No Dia da Independência, Bolsonaro se exalta como ‘imbrochável’ e ignora fome e desemprego no Brasil
07 de setembro de 2022

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
BRASÍLIA – O discurso do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), nesta quarta-feira, 7 de setembro, em manifestação na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), ao se referir como “imbrochável” repercutiu mal. A declaração ocorreu após o encerramento do desfile cívico-militar que acontece anualmente na capital federal, em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil e ignorou problemas sociais como a fome, insegurança alimentar e o desemprego. Candidatas à Presidência da República criticaram a fala como “vergonhosa e patética”.
Antes do coro, o presidente e candidato à reeleição também fez comparação entre Michelle e a esposa do adversário Luiz Inácio Lula da Silva, Rosângela da Silva, mais conhecida com “Janja”. “Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir: uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é ao meu lado, não. Muitas vezes, ela está é na minha frente”, disse Bolsonaro.
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Ele ainda deu um conselho aos solteiros. “E eu tenho falado aos homens solteiros, para os solteiros que estão cansados de ser infelizes, procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela para serem mais felizes ainda”, disse o presidente, antes de beijar Michelle e puxar o coro de “imbrochável”.
A autoexaltação do presidente repercutiu negativamente. A presidenciável Soraya Thronicke pontuou, por meio do Twitter, que o Brasil não precisa saber das intimidades do presidente, mas necessita de um líder. “Divorciado do respeito à data, em pleno 7 de Setembro, o presidente insiste em propagar q é imbrochável – informação que, sinceramente, não interessa ao povo brasileiro. O que o Brasil precisa, mesmo, é de um presidente incorruptível. Bolsonaro prima pela desqualificação”, complementou.
Fome para 33 milhões
Há dois meses, o levantamento chamado 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, foi feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) mostrou que 6 a cada 10 brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar. São 125,2 milhões de pessoas nesta situação, o que representa um aumento de 7,2% desde 2020 e de 60% na comparação com 2018.
Ou seja, atualmente, 33 milhões de pessoas passam fome no País. Em 1993, eram 32 milhões de pessoas nessa situação, segundo dados semelhantes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – a população brasileira então era 27% menor que a de hoje.
Desemprego
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgada em 31 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao último trimestre móvel, mostrou que até julho o País tinha 9,9 milhões de desempregados – pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego, mas não conseguiram encontrar.
A taxa de desemprego no País ficou em 9,1% no trimestre móvel encerrado em julho de 2022. O resultado ficou abaixo do verificado no trimestre móvel anterior (encerrado em abril, de 10,5%) e também abaixo do resultado de julho de 2021 (13,7%).
Críticas
Além de Thronicke, a também candidata à Presidência Simone Tebet (MDB) chamou Bolsonaro de “vergonhoso e patético”, e pontuou que a fala é um desrespeito às mulheres. “Vergonhoso e patético! No dia da Independência do Brasil, o Presidente mostra todo seu desprezo pelas mulheres e sua masculinidade tóxica e infantil. Como brasileira e mulher, me sinto envergonhada e desrespeitada”, disse.
Um internauta compartilhou um meme lembrando que há 200 anos foi declarada a Independência do Brasil e hoje, na comemoração do bicentenário, o presidente da República se autodenomina imbrochável. “Realmente… Imbrochável. Sem mais”, disse.
Desfile
O desfile cívico-militar em comemoração ao Dia da Independência, em 7 de setembro, que ocorre anualmente em Brasília – interrompido nos últimos dois anos pela pandemia de Covid-19 – iniciou neste ano com a quebra de protocolo pelo presidente da República. Ao seu lado, estava o empresário Luciano Hang, que é alvo do Supremo Tribunal Federal (STF) por defender, em um grupo de WhatsApp, um golpe de Estado no País.
Após chegar à Esplanada dos Ministérios acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente andou pelo percurso do desfile à pé cumprimentando o público, que o chamou de “mito”. Luciano Hang também caminhou ao lado do presidente da República durante as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil.
Durante vários momentos do evento, os apoiadores do chefe do Executivo federal também gritaram frases contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. “Nossa bandeira jamais será vermelha” foi a frase repetida várias vezes durante o evento.