Organização diz que fake news motivou morte de mulher trans indígena no Amazonas


15 de dezembro de 2023
Organização diz que fake news motivou morte de mulher trans indígena no Amazonas
A mulher trans e indígena Jéssica Hadassa (Reprodução/Redes Sociais)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – A organização comunitária “Juventude Sateré-Mawé” apontou, nesta sexta-feira, 15, a divulgação de fake news como o motivo que levou à morte da mulher trans e indígena do povo Sateré-Mawé, Jéssica Hadassa, 28. Ela foi morta a tiros na noite de quinta-feira, 14, após ter a foto divulgada em grupos de mensagens como suspeita de ter estuprado uma criança de cinco anos, em Parintins (a 369 quilômetros de Manaus).

O delegado da Delegacia Interativa de Polícia (DIP) Adilson Cunha informou à imprensa que o exame de conjunção carnal, que serve para comprovar se houve ou não a violência, teve resultado negativo e outros exames foram solicitados para comparação.

A vítima pertencia ao território ancestral da Calha do Rio Uaicurapá, na zona rural. Em nota publicada nas redes sociais, a entidade também pede providências e respostas à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e ao Ministério dos Povos Indígenas, além da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) que atua na cidade.

“Infelizmente, somos violentamente debruçados diante da sociedade. Taxados como ‘selvagem’, ‘doidos da cabeça’. Palavras e ações discriminatórias contra nossos corpos por serem diferentes. Esse caso não é apenas por ela ser uma mulher trans, mas, no parâmetro geral, qualquer pessoa está sujeita, diante de ‘fake news’ ou da falta de apuração das notícias. Repudiamos qualquer violência”, diz a nota.

Jéssica Hadassa ficou detida na delegacia de Parintins e, após ser liberada, foi morta a tiros (Reprodução/Internet)

A Juventude Sateré-Mawé também destaca que o crime não deve ficar impune e pede Justiça pela morte da indígena. “Não deixaremos que nosso ‘corpo território’ seja injustiçado'”, finaliza nota.

Sobre o caso

Na quinta-feira, Jéssica Hadassa foi conduzida à Delegacia Interativa de Polícia (DIP) sob suspeita de cometer o crime de estupro contra uma criança de cinco anos. A denúncia foi feita pela mãe da menina.

Uma foto da indígena foi registrada quando ela estava na unidade policial e enviada a grupos de mensagens instantâneas. Logo, o caso causou revolta na população.

Jéssica Hadassa ficou detida até o momento em que saiu o resultado do exame de conjunção carnal, que deu negativo, segundo informou o delegado Adilson Cunha.

O corpo da indígena foi encontrado com marcas de tiro na região da cabeça, às margens de uma área de mata, horas após ela ter deixado a sede da unidade policial. A autoria dos disparos é desconhecida.

Leia a nota do delegado:

“A cidadã (travesti Jéssica Hadassa) foi detida e apresentada por suposto estupro de vulnerável. Como tínhamos um prazo exíguo para terminar o procedimento, começamos as oitivas e os exames. No final da tarde, os exames realizados no Savis, responsável direto por realizar este tipo de corpo de delito em crianças, deu negativo para violência, o que fez a autoridade instaurar o inquérito para pedir novos exames para comparação. Desta forma, a detida foi liberada após prestar seu interrogatório, ficando ciente que o inquérito foi instaurado para investigar a sua conduta”.

Por Adilson Cunha – Delegado da 3ª DIP Parintins
Leia mais: ‘Corpos de travestis e transexuais são duplamente mortos, física e simbolicamente’, declara Assotram após morte violenta de mulher trans em Manaus
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga

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