Crime de ódio: assassinato de jovem no Maranhão levanta debate sobre lesbofobia

Ana Caroline tinha 21 anos e havia acabado de se mudar para viver com a companheira; ela queria ser bombeira (Foto: Reprodução / Redes Sociais)
Yana Lima – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS – Com os olhos, a pele do rosto, as orelhas e o couro cabeludo arrancados, características típicas de crimes de ódio, a jovem Ana Caroline Sousa Campêlo, de 21 anos, foi encontrada morta em Maranhãozinho (MA), a 232 quilômetros de distância da capital São Luís. O crime, investigado pela Polícia Civil como lesbofobia, tem chocado o País.

Grupos de ativismo lésbico convocaram uma manifestação para esta segunda-feira, 18, na capital paulista, pedindo justiça pela jovem. O ato em São Paulo será às 18h na praça do Ciclista, na Avenida Paulista.

Ana Caroline, que havia se mudado recentemente para o município, para morar com a namorada, desapareceu na madrugada de domingo, 10, após ter saído do trabalho. O corpo foi encontrado nas primeiras horas da manhã de domingo em uma estrada vicinal que dá acesso ao povoado Cachimbós, em Maranhãozinho. À Polícia Militar, o tio dela, que comunicou o desaparecimento, disse que havia encontrado uma bicicleta e o celular perto da casa onde ela morava.

PUBLICIDADE

A Polícia Civil do Maranhão disse que o caso está sendo investigado pela Superintendência de Polícia Civil do Interior.


Repercussão

O assassinato repercutiu nas redes sociais e ativistas, políticos e intelectuais ligados à causa LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais) pedem uma apuração rigorosa e que seja feita justiça.

A ativista LGBTQIA+ e deputada federal, Érika Hilton (PSOL/SP), lamentou o caso e garantiu que vai acompanhar as investigações.

“Meu mandato seguirá atento aos desdobramentos da investigação para que identifiquem, e prendam, quem cometeu essa monstruosidade. E também seguirá sempre lutando pelo combate aos crimes de ódio motivados por homotransfobia e misoginia no nosso judiciário e nas polícias”, disse a parlamentar, pelo X (antigo Twitter).

A deputada federal Érika Hilton lamentou o caso pelo X (Foto: Reprodução)

A filósofa e escritora Márcia Tiburi desdtacou que o ato lesbofóbico foi apoiado pela sensação de impunidade masculina em casos de feminicídio contra lésbicas. “Exigimos das autoridades que a Justiça seja feita não apenas para o caso de Ana Caroline, mas também que ocorram ações efetivas para combater o massacre de mulheres lésbicas que vem ocorrendo e sendo silenciado há anos”, publicou.

A deputada federal Daiana Santos (PCdoB-RS) também lamentou o crime de ódio contra uma mulher lésbica. “Me dói ter que noticiar mais uma morte, porque a gente está cansada de falar das nossas só depois da tragédia. Cada corpo que cai é a vitória da impunidade. É isso que temos que impedir”, cobrou a parlamentar.



Lesbofobia

A lesbofobia é a discriminação sofrida por mulheres lésbicas. Ela se difere da homofobia, porque carrega, além do preconceito contra a orientação sexual, traços de machismo e misoginia.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo menos 0,9% das mulheres brasileiras declara-se lésbica e 0,8% bissexual. Entre 2021 e 2022, a Associação Lésbica Feminista de Brasília – Coturno de Vênus e a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) realizaram o Lesbocenso Nacional, para conhecer o perfil das mulheres lésbicas brasileiras. Os dados mostram que a maior parte dessas mulheres, 78,61%, sofreu lesbofobia, ou seja, discriminação por serem lésbicas.   

Segundo o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil, publicação apresentada em 2018 durante a 46ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Combate à Discriminação de LGBT (CNDC/LGBT): 

  • Ao menos 126 lésbicas foram assassinadas no país entre 2014 e 2017
  • Também em 2017, 71% dos crimes foram cometidos em espaço público;
  • 43% foram vítimas de pessoas com quem tinham vínculos afetivos e/ou familiares;
  • 83% dos crimes foram cometidos por homens.

Luana Barbosa foi brutalmente espancada e morta, vítima da violência policial, e inspirou projeto de lei que cria Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio (Foto: Reprodução / Redes Sociais)

Os dados foram obtidos por meio do monitoramento de redes sociais, jornais eletrônicos e outros meios de comunicação, uma vez que não há uma estatística oficial de crimes de lesbocídio no País.

Entre estes casos está Luana Barbosa, que era negra, lésbica e periférica, foi brutalmente espancada e morta, vítima da violência policial. O crime ocorreu em 2016, em Ribeirão Preto, no interior do Estado de São Paulo. Ela dá nome ao Projeto de Lei que tramita na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), para estabelecer o dia 13 de abril como o Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio, ou seja, o assassinato de lésbicas, tendo como motivação a discriminação.  

Leia Também:
Organização diz que fake news motivou morte de mulher trans indígena no Amazonas
Dia da Visibilidade Lésbica: desconstrução, preconceito e liberdade para amar

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.