Número de indígenas mortos por Covid-19 chega a 818; são 32.615 casos, afirma entidade
20 de setembro de 2020

Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium
MANAUS – A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) confirmou até as 11h deste domingo, 20.818 óbitos em virtude de complicações por Covid-19 no País. Segundo a entidade, já são 32.615 casos confirmados de indígenas contaminados com o novo Coronavírus.
De acordo com a entidade, cerca de 158 povos foram afetados pela doença. A alta mortalidade por doenças contagiosas não é novidade para os povos da floresta, que há muito tempo convivem com crises sanitárias. Mas o avanço do novo Coronavírus assusta as comunidades que viviam em relativo isolamento com contatos frequentes com os municípios do entorno.
Abandonados pelo poder público, ainda em março, os Yudja e outros povos do Território Indígena do Xingu (TIX), no Mato Grosso, traçaram seu próprio plano de isolamento para que a Covid-19 não chegasse em suas aldeias.
Foram realizadas conversas com a comunidade e a partir de orientações dos mais velhos eles começaram a abrir os acampamentos. Os indígenas pretendem retornar as suas aldeias somente quando não houver mais riscos de contágio.
“Descobrimos esse meio de nos prevenir, de se proteger da doença e de não ir para a cidade. Todos estão sabendo e estamos lutando, colocando na cabeça de todos, no coração, no pensamento, falando da importância da nossa proteção para proteção da própria natureza”, conta o líder indígena Karin Yudja.
Contaminação nas cidades
Por sua vez, no Amazonas, Estado com maior número de indígenas do Brasil, a realidade é diferente, principalmente no município de São Gabriel da Cachoeira (a 862.56 quilômetros de Manaus), onde os indígenas precisaram sair de suas aldeias e enfrentar longas filas em casas lotéricas para sacar o auxílio emergencial.

Em São Gabriel da Cachoeira há apenas uma unidade hospitalar, o HGuSGC, que é estadual e gerido pelo Exército. Não há UTI na cidade, sendo que os pacientes graves são encaminhados para Manaus, em unidade aeromédica. A viagem demora, em média, duas horas.
Especialistas ouvidos pelo Instituto Socioambiental apontam um quadro de incerteza sobre a pandemia no Alto Rio Negro, assim como nas demais regiões do Estado, devido a fatores como desconhecimento sobre o vírus, baixa testagem e insuficiência de dados. “Meu pai morreu de Covid-19, após contrair o vírus em uma de suas idas ao banco”, disse o líder tradicional do povo indígena Kokama, Edney da Cunha Samyas, 38 anos, que contou à REVISTA CENARIUM sobre a perda de 11 familiares para a Covid-19.