Melany Marinho: a única mulher trans cantando música sertaneja em Manaus
11 de junho de 2021
"Sigo resistindo e lutando pelo meu espaço", diz a cantora(Reprodução/Instagram)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – Considerada pelo público a “rainha do sertanejo de Manaus”, a voz potente embala canções de um ritmo predominantemente cantado por vozes masculinas. Estamos falando de Melany Marinho, ela foi a primeira mulher cantora do segmento sertanejo em Manaus.
Melany é uma mulher trans, carrega com muito orgulho as histórias, dificuldades e conquistas ao longo da carreira. Aos 30 anos, nascida e criada na capital amazonense, além de se dedicar à música, ela também é ligada às questões do movimento LGBTQIA+, inclusive, foi destaque em blogs, como o do ativista Neto Lucon (SP), site e especializado na questão da transexualidade, da tratativa sobre a doença da transfobia e da luta pelos direitos da causa “Trans”.
“Defendo o segmento sertanejo há mais de 14 anos, fui a primeira mulher a entrar nesse ramo e, sigo como a única mulher trans na área. Para a surpresa de todos fui eu quem abriu espaço para que outras mulheres também seguirem neste caminho aqui em Manaus. Tenho muito orgulho”, conta Melany.
Trajetória
Melany conta que começou a relação com a música desde os cinco anos de idade, porém, classifica como um processo complicado devido às condições financeiras e à falta de conhecimento que levavam à desistência da artista em focar na carreira.
“Era muito nova, comecei aos 5 anos, desisti, assim como aos 10 anos e também aos 15. Aos 17 anos tive a brilhante ideia de montar um grupo musical feminino com quatro amigas de infância que após um tempo não deu certo”, relembra a cantora.
Em 2007, ainda com 17 anos, Melany participou de uma banda de forró chamada “Moleca Atrevida” como backing vocal. Após o término da banda, a jovem decidiu seguir sozinha, foi quando teve contato mais intenso com a música sertaneja, onde atualmente é reconhecida.
Ela segue como a única mulher transexual do ramo sertanejo em Manaus (Reprodução/Instagram)
Público, preconceito e mercado
Na perspectiva da cantora, o mercado da música sertaneja é abrangente em todo o País, porém, no âmbito local, é um ritmo que está crescendo. Apesar de ser popular na região, a cantora ressalta que ainda falta oportunidade de espaço e mais mulheres que possam se integrar ao hall das cantoras sertanejas.
“Ainda vivemos muito essa questão do preconceito, machismo, sexismo, da ignorância de pessoas que não agregam a arte da musicalidade e desse segmento. Creio que seja somente de 5% a 10 % de mulheres que estejam no mercado sertanejo em Manaus”, avalia.
Em relação ao acolhimento do público em relação à nova perspectiva de mulheres entrando para o mercado sertanejo, Melany conta que a recepção é positiva. O que não impede de a cantora trans ter passado por situações de constrangimento e transfobia.
“Logo no início da minha carreira, houve muitas chacotas, exclusões e até perdi trabalhos e contatos profissionais simplesmente por ser trans. As pessoas diziam que eu não era adequada para estar no palco da casa deles”, relembra Melany.
Com o passar do tempo e com a experiência adquirida nos palcos, a artista já não se abala tanto e segue firme no propósito de alcançar o sucesso, por meio da sua arte.
“Hoje eu não posso negar que ainda sofro sim preconceito no mercado da música, mas agora aprendi a amadurecer mediante a isso. Não aceito o desrespeito, é claro, mas não absorvo as palavras que as pessoas proferem para mim. Confesso que já diminuiu bastante e com fé, luta e persistência a gente vai abrindo portas”, explica Melany Marinho.
Clipe
No último dia 04 de junho, estreou o primeiro clipe da cantora. Intitulado “Eu neguei”. A estreia do trabalho em vídeo está disponível no YouTube e faz parte do protejo “Vozes do Arco- íris”, com apoio da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc).
“Estou muito feliz com esse trabalho, além do YouTube, o clipe também está disponível nas redes sociais da Sejusc e em breve em outras plataformas digitais. Aproveito para deixar um recado para vocês que têm talento, ou que passam por algum tipo de preconceito, seja qual for o motivo, não deixem de sonhar, lutem, acreditem no potencial de vocês e de Deus que vai dar tudo certo”, finaliza.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.