Políticas públicas voltadas a atletas paralímpicos

Durante os dias 24 de agosto a 5 de setembro de 2021, pudemos acompanhar a jornada de nossos atletas paralímpicos em busca do lugar mais alto do pódio. A edição 2020, que se cogitou o cancelamento por conta da pandemia, foi adiado para a segurança dos atletas e colaboradores. Ambientada em Tóquio, a força e a determinação de nossos heróis olímpicos trouxeram resultados positivos.

Com 72 medalhas conquistadas, sendo 22 de ouro, 20 de prata e 30 de bronze, a delegação brasileira finalizou a paralimpíada em sétimo lugar. O País vibrou por cada vitória e encorajou os demais atletas que não ganharam a não desistir de seus sonhos, pois melhores oportunidades virão.

Ficamos felizes com o desempenho de nossos representantes quando assistimos aos jogos pela televisão, mas o que não sabemos é o que essas pessoas passam para se preparar para a disputa. No início desta semana, a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) solicitou uma sessão especial para homenagear esses atletas e também para cobrar aos demais profissionais, mais políticas públicas voltadas às pessoas com deficiências.

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A importância social de cada paratleta que se colocou à disposição de disputar uma medalha chega a níveis que jamais conseguiremos imaginar. Imagina para uma criança, por exemplo, ver uma pessoa que também possui limitações consiga chegar ao mais alto topo do pódio. A sensação de reconhecimento é para poucos, mas, com certeza, aumenta a confiança de quem se sente excluído da sociedade.

Durante a sessão no senado, a parlamentar Leila reforçou o sentimento de gratidão pelo esforço individual e em grupo dos atletas, que mesmo com a pandemia, treinaram cada um a sua maneira. ‘’Nem esses desafios adicionais desestimularam ou diminuíram a garra e a vontade da nossa delegação. O resultado é que vocês nos emocionaram, fazendo ecoar em Tóquio o Hino Nacional, ou quando se abraçaram com a nossa linda bandeira para celebrar, como se esse abraço fosse em cada um de nós’’, destacou Barros.

Ainda que existam programas de apoio ao atleta, não é possível suprir totalmente a necessidade quem estará disputando. O Bolsa Atleta, por exemplo, mesmo financiando 94% dos competidores que estavam em Tóquio, precisa de mais investimento financeiro para prestar o suporte essencial. No Amazonas, o Governo do Estado disponibilizou por meio do Auxílio Estadual ao Esporte, uma bolsa para os esportistas que foram afetados pela pandemia. O valor não é capaz de dar assistência a todos os que precisam, mas já é um tipo de apoio.

O incentivo deve vir de órgãos regulamentadores, já que são capazes de criar e destinar leis destinadas a essa parcela da sociedade. O presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado também acredita que precisamos de mobilização não apenas quando o esporte está em evidência. ‘’O esporte amador, salvo raríssimas exceções, é financiado por recursos de origem pública. No Brasil, isso talvez seja ainda mais acentuado que na maioria dos países, pelo menos daqueles que integram o top dez do mundo. E o Parlamento brasileiro tem uma grande responsabilidade’’, pontuou Conrado.

Tendo 260 atletas (incluindo atletas sem deficiência como guias, calheiros, goleiros e timoneiro) na delegação, o time Brasil conseguiu um bom lugar no quadro de medalhas, mas poderíamos ter ido mais longe, sabemos disso. A falta de visibilidade da mídia também dificulta um pouco as coisas; tirando algumas exceções, quase não conhecemos quem está representando nosso País.

É a partir desse momento que sentimos que precisamos apoiar de forma concreta todos os atletas que disputam os jogos. Ninguém se prepara dias antes, o treino é diário e acontecem a anos. Se tivermos apoio por meio de políticas públicas, haveriam mais atletas prontos para a competição.

A mobilização pode começar de forma simples, desde um patrocínio ao atleta de sua cidade até o reconhecimento do poder público. É triste saber que ainda 75% dos municípios brasileiros não possuem políticas esportivas voltadas aos paratletas. José Agtônio Guedes Dantas, secretário nacional do Paradesporto do Ministério da Cidadania, complementa que é preciso mudar esse quadro para avançarmos na categoria. ‘’Nós precisamos transferir essas responsabilidades, sensibilizar o gestor público, por meio de cursos de capacitação, para que eles possam estimular dentro da sua estrutura, a criação de projetos’’, afirma o secretário.

Aplausos são bons, mas precisamos de medidas concretas para continuar dando suporte a essas pessoas. Não é fácil, de forma alguma, treinar por horas e conseguir chegar ao primeiro lugar na primeira chance. Discussões como essa, que ocorreu no senado, nos levam a refletir o que pode ser feito a esses heróis que se doam de corpo e alma ao esporte, pois acreditam que possam fazer cada vez mais. Nossa forma de retribuir seria devolver o esforço de cada um através do incentivo público, por meio de leis que assegurem seus sonhos, rumo ao primeiro lugar.

(*) O autor é diretor-presidente do Sistema Previdenciário do Amazonas (Amazonprev) e professor na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), tem Doutorado em Administração Pública, é graduado em Administração de Empresas e em Direito.

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