Profissionais LGBTQIAPN+ movimentam economia criativa no AM

Estudo aponta que o Amazonas tem 185 profissionais LGBTQIAPN+ que movimentam a economia criativa (Arte: Mateus Moura/Revista Cenarium)
Luciana Santos e Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Um pesquisa sobre trabalhadores LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais, Não binários e outras identidades, incluídas em “+”) verificou que ao menos 185 profissionais atuam na economia criativa do Amazonas. O estudo foi realizado pelo DJ e produtor cultural Ravi Carvalho Veiga e apresentado como requisito para obtenção do título de especialista em Gestão e Produção Cultural pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA)

“Economia criativa” é um termo usado para classificar modelos de negócio ou gestão originados em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual, que visam a geração de trabalho e renda. A modalidade foca no potencial individual ou coletivo da produção de bens e serviços criativos, além de ter como princípios: diversidade cultural, sustentabilidade, inovação e inclusão social.

Dentre os diferentes profissionais mapeados pela pesquisa estão DJs, compositores, produtores musicais, produtores culturais, cantores, designers de moda, designers gráficos, fotógrafos, ilustradores, atores, atrizes, bailarinos e voguers – artistas que encenam um estilo de dança moderna estilizada e caracterizada por posições típicas de modelos com movimentos corporais definidos por linhas e poses.

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Trio de empreendedoras de camisas criativas na 1ª Feira de Oportunidades LGBTI+ em Manaus (Marcely Gomes/Semasc)

“Em meio à falta de políticas públicas voltadas à segurança, saúde, educação, cultura e empregabilidade, realizar este mapeamento com foco em profissionais criativos LGBTQIAPN+, desenvolvendo a economia criativa, é dar mais um passo para a história dessa comunidade no Estado do Amazonas. Sem estatísticas, dados, não podemos comprovar nossa existência perante o governo e a prefeitura”, ressalta o pesquisador Ravi Carvalho Veiga no estudo.

Da necessidade à oportunidade de negócio

Entre os profissionais que movimentam a economia criativa no Amazonas está a travesti manauara Louise Costa, 30. Ela é proprietária da marca Louise Pantie, uma confecção de roupas íntimas, biquínis e outras peças de vestuário voltadas para mulheres trans e travestis.

De acordo com a empreendedora, o carro-chefe das vendas são as calcinhas de acuendar – palavra do repertório vocabular LGBTQIAPN+ que consiste em esconder o órgão sexual masculino, cujo tamanho é maior é na região frontal devido à anatomia do corpo.

“Existem outras marcas por outros estados do Brasil, mas poucas são comandadas por travestis. Eu identifiquei que em Manaus não tinha esse tipo de fabricação. Eu, como consumidora, tinha que recorrer à internet, pagando mais caro, esperando mais tempo para chegar ou até mesmo recorrendo a outras gambiarras e, até mesmo a calcinhas tradicionais, feitas para mulheres cis”, explicou Louise à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA.

Calcinhas de acuendar da marca Louise Pantie (Divulgação)

Enquanto Louise administra os pedidos da marca, faz a divulgação e controla o estoque das confecções, a mãe dela é quem costura as peça íntimas. Elas começaram com o negócio na pandemia e, atualmente, enviam pedidos para outros municípios e estados.

“A gente trabalha completamente pela internet como uma marca on-line. Eu uso as redes sociais, o WhatsApp e também vendo pela Shopee. Recebo muitas clientes vindas do TikTok. Tento me virar ao máximo para buscar caminhos para conseguir mais clientes e mais reconhecimento. Hoje, a minha renda é completamente do meu negócio”, disse Louise.

Indústria criativa em números

Entre 2017 e 2020, o Amazonas teve destaque na indústria criativa da Região Norte e figurou como matriz de produção criativa regional. É o que mostrou o mapeamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e divulgado em 2022.

Só em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) das empresas criativas do Estado correspondeu a R$ 1,7 bilhão, o que representou 0,79% de toda a produção criativa nacional. No mesmo ano, a economia amazonense no PIB nacional foi de 1,26%.

Feira de vendas LGBTQIAPN+ (Divulgação/APOGLBT)

Em relação ao PIB estadual, a indústria criativa do amazonas correspondeu por 1,83% de todos os bens e
serviços produzidos no Estado. Em 2017, o percentual era maior, 1,95%, porém ainda abaixo da participação média do PIB criativo no PIB brasileiro, percentual que, em 2020, foi de 2,91%.

Informalidade subnotificada

O pesquisador Ravi Carvalho Veiga ressalta que os dados da Firjan não incluem o levantamento sobre identidade de gênero e orientação sexual, porém de modo informal, o estudo elaborado por ele considera que podem existir profissionais criativos LGBTQIAPN+ entre os números, além de defender que empreendedores da economia criativa não deixam de ser profissionais pela falta Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ).

“A Firjan, neste mapeamento, só considerou os profissionais que possuem CNPJ, quem é formalizado, então aí está a importância de ser formalizado para sair no mapeamento de grandes empresas. Entretanto, uma pessoa não precisa ter um CNPJ para ser chamada de profissional criativo. Claro que a formalização é muito importante, mas aqueles que ainda estão na informalidade não deixam de ser profissionais”, destacou o pesquisador.

O pesquisador Ravi Carvalo Veiga e o economista Inaldo Seixas (Reprodução/Redes Sociais/Arquivo Pessoal)

O economista Inaldo Seixas pontua que a informalidade reflete na contagem dessa população no ramo da economia criativa. Ele ressalta, ainda, que a situação acontece com mais frequência na área cultural, como profissionais da música e dança, além de trabalhadores do ramo da confecção e costura artística, como artistas de boi-bumbá, cuja manifestação folclórica é típica do Amazonas.

“Pode ser que o registro não desses profissionais não apareça em algum levantamento de dados. Porém, com certeza a capacidade de consumo desses segmentos, além da demanda econômica, certamente faz circular a economia, pois os profissionais têm capacidade de renda, ainda que sejam invisibilizados”, disse à CENARIUM.

Leia também: Representatividade: empreendedores investem em lojas voltadas para público LGBTQIAP+ em Manaus

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