‘Corpos de travestis e transexuais são duplamente mortos, física e simbolicamente’, declara Assotram após morte violenta de mulher trans em Manaus

Até o momento, a vítima não foi identificada (Reprodução/Divulgação)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – “O Brasil continua sendo o País que mais mata travestis e transexuais no mundo”, relembra Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado do Amazonas (Assotram), após morte violenta de mais uma mulher transexual no Amazonas. A vítima foi encontrada às margens de um igarapé, na Avenida Theomario Pinto da Costa, bairro Chapada, Zona Centro-Sul de Manaus, na tarde de sábado, 28.

Externamos a dor da comunidade trans amazonense, na perda de mais uma irmã em decorrência da brutalidade, da discriminação e da desumanidade que corpos transgêneros são tratados, não somente no Amazonas, mas em todo o País. Por isso, continuaremos lembrando a todos/das/es que o Brasil continua sendo o País que mais mata travestis e transexuais no mundo!“, lamentou a associação por meio de nota divulgada na manhã deste domingo, 29.

Além disso, a Associação também repudiou a “transfobia dos meios de comunicação” ao lidarem com corpos transexuais. Para ela, a atitude de alguns veículos, ao colocarem a vítima como ‘homem’ e tratá-la no masculino, reforça e demonstra que “os corpos de travestis e transexuais são duplamente mortos, física e simbolicamente“.

PUBLICIDADE

“A sociedade civil organizada repudia toda forma de discriminação e chama atenção para a insegurança vivenciada pelas pessoas trans, cotidianamente, e a transfobia dos meios de comunicação”, repreende o texto que encerra com pedido de justiça e de celeridade nas investigações.

Nota publicada neste domingo, 29, pela Assotram (Reprodução/Assotram)

Sobre o caso

De acordo com a perícia, o corpo da mulher trans de, aproximadamente, 44 anos, ainda sem identificação, apresentava escoriações ao longo do tronco, indicações de que a vítima tenha sido arrastada até as margens do igarapé.

Além das marcas no corpo, a mulher não identificada teve afundamento no crânio, por conta de possíveis pedradas que teria recebido, deixando no local diversos trechos com marcas de sangue. No relatório do Instituto Médico Legal (IML) a causa da morte consta como asfixia mecânica, afogamento e agressão física.

(Foto: Reprodução)

Mortes violentas

Neste mês de maio, o “Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTQIA+ no Brasil” aponta que, somente em 2021, 316 pessoas LGBTQIA+ foram mortas de forma violenta no Brasil. Segundo a análise, a taxa de mortalidade teve um aumento de 33,33%, no ano passado, se comparada ao ano de 2020, quando o total de mortes LGBTQIA+ registrado pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA+ foi de 237.

Conforme o relatório, a cada 27 horas, um LGBTQIA+ foi assassinado, no Brasil, em 2021. A publicação também informa um percentual que identifica os variados tipos de violência contra a população LGBTQIA+. No quesito homicídios, os 262 casos registrados representam 82,91% do total; já no que refere aos latrocínios, os 23 casos correspondem a 7,28% do registrado. Caso unidos, homicídios e latrocínios somam 90,19% das mortes violentas.

No Amazonas, em 2022, pelo menos cinco crimes contra pessoas LGBTQIA+ foram registrados. De acordo com o Mapa da Violência, produzido pelo Observatório Trans, dois homicídios foram registrados em Manaus e uma tentativa foi registrada em Iranduba, zona metropolitana da capital. Os outros dois homicídios aconteceram no Pará e um em Roraima, em 2022.

O dossiê também ressalta outros dados, como 91 óbitos por esfaqueamento e 83 mortes por armas de fogo, além de suicídios cometidos por travestis e mulheres trans e gays, reforçando os impactos negativos, diretamente, na saúde mental das vítimas, por conta da discriminação contra a comunidade LGBTQIA+. Os 26 casos correspondem a 8,23% das mortes.

Conforme os dados do levantamento, 30,38% das vítimas têm entre 20 e 29 anos, 112 vítimas são pretas e pardas e 127 brancas. Pouco mais de 48% dos óbitos aconteceram no período noturno, ou seja, 152 casos. Por orientação sexual, foram 145 gays, 141 travestis e mulheres trans, 13 lésbicas, 8 homens trans e pessoas transmasculinas, 3 bissexuais, 3 outros segmentos não definidos e 4 não informados que tiveram as vidas interrompidas.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.