Países da Otan põem tropas de prontidão e planejam deslocar forças para perto da Rússia

Estados Unidos, França e Espanha, entre outros, planejam reforçar aliados do Leste Europeu; anúncio é visto como tentativa da aliança militar ocidental de retomar iniciativa diante de pressões do Kremlin (TYLER HICKS / NYT)

Com informações do InfoGlobo

BRUXELAS E MOSCOU — A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, anunciou nesta segunda-feira, 24, que alguns de seus países-membros estão colocando suas forças de prontidão e reforçando as nações aliadas do Leste europeu, próximo às fronteiras russas, com o envio de mais navios e caças-bombardeiros.

O Kremlin reagiu afirmando que as ações militares intensificam as tensões em relação à Ucrânia e classificou o comportamento das potências ocidentais como “uma histeria repleta de mentiras”. O anúncio da Otan é visto como uma tentativa de demonstrar união entre seus membros, retomar a iniciativa e impedir que Moscou continue a ditar o ritmo dos acontecimentos na crise que tem o território ucraniano como epicentro.

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O anúncio de deslocamentos de forças da Otan ocorre quando os países da aliança expressam temores crescentes de uma potencial intervenção militar russa na Ucrânia, depois que Moscou concentrou cerca de 100 mil soldados perto de sua fronteira com a ex-república soviética, no final de 2021.

Militares e equipamentos russos também estão chegando à vizinha Bielorrússia para exercícios planejados para o próximo mês, e os EUA e outros países da Otan acusam o Kremlin de pretender usar os exercícios para intimidar seus países-membros na fronteira ocidental da Bielorrússia, como a Polônia e os países bálticos.

Em comunicado, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a “Otan continuará a tomar todas as medidas necessárias para proteger e defender todos os aliados, inclusive reforçando a parte oriental da aliança”.

“Consideramos aumentar nosso presença na parte oriental da aliança, incluindo com o envio de unidades de combate adicionais”, disse Stoltenberg depois a repórteres.

O comunicado informou que Dinamarca, Espanha, França e Holanda estão planejando ou considerando enviar tropas, aviões ou navios para a Europa do Leste. A Ucrânia compartilha fronteiras com quatro países da Otan: Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia.

O New York Times noticiou que os EUA também podem ser um dos países a realizar a transferência de tropas para a Europa Oriental. Segundo o jornal, entre mil e 5 mil militares americanos já posicionados na Europa e poderiam ser deslocados para países aliados no Báltico e no Leste Europeu.

Não houve nenhuma indicação no comunicado da Otan de que os militares deslocados seriam usados para apoiar a Ucrânia, que não é da Otan, em caso de invasão russa. Autoridades dos países da aliança deixaram claro que as forças da Otan não atuariam militarmente contra a Rússia, e o presidente americano Joe Biden disse que o mesmo vale para os Estados Unidos.

Nesta segunda-feira, 24, o Reino Unido seguiu passos dados por Washington na véspera e disse que está retirando alguns funcionários e dependentes de sua embaixada em Kiev em resposta a “uma ameaça crescente da Rússia”. A embaixada americana em Kiev anunciou no domingo, 23, a retirada de todos os parentes de diplomatas da Ucrânia, porque uma “ação militar da Rússia pode acontecer a qualquer momento”.

Reação de Moscou

Em seu conjunto, as ações vão na direção contrária à sinalizada após a reunião na sexta-feira, 21, em Genebra entre os chefes das diplomacias americana e russa, Antony Blinken e Sergei Lavrov, quando indicaram que ainda havia a possibilidade de uma saída diplomática para a crise.

A Rússia nega planejar invadir a Ucrânia, mas tem usado sua concentração de tropas na fronteira ucraniana para forçar o Ocidente a negociar demandas que redesenhem o mapa de segurança da Europa.

O Kremlin exige que a Otan descarte a promessa de deixar a Ucrânia se juntar à aliança um dia e que retire tropas e armamentos de ex-países comunistas da Europa Oriental que se juntaram à organização após a Guerra Fria.

A Rússia aguarda uma resposta por escrito às suas demandas nesta semana, depois das negociações na sexta-feira, 21, — a quarta rodada deste mês — entre Lavrov e Blinken.

Moscou, por meio do porta-voz do Kremlin, disse que, ao indicar que deslocará forças, a Otan demonstrava “histeria”, baseando-se em informações “repletas de mentiras”. Ele se referiu à resposta dos países da Otan como uma evidência de ameaças vindas da aliança militar ocidental e da Ucrânia.

“Vemos declarações da Aliança do Atlântico Norte sobre reforços, sobre deslocar forças e recursos para o flanco Leste. Tudo isso faz com que as tensões cresçam”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Isso não acontece por causa do que nós, a Rússia, fazemos. Tudo isso acontece por causa do que a Otan e os EUA estão fazendo e devido às informações que espalham.”

União Europeia dividida

Em Bruxelas, após uma reunião nesta segunda-feira, 24, dos 27 chanceleres dos seus países-membros, a União Europeia reafirmou que Moscou enfrentará consequências “enormes” se atacar seu vizinho. O comunicado diz que o bloco “condena as contínuas ações agressivas e ameaças da Rússia contra a Ucrânia e pede à Rússia que reduza o acirramento das tensões.”

“Noções de ‘esfera de influência’ não têm lugar no século 21”, diz a declaração. “Qualquer nova agressão militar da Rússia à Ucrânia terá enormes consequências e custos severos”, disseram em comunicado, sem dar detalhes das “consequências”.

A Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, propôs um pacote de ajuda financeira de 1,2 bilhão de euros para a Ucrânia, mas há diferenças entre os Estados-membros da UE sobre o quão duro o bloco deve ser com a Rússia.

O ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, sugeriu que a Rússia quer “dividir o Ocidente” e que a UE não pode se dar ao luxo de estar dividida. Já a Dinamarca disse que a UE está pronta para impor sanções econômicas “nunca vistas antes” à Rússia.

Por outro lado, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, instou a Europa e os EUA a pensarem com cuidado enquanto consideram as sanções. O ministro das Relações Exteriores da Áustria, Alexander Schallenberg, sublinhou a forte dependência da UE do gás russo.

Um dos pontos em questão é o Nord Stream 2, o segundo gasoduto que liga os campos russos diretamente ao território alemão pelo Báltico. A obra ficou pronta no ano passado, mas Berlim já indicou que a autorização para a operação pode depender de uma redução da tensão na Ucrânia.

A UE tem sido em vasta medida posta de lado nas negociações entre Rússia e EUA, mas nesta segunda-feira, 24, os ministros das Relações Exteriores do bloco começaram negociações com Blinken por videoconferência.

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