MP-AC investiga linchamento de mulher após boatos sobre morte de filha
Por: Bianca Diniz
27 de março de 2025
RIO BRANCO (AC) – O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio do Centro de Atendimento à Vítima (CAV) e do Núcleo de Atendimento Psicossocial (Natera), divulgou nessa terça-feira, 25, que acompanha o caso da morte de Yara Paulino da Silva, de 27 anos, que foi linchada por moradores do conjunto habitacional Cidade do Povo, em Rio Branco (AC), no dia 24 de março, após ser acusada por meio de boatos de matar a própria filha, um bebê de 2 meses.

De acordo com a Polícia Civil do Acre (PC-AC), as investigações concluíram que a acusação contra Yara surgiu após o desaparecimento da filha, o que gerou rumores entre os moradores da comunidade. Uma ossada foi encontrada na região e inicialmente associada à criança desaparecida, mas a perícia técnica confirmou que os restos mortais pertenciam a um animal, possivelmente um cachorro, e não à criança.
O MPAC, em parceria com a Polícia Civil e outras instituições, realizou uma série de ações para amparar a família de Yara. De acordo com o órgão, duas filhas da vítima, de 10 e 2 anos, presenciaram o linchamento e estão agora sob os cuidados da tia materna, que atualmente está em situação de abrigo no Parque de Exposições Wildy Viana, devido à cheia do Rio Acre. As crianças estão sob acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais do MPAC.
Além do atendimento psicossocial, o MPAC informou que também efetuou a regularização da documentação civil de uma das meninas, que ainda não tinha registro de nascimento. As equipes do CAV e Natera seguem monitorando a situação junto à rede de Assistência Social para garantir suporte adequado e necessário a longo prazo.
Fake news
O promotor de Justiça Thalles Ferreira, coordenador adjunto do CAV e titular da Promotoria Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania, ressaltou a importância da proteção das vítimas e alertou sobre fake news e boatos podem gerar tragédias. “Esse caso também serve como um alerta sobre os perigos das fake news. Uma pessoa perdeu a vida possivelmente devido a mentiras espalhadas na comunidade. O MPAC não tolera esse tipo de ação, baseada no discurso de ódio e na justiça com as próprias mãos. Vivemos em um Estado Democrático de Direito, e cabe à Justiça apurar os fatos dentro da legalidade”, ressaltou o promotor.
O caso gerou grande repercussão no Estado do Acre e em todo o Brasil devido à morte de Yara causada por disseminação de boatos. O MPAC tem reiterado que o combate à desinformação é fundamental para evitar tragédias como essa.
Segundo a Polícia Civil, as investigações apontam que o crime foi alimentado por boatos na comunidade, que levaram a população a tomar a justiça com as próprias mãos. A delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) segue com a apuração do caso, que agora inclui a identificação dos responsáveis pelo linchamento de Yara.
O delegado Leonardo Ribeiro, responsável pelas investigações, afirmou à imprensa que o crime foi motivado por informações falsas espalhadas entre os moradores. “As investigações continuam, e estamos ouvindo testemunhas para esclarecer todos os fatos. O que sabemos até agora é que o linchamento foi impulsionado por um boato, sem qualquer base real”, explicou Ribeiro.
Filha desaparecida
O suposto desaparecimento de Cristina Maria, filha de Yara, segue sob investigações. Segundo informações da PC-AC, Cristina está desaparecida há cerca de três semanas, mas até o momento da morte de Yara não havia registro oficial sobre o caso. O ex-marido de Yara, ouvido pela polícia, afirmou que a filha teria sido sequestrada, porém, a informação não foi comunicada às autoridades competentes.
Cristina Maria foi incluída na plataforma Amber Alert Brasil, uma iniciativa que utiliza alertas em redes sociais e outros meios de comunicação para reforçar a busca por crianças desaparecidas. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), em parceria com a plataforma Meta, ampliou a divulgação da busca pela criança, com a publicação de um alerta descrevendo a menina como de pele branca, olhos castanhos e cabelos lisos e castanhos. A última vez em que foi vista foi no dia 15 de março.

Enquanto isso, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa segue investigando o caso, incluindo a possibilidade de envolvimento de facções criminosas no desaparecimento de Cristina Maria, conforme novas informações obtidas nas investigações. A polícia também busca esclarecer as circunstâncias em que a criança desapareceu e os motivos que levaram à propagação do boato que culminou no linchamento de Yara.