Movimentos sociais vão realizar ato contra translesbocídio na Amazônia Legal
28 de dezembro de 2023
À esquerda, Ana Caroline, e à direita, Jéssica Hadassa (Montagem: Paulo Dutra/Revista Cenarium Amazônia)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium Amazônia
MANAUS (AM) – Movimentos sociais vão se reunir para realizar ato contra episódios de translesbocídio (assassinato de mulheres trans, travestis e lésbicas) ocorridos em Estados da Amazônia Legal. O protesto, que acontece na sexta-feira, 29, às 16h, na Praça da Saudade, no Centro de Manaus, foi motivado após as mortes de Ana Caroline Sousa Campêlo, 21, no Maranhão, e Jéssica Hadassa, 28, no Amazonas.
O encontro vai contar com grupos LGBTQIAPN+, de direitos humanos e indígenas, bem como sociedade em geral e ativistas da causa. De acordo com a coordenadora de Comunicação do Fórum de Movimentos Sociais LGBTIA+ do Amazonas, Karen Arruda, entidade que organiza o ato, o objetivo é pedir justiça pelas mortes dessas e de outras vítimas por todo o País.
“A importância é tornar visível a nossa insatisfação coletiva, fortalecer nossos vínculos sociais e nossas redes de luta como estratégia de fortalecimento da comunidade LGBTQIAPN+ e o posicionamento público contra todas as formas de violência contra nossos corpos, vidas e afetos”, afirmou Karen Arruda à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA.
A coordenadora de Comunicação do Fórum de Movimentos Sociais LGBTIA+ do Amazonas, Karen Arruda (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Para a coordenadora do Fórum de Movimentos, a sociedade ainda precisa evoluir em relação às questões dos direitos dos LGTBQIAPN+, assim como no espaço de respeito que essas pessoas lutam todos os dias. Ainda de acordo com Arruda, os ensinamentos para a melhor convivência social devem ser repassados de geração em geração.
“Quando a gente pensa em sociedade, tem muita coisa para acontecer, para que a gente consiga, realmente, ter um lugar que tenha respeito para com mulheres lésbicas, mulheres trans e travestis. Eu acho que eu posso resumir em empatia, em humanidade, em respeito (…) É primordial a gente saber ou a gente ensinar as próximas gerações a olhar para o outro no mesmo lugar”, ressaltou.
Caso Ana Caroline
A jovem Ana Caroline Sousa Campêlo, 21, foi encontrada morta com os olhos, a pele do rosto, as orelhas e o couro cabeludo arrancados, no Bairro Novo, em Maranhãozinho (a 232 quilômetros de São Luís), no Maranhão. O crime ocorreu no último dia 13 de dezembro e é investigado como lesbofobia (discriminação a mulheres lésbicas) pela Polícia Civil do Estado (PC-MA).
A vítima, que havia se mudado recentemente para o município, para morar com a namorada, desapareceu após ter saído do trabalho. O corpo foi encontrado horas depois em uma estrada vicinal que dá acesso ao povoado Cachimbós, em Maranhãozinho. À Polícia Militar, o tio dela, que comunicou o desaparecimento, disse que encontrou uma bicicleta e um celular perto da casa onde ela morava.
Ana Caroline Sousa Campêlo, 21, sonhava em entrar para o Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) (Reprodução/Redes Sociais)
A PC-MA informou que o caso é investigado pela Superintendência de Polícia Civil do Interior. Até o momento, 18 dias após a morte de Ana Caroline, nenhum suspeito foi apresentado e o caso segue sem respostas.
A jovem trabalhava na conveniência de um posto de combustível e, segundo familiares, tinha o sonho de entrar para o Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA).
A indígena do povo Sateré-Mawé Jéssica Hadassa, 28, uma mulher trans e Pessoa com Deficiência (PcD), foi morta a tiros após ter a foto divulgada em grupos de mensagens como suspeita de ter estuprado uma criança de cinco anos em Parintins (a 369 quilômetros de Manaus). A organização comunitária “Juventude Sateré-Mawé” apontou a divulgação de fake como motivo.
O posicionamento do movimento social se deu depois de o delegado Adilson Cunha, da Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Parintins, informar, inicialmente, à imprensa que o exame de conjunção carnal, que serve para comprovar se houve ou não a violência, teve resultado negativo. A indígena foi liberada da unidade policial e, em seguida, assassinada em uma estrada por uma pessoa não identificada.
Há uma semana, a investigação concluiu que Jéssica Hadassa cometeu o crime de estupro de vulnerável. À CENARIUM, a titular da DIP de Parintins, delegada Marna de Miranda, que presidiu o inquérito policial, afirmou que exames hospitalares feitos pelo Serviço de Atendimento à Vítima de Violência Sexual (Savvis) comprovaram a violência.
Jéssica Hadassa ficou detida na delegacia de Parintins e, após ser liberada, foi morta a tiros (Reprodução/Internet)
“Duas fichas de atendimento hospitalar e um laudo produzido pela médica do Savvisapontam o abuso sexual. Os três documentos comprovam a materialidade delitiva, isto é, a existência do crime. Dito isso, temos, ainda, toda uma investigação presidida por mim, com depoimentos de testemunhas, imagens de câmeras de segurança e relatório de investigação que confirmam a autoria”, afirmou Marna de Miranda.
Sobre a informação divulgada inicialmente e que levou à liberação de Jéssica Hadassa, a delegada-titular disse que não responderia pelas declarações e conclusões do delegado Adilson Cunha.
Violência LGBTQIAPN+
O Brasil é o País que mais assassina pessoas LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais, Não binários e outras identidades, incluídas em “+”) no mundo. O número de mortes dos quatro primeiros meses de 2023 alcançou 70% dos casos totais do ano passado, até a última contagem divulgada.
A violência, que acomete vítimas pela orientação sexual ou identidade de gênero, soma 80 mortes violentas, entre janeiro e abril deste ano. No ano passado, 273 pessoas do espectro foram assassinadas, segundo dados do Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, documento produzido por meio do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ divulgado em maio.
Violência contra a população LGBTQIAPN+ (Reprodução/Agência Brasil)
Segundo o levantamento, no primeiro quadrimestre de 2023, travestis e mulheres trans somaram o maior número de vítimas. As violências apontadas foram do tipo: agressões físicas e verbais, negativas de fornecimento de serviços e tentativas de homicídio. Veja abaixo os números por segmentação.
Travestis e mulheres trans – 50 mortes (62,50%);
Gays – 26 mortes (32,50%);
Homens trans e pessoas transmasculinas – 2 mortes (2,50%);
Mulheres lésbicas – 2 mortes (2,50%);
Bissexuais e pessoas identificadas com outros segmentos – sem registros.
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