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Quadro de orixás retirado no Governo Bolsonaro voltará a ser exposto no Planalto, diz Janja
'Orixás', de Djanira da Motta e Silva, foi retirado do Salão Nobre do Palácio do Planalto durante Governo Bolsonaro (Divulgação)
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05 de janeiro de 2023
Da Revista Cenarium
MANAUS – O quadro da pintora brasileira Djanira da Motta e Silva (1914-1979), que retrata a pintura de Orixás, voltará a ser exibido no Salão Nobre do Palácio do Planalto, de acordo com a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. A imagem retrata três divindades africanas e foi retirada do local pela equipe do ex-presidente Jair Bolsonaro. A informação do retorno da imagem foi comunicada pela equipe da ministra da Cultura, Margareth Menezes.
Segundo a primeira-dama, a pintura foi avariada. “Havia um furo feito de caneta na tela. Mas, vai voltar ao local que pertence, o Palácio do Planalto. Vai estar numa exposição, agora em janeiro, mas vai voltar. Aliás, faremos todo o trabalho de recomposição do acervo. Vamos tratar isso com muito carinho”, explicou Janja.
A pintura ficava no Salão Nobre, que quase não tem mobília, e é usado para eventos como a posses dos ministros e recepções a chefes de Estado. A obra dos anos 1960 foi posta na reserva técnica do acervo e saiu da exposição pública nos anos Bolsonaro. As circunstâncias sobre por que “Orixás” foi retirada do local ainda não são totalmente conhecidas.
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O quadro mede 3,61 metros de largura por 1,12 metro de altura e foi pintado por Djanira, em 1966, com valor estimado, atualmente, entre R$ 1 milhão e R$ 4 milhões. O quadro retrata três orixás: Iansã (guerreira), Oxum (fartura, maternidade e beleza) e Nanã (sabedoria). Ao lado das divindades, há duas filhas de santo que ajudam nas cerimônias.
Retirada
No final de 2018, uma reportagem do jornal Folha de São Paulo mostrou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que é evangélica, mandou retirar obras de arte e imagens com simbologia católica do Palácio da Alvorada, onde o casal foi morar.
A retirada da pintura que retrata as divindades africanas aconteceu em dezembro de 2019 e foi revelada pela revista Piauí, em reportagem publicada em agosto do ano seguinte. Na época, a Secretaria-Geral da Presidência negou que o motivo da retirada tivesse sido religioso.
A previsão era que “Orixás”, por sua vez, “escondido”, durante o governo militar de Ernesto Geisel (1974-1979), que era luterano, fosse retirado e cedido ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) para uma exposição, viajando pelo País, posteriormente, o que não ocorreu.
À Piauí, a secretaria da Presidência alegou que a retirada da obra foi um “procedimento usual que visa o descanso e o rodízio das peças de arte, como medida de conservação preventiva, conforme as boas práticas da museologia”.
‘Absurdo’
Ao portal de notícias UOL, em agosto de 2020, o arquiteto Rogério Carvalho descreveu como “absurda” a explicação sobre o rodízio e disse que um palácio de governo não é um “museu”. Carvalho foi curador da Comissão de Curadoria para as obras de arte, a arte decorativa e o mobiliário do Palácio da Alvorada e do Palácio do Planalto, em 2009, durante o segundo mandato de Lula, e servidor por 13 anos no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Distrito Federal.
Foi dele e de sua equipe a decisão de exibir “Orixás” no Salão Nobre, a partir de 2010, após ampla reforma do Palácio do Planalto, entre 2009 e 2010, durante o segundo mandato do presidente Lula. Antes, a obra já estava exposta no local, mas no terceiro andar.
À Piauí, Nelson Fernando Inocêncio da Silva, professor de artes visuais da Universidade de Brasília (UnB), doutor em artes e membro do núcleo de estudos afrobrasileiros da universidade, considerou a retirada do quadro um exemplo de “intolerância e abuso de poder”.
“O espaço é público, não é privado. O Planalto tem um acervo que representa a sociedade brasileira. Você tirar uma obra daquela por não estar em conformidade com sua crença é violento. Se a cultura é diversificada, o quadro está ali representando um pouco dessa diversidade”, disse ele à revista.
Cristã
Djanira da Motta e Silva era cristã e ingressou na ordem das carmelitas, a Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro, segundo contou à Piauí o escritor e jornalista Gesiel Júnior, que escreveu uma biografia sobre a pintora.
O aspecto religioso está presente desde seu primeiro desenho, um Cristo (1939). Figura importante do modernismo brasileiro, ela foi, além de pintora, desenhista, cartazista e gravadora. Nascida em Avaré, no interior de São Paulo, Djanira cresceu em Porto União, Santa Catarina, antes de mudar para São Paulo, em 1932.
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