‘O direito de viver está em risco’, diz Joênia Wapichana sobre indígenas Yanomami ameaçados pelo garimpo


05 de maio de 2022
‘O direito de viver está em risco’, diz Joênia Wapichana sobre indígenas Yanomami ameaçados pelo garimpo
A IN foi publicada conjuntamente pela Funai e pelo Ibama no Diário Oficial da União desta sexta e, segundo Wapichana, é inconstitucional. (Lohana Chaves/Asscom Joênia Wapichana)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — A deputada Joênia Wapichana (Rede-RR), autora do requerimento para a criação do grupo de trabalho para acompanhar a situação dos povos indígenas Yanomami, em Roraima, defendeu nessa quarta-feira, 5, que as providências sejam tomadas o mais rápido possível. À REVISTA CENARIUM, a primeira mulher indígena eleita à Câmara Federal disse que o direito de vida dos povos indígenas está em risco.

“É necessário que as autoridades possam tomar providências o mais rápido possível, porque o que está em risco é a vida, o bem principal da pessoa, o direito de viver. Os Yanomami, como qualquer cidadão brasileiro, têm esse direito como prioridade também dentro de suas terras, com suas próprias culturas e costumes e essa é uma proteção constitucional estabelecida em lei. Vida indígena também importa”, declarou a parlamentar.

Em entrevista à CENARIUM, Joênia Wapichana falou da situação preocupante em meio ao agravamento do garimpo ilegal em Roraima, na Terra Yanomami. A parlamentar disse ser um absurdo e inaceitável o que vem acontecendo com os indígenas da região, principalmente, contra crianças e adolescentes violentadas sexualmente por garimpeiros.

“A situação do povo indígena Yanomami de Roraima tem sido bastante preocupante, no sentido que cada vez mais está se agravando o impacto do garimpo ilegal e, mais recentemente, pelas denúncias que a Associação Hutukara tem visto e pelas próprias lideranças indígenas. É absurdo e inaceitável essa questão das crianças, meninas e jovens adolescentes serem vítimas de estupro, além do sumiço da comunidade indígena”, lamentou Joênia Wapichana.

A parlamentar ressaltou a importância de investigar as violações de direitos humanos e contra os povos indígenas, com o objetivo de frear as invasões em terras protegidas. Para a deputada Joênia Wapichana, a criação do grupo de trabalho na Câmara vai buscar entender o que aconteceu com os indígenas Yanomami que desapareceram da Comunidade Aracaçá, onde a menina de 12 anos vivia com a família.

“É importante averiguar, se debruçar em soluções para frear essa violência, por isso, foi criado o grupo de trabalho dentro da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara Federal, para que parlamentares pudessem analisar e propor projetos de legislação para avançar na proteção das terras indígenas e conter essa violência que estamos vivendo e acompanhando”, salientou.

Os Yanomami

O caso da adolescente de 12 anos foi denunciado na semana passada pelo líder indígena Júnior Hekurari Yanomami. Nas redes sociais, Júnior relatou que a morte da menina aconteceu quando um grupo de homens do garimpo invadiu a Comunidade Aracaçá, na região de Waikás e Palimiú, e levou a jovem e outras duas mulheres. A tentativa de sequestro resultou no sumiço de uma criança de 4 anos, filha de uma das adultas, que desapareceu no Rio Uraricoera.

A suspeita é que a criança e a mãe estariam tentando se defender dos garimpeiros, quando a filha da mulher se desequilibrou do bote em que estavam navegando. Os indígenas, revoltados e transtornados com a situação, foram orientados a não reagirem, pois os garimpeiros poderiam estar fortemente armados.

Dias depois da morte da menina, a comunidade indígena foi destruída pelo fogo e os 25 moradores da região desapareçam. Segundo Júnior Yanomami, o corpo da jovem pode ter sido cremado, como parte de um ritual fúnebre comum e tradicional da etnia. Além disso, quando um familiar morre, os indígenas costumam deixar a aldeia onde viviam.

Apib no STF

Em uma petição endereçada nessa quarta-feira, 5, ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) solicitou a retomada emergencial de operações contra o garimpo ilegal na Terra Yanomami, em Roraima, e a destruição, em um prazo de 60 dias, de pistas de pousos utilizadas exclusivamente por garimpeiros.

Veja também: Apib vai ao STF pedir retomada de operações contra garimpo na Terra Yanomami e destruição de pistas de pouso

O documento de 33 páginas é assinado pelos advogados Luiz Henrique Eloy Amado e Maurício Serpa França, respectivamente, coordenador e assessor jurídico da Apib. A petição pede que seja promovida a destruição completa de equipamentos e aeronaves de garimpo, e que sejam indicados e fiscalizados os aeródromos privados da região, informando se cumprem a legislação aplicável, assim como quais medidas foram tomadas em relação aos irregulares. Outros pedidos podem ser conferidos aqui.

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