Misoginia e sexismo nas Olimpíadas de Tóquio

Durante as Olimpíadas de Tóquio a gente presenciou um show de machismo e misoginia contra as mulheres que estavam competindo. E isso não ficou apenas restrito às brasileiras, muitas outras mulheres de outras nacionalidades passaram por tamanho desrespeito, falta de decoro, nem sem muito bem como classificar atos machistas dentro de uma competição tão importante. Isso não era pra ocorrer, mulher nenhuma deveria passar por isso, principalmente quando se trata de uma competição mundial. É muito lamentável e precisamos falar sobre isso.

Eu sempre falo em meus artigos que o feminismo ainda luta por direitos civis básicos, ainda brigamos para sermos ouvidas, para que nossos direitos sejam cumpridos e respeitados.

Mulheres sempre sofreram machismo na história das olimpíadas, era algo normalizado, ninguém questionava, ainda bem que as coisas mudaram.

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Em algumas modalidades só recentemente aceitaram mulheres, a inserção de mulheres dentro das Olimpíadas de modo geral foi conquistada através de muita luta, e isso precisa ser respeitado.

Nessas Olimpíadas de Tóquio a gente pôde testemunhar muitos casos de machismo e misoginia. Vimos mulheres lutando pelo fim da sexualização do esporte e pelo direito de escolha do que vestir.

Em 1964 nas Olimpíadas que também foram em Tóquio, apenas uma mulher fez parte da delegação brasileira. A carioca Aída dos Santos. Ela não tinha patrocínio e nem mesmo uniforme para competir, e não tinha também técnico. Sua modalidade era salto em altura.

Quando ela foi para essas Olimpíadas tinha 27 anos e ninguém acreditava em seu potencial.

Aída era formada em geografia, pedagogia e educação física. Via no esporte uma possibilidade de estudar e se graduar. Atuou em todas as áreas de sua formação. Aída enfrentou dificuldades que nem podemos imaginar e mensurar, pois além de mulher era negra.

Eu poderia citar vários episódios de misoginia e machismo que ocorreram nessas últimas olimpíadas. Mas vou me ater apenas a dois lamentáveis eventos.

A atleta de apenas 20 anos da Coreia do Sul, sofreu uma onda de machismo e misoginia violenta e covarde dos homens de seu país.

Eles não aceitavam que a garota usasse o cabelo curto, isso mesmo, eles se acharam no direito de atacar uma campeã olímpica apenas por ela usar o cabelo curto. Surreal demais, mas ocorreu.

An San, atleta da Coreia do Sul, com apenas 20 anos bateu o recorde olímpico sendo a primeira arqueira a conquistar três medalhas de ouro numa única olimpíada, e a primeira competidora, entre todas as modalidades e gêneros a somar três vitórias nesta edição em Tóquio, mas o problema era o seu cabelo curto. Os homens machistas de seu país foram ainda mais longe, exigiram até que a coreana devolvesse seus títulos olímpicos e pedisse desculpas, tudo isso por que a menina usa o cabelo do jeito q acha melhor, afinal o cabelo é dela.

A equipe da Alemanha de ginástica feminina fez algo inédito na história das olimpíadas, a luta contra a sexualização das mulheres chegou à maior competição esportiva do mundo, e isso é maravilhoso.

Elas abandonaram o uso dos collants e optaram por usar macacões, e assim protagonizaram um momento que entrou para a história das Olimpíadas, sem dúvidas.

O que essas meninas fizeram foi mais que um ato de coragem, foi um ato político. Elas estão lutando contra a sexualização e a objetificação da mulher na ginástica artística, estão lutando pelo direito das mulheres usarem o que acharem confortável, é sobre liberdade e poder de escolha e respeito por suas decisões.

Com certeza foi um momento muito importante para o esporte mundial e um recado para o mundo.

As jogadoras da seleção de handebol da Noruega foram multadas por não aceitarem jogar de biquíni, pois é, isso em pleno século XXI ocorrendo na Europa. A cantora Pink se ofereceu para pagar a “multa sexista”, como foi denominada por ela esse ato de misoginia dentro da competição, a cantora fez duras críticas à Confederação Europeia de Handebol.

As meninas se sentiam desconfortáveis em usar na parte de baixo biquíni e optaram por short, uma maneira também de lutar contra a sexualização no esporte. Mas foram multadas e criticadas, já com os homens as coisas são bem diferentes, eles usam regata e bermuda, um traje que não os deixa desconfortáveis e nem os sexualiza.

Bom, ser mulher é exatamente isso. Ainda lutamos por direitos básicos, ainda gritamos para sermos ouvidas, ainda lutamos pelo direito de usarmos o que quisermos, lutamos pelo fim da sexualização de nossos corpos no esporte e em outras áreas. Ainda brigamos para que tenhamos o direito de cortar o cabelo como quisermos, lutamos pelo fim da misoginia e do machismo e do sexismo, lutamos pela nossa liberdade e pelo direito de ser quem somos.

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(*)Regiane Pimentel é bacharel em direito, ativista social e feminista amazônida.

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