Estadão

SIDNEY – Duas empresas e um proprietário de terras na Austrália foram indiciados com centenas de acusações de crueldade contra animais, depois de desmantelada uma operação de limpeza em propriedades no ano passado que resultou na morte de 70 coalas, em um episódio descrito por um legislador australiano como um “massacre”.

Além das dezenas de coalas mortos, as autoridades descobriram coalas feridos e famintos em uma propriedade privada em Cape Bridgewater, no sudoeste de Victoria, em fevereiro do ano passado, depois que o proprietário das terras e uma empresa florestal limparam o habitat, segundo declaração de um regulador de conservação do Estado feita por comunicado na quarta-feira, 23. A operação impactou mais de 200 coalas, causando “dor ou sofrimento irracionais a dezenas deles”, disse o regulador.

Ativistas de defesa de animais disseram que as árvores foram derrubadas com os coalas ainda nelas. “Alguns foram mortos instantaneamente, seus corpos encontrados presos sob galhos pesados ou espalhados entre pilhas de árvores derrubadas”, de acordo com o grupo conservacionista Animals Australia, que enviou veterinários ao local. “Alguns sofreram ferimentos traumáticos e seus ossos foram quebrados. Outros ficaram órfãos e ainda foram encontrados coalas amontoados nas poucas árvores restantes da propriedade”.

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Austrália - coalas
Imagem fornecida pela Victoria Conservation Regulator de um coala levado para um centro de reabilitação no Estado de Victoria  (Victoria Conservation Regulator via The New York Times)

As autoridades australianas encontraram 21 coalas mortos no local, e outros 49 estavam famintos, desidratados ou com tantas fraturas que tiveram de ser sacrificados. Mais de 70 coalas receberam tratamento para ferimentos e outros 120 foram soltos de volta à selva.

As mortes dos coalas causaram indignação nacional no País, quando relatadas pela primeira vez por um morador local nas redes sociais. O governo do Estado de Victoria prometeu que os responsáveis seriam punidos.

O proprietário e a empresa foram acusados de mais de 250 crimes de crueldade contra animais, incluindo 36 acusações de crueldade agravada por causar ferimentos fatais. Outra empresa contratante foi acusada de crime de crueldade. As autoridades não identificaram o proprietário nem as empresas.

O caso está programado para ser ouvido no tribunal australiano em fevereiro de 2022. No País, a pena máxima para uma acusação de crueldade animal agravada que leva à morte é de US$ 157 mil e para uma empresa é de US$ 65 mil ou 2 anos de prisão para o indivíduo responsável.

Andy Meddick, um legislador do Estado de Victoria, membro do Animal Justice Party, disse estar “aliviado” que “centenas de acusações foram feitas pelo massacre dos coalas de Cape Bridgewater”. E Meddick acrescentou: “Visitei o site e vi o que aconteceu; foi uma das piores coisas que vivenciei”.

Coala é uma espécie protegida na Austrália e os marsupiais são listados como vulneráveis nos Estados de New South Wales, Queensland e no Território da Capital Australiana. Os animais foram gravemente afetados pelos incêndios catastróficos de 2019 que queimaram milhões de hectares no País. Muitos foram resgatados, outros foram chamuscados e desidratados em meio à natureza.

Outras ameaças

Enquanto os coalas evoluíram para se adaptar aos incêndios florestais, os animais estão enfrentando novas ameaças das mudanças climáticas e do desenvolvimento humano, que deslocaram as populações locais, prejudicando sua capacidade de sobreviver aos incêndios. Em algumas regiões, dizem os cientistas, o número de coalas diminuiu em até 80%, embora seja difícil saber quantos ainda permanecem na Austrália.

Eles também são suscetíveis à clamídia, uma doença transmissível que pode causar infertilidade e morte. Algumas pesquisas de populações de coalas em Queensland sugerem que ao menos metade dos coalas selvagens estão infectados com a doença.

Essa suscetibilidade compartilhada com os humanos levou alguns cientistas a argumentar que estudar e salvar os coalas podem ser a chave para o desenvolvimento de uma vacina contra a clamídia para humanos.

No ano passado, o governo australiano fez um esforço para somar a população de marsupiais nativos e registrar onde eles vivem – uma operação complicada, já que os coalas não são fáceis de detectar na natureza. Quando os marsupiais estão no alto das árvores, parados e obscurecidos pelo dossel, eles facilmente se perdem a olho nu. Sendo assim, o governo usou drones que buscam o calor, pesquisas acústicas e cães detectores para encontrá-los. 

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